Mangás e suas adaptações para televisão, os Animes, estão entre os principais fenômenos culturais do Japão, se calcula que apenas em um ano, os mangás e derivados tenham arrecadado cerca de 4,7 trilhões de ienes, o mesmo que 30 bilhões de dólares apenas no exterior. O sucesso deles é tão grande que em alguns países ocidentais eles vendem até mais exemplares do que quadrinhos nativos, mostrando o quão bem aceitos foram pela juventude. A estética dos mangás acabou sendo emulada por produtores ocidentais tentando conseguir parte dos lucros, como a série de animação Avatar da Nickelodeon.

Mangás são tão lucrativos que alguns crêem serem capazes de impulsionar o crescimento econômico do Japão no futuro. Obviamente tal nicho de entretenimento não é algo criado do dia para a noite, mesmo que sejam conhecidos a pouco tempo no ocidente uma longa tradição de desenhar histórias em quadrinhos existe no Japão à vários séculos.

Já no século 8 depois de cristo existiam no Japão rolos de pinturas com texto que formavam uma história fechada, eram chamados de emakimono. Originalmente eram cópias de trabalhos chineses, mas com o tempo começaram a aparecer obras autenticamente japonesas. No século 18 existiam os chamados kibyoshis, livros com ilustrações similares a quadrinhos. Os mangás verdadeiros surgiram durante o século 19, uma das influências foi o cartunista britânico Charles Wirgman que trouxe técnicas ocidentais para o Japão criando desenhos com balões de diálogo. Graças a inspiração de Wirgman, dois artistas japoneses decidiram criar a primeira revista de mangás, esses homens eram Kanagaki Robun & Kawanabe Kyosai e sua publicação era a Eshinbun Nipponchi, que infelizmente fracassou devido seu traço muito simples nos desenhos.

No final do século 19 foi criada a primeira revista de mangás para adolescentes, a Shōnen Sekai, por Iwaya Sazanami, um autor de histórias infantis. Durante todo esse período do final do século 19 ao começo do 20, uma grande influência ocidental foi sentida na arte japonesa. A obra Tagosaku to Mokube no Tokyo Kenbutsu é considerada o primeiro mangá verdadeiro. O criador da obra foi Rakuten Kitazawa, de enorme importância para a indústria, não apenas porque sua obra que inaugurou o formato, mas também por ter criado a Shoujo Sekai, a primeira revista de mangás destinada a meninas. Kitazawa depois criaria a Shonen Pakku voltada para crianças pequenas. O mercado de mangás começou a ganhar seus contornos característicos que existem até os dias de hoje. Isso ainda na primeira década do século 20.

Durante a segunda guerra mundial, as revistas foram usadas em grande parte para propaganda política tentando manter o espírito patriótico entre os jovens. Poucas histórias de mangás eram realmente publicadas, mas dentre as histórias lançadas durante o conflito a maior parte girava ao redor de temas nacionalistas como histórias sobre samurais, os heróis ícones do Japão. Algumas histórias mostravam robôs de alta tecnologia lutando na guerra, de modo similar aos super-heróis americanos que lutavam contra os nazistas em seus quadrinhos.

Logo após o fim da segunda guerra, o Japão foi ocupado pelo exército americano, tendo o general Douglas MacArthur como seu governante. O país foi inundado pela cultura ocidental que marcou profundamente a expressão artística do Japão pelas próximas décadas. A combinação da tradicional forma de pensar oriental herdada do confucionismo, budismo e xintoismo se combinava com a cultura de massa consumista do ocidente. Gerando a mentalidade japonesa moderna. No período imediatamente após a guerra, os americanos buscavam acalmar o espírito beligerante da nação conquistada, por isso mangás de guerras, combates, lutas ou competições foram proibidos para evitar seu uso como propaganda revanchista.

O grande artista que ajudou a moldar a indústria foi Osamu Tezuka cujo trabalho influenciou todos os mangakás (criadores de mangá) posteriores. Osamu Tezuka incorporou grande influência dos desenhos de Walt Disney em seu trabalho, criando personagens com olhos grandes e expressivos, o que se tornaria um traço marcante dentro da estética. Tezuka criou obras como Buddha, Kimba, o leão branco e A princesa e o cavaleiro. Mas seu trabalho Astro Boy talvez tenha sido o mais marcante, pois Tezuka decidiu criar uma adaptação animada para os quadrinhos. Assim nasceu a tradição dentro da indústria japonesa de converter mangás para criar Animes.

Nem todos os artistas do mangá tinham o mesmo estilo fantasioso e juvenil das obras mais famosas de Osamu Tezuka, alguns queriam criar trabalhos mais realistas, densos e sombrios, assim surgiu o movimento Gekiga que buscava criar obras mais adultas e politizadas. O Gekiga foi uma forma de arte atrelada aos movimentos políticos de esquerda dos anos 1950 e 1960. Com o tempo o elemento político foi diminuindo dentro do gekiga, os artistas trocaram o ativismo pela experimentação, buscando criar obras mais criativas e originais para públicos adultos. Assim surgiu o chamado mangá seinen.

Durante os anos 1980, o mangá começou a passar por um amadurecimento, surgiram os famosos mangás focados em ação e lutas que logo se tornaram o subgênero mais popular, um dos precursores do estilo foi Fist of the North Star com uma história inspirada em Bruce Lee. Mas foi com o megasucesso internacional de Dragon Ball que a popularidade do gênero disparou no mundo todo, uma enxurrada de outras animações focadas em batalhas sobrehumanas vieram como Cavaleiros do Zodiacos, Yu Yu Hakusho, Yu Gi-Oh e Shaman King, nas décadas seguintes continuaram aparecendo novos animes de luta como One Piece, Naruto e os animes da nova geração como My Hero Academy e Black Clover.

Geralmente os Mangás são publicados em revistas semanais ou mensais especializadas. Estas revistas costumam conter capítulos novos de várias histórias diferentes e os leitores as compram para acompanhar as novidades. No Japão existem várias revistas especializadas em publicar mangás como Shonen Gangan, Big Comic Original e Weekly Shōnen Magazine, geralmente com centenas de páginas por edição, as maiores podem chegar até 600 páginas. A revista de maior sucesso dentro do mercado japonês é a Weekly Shonen Jump, onde foram publicados grande parte dos maiores sucessos do mercado como Naruto, One Piece, Dragon Ball e Yu Yu Hakusho. A Jump sempre contou com uma linha narrativa focada em histórias com heróis determinados que envolvem muita superação, determinação e amizade, o que fez ser muito popular entre o público jovem.

Caso uma história faça bastante sucesso, seus capítulos já lançados serão compilados juntos em um volume para colecionar chamado tankobon. Após a publicação do mangá em formato tankobon novas edições mais elaboradas e caras serão eventualmente lançadas até chegar nas chamadas edições definitivas com grande polimento e valor para colecionadores. Eventualmente o mangá ganhará uma adaptação para Anime e depois games, filmes animados, brinquedos e mesmo live-actions.

O dinheiro recebido pelas empresas e artistas pelas adaptações, pode às vezes até mesmo superar o dinheiro conseguido pela publicação original da obra, o que torna todo o processo altamente lucrativo. Mangás bem-sucedidos podem mesmo ganhar continuações ou seus animes podem conseguir remakes e sequências para o mercado de vídeo. Algumas franquias publicadas originalmente nos anos 1980 e 1990 continuam recebendo sequências atualmente, como Dragon Ball, Cavaleiros dos Zodíacos e Naruto.

Muitos mangás/animes se tornam verdadeiras minas de ouro como no clássico Yu Gi-Oh, que começou com uma história menor, mas quando a narrativa começou a abordar um jogo de cartas em que jogadores tinham que criar estratégias para vencer os adversários, os empresários viram uma oportunidade de ganhar muito dinheiro. Um jogo real foi criado usando os animes e mangás como inspiração, se formaram torneios de cartas no mundo real, tendo jogadores competindo de modo obstinado, além de videogames onde os fãs podem jogar de forma virtual. O sucesso da franquia foi tão amplo que mais de 1200 episódios foram lançados para o anime.

Outro grande sucesso do mundo dos Animes foi Pokémon em que jovens podiam capturar e treinar criaturas com superpoderes para batalhas. Criado para fazer propaganda de um jogo de RPG para o videogame de bolso da Nintendo, o Game Boy, logo se tornou uma febre entre uma geração inteira, com todas as crianças comprando os aparelhos para brincar de serem treinadores pokémons e ainda hoje faz muito dinheiro tendo uma franquia longa com muitos produtos diferentes sendo lançados. 24 longas metragens animados e quase 1300 episódios do desenho foram desenvolvidos, além de várias adaptações para mangás. Com a excelente recepção de pokémon, começaram a surgir imitadores, o mais bem-sucedido foi o Digimon que trazia um mundo de criaturas fantásticas virtuais lutando dentro dos computadores.

Os mangás são divididos pela demografia do seu público-alvo, existem os Kodomo feitos para crianças pequenas, os shonen o gênero mais popular destinados para jovens meninos adolescentes e que são cheios de ação e histórias de amizade. O equivalente para meninas são os Shoujo que trazem narrativas românticas centradas em jovens garotas descobrindo o amor. Para o público mais velho está disponível o Seinen, com histórias sombrias e cheias de violência, assim como o Josei voltado para mulheres adultas.

Enquanto os Shonen e Shoujo têm tramas idealistas cheias de sentimentos e otimismo focando em heróis destemidos e íntegros, os Seinen possuem um tom cínico muitas vezes tendo um vilão como protagonistas e quebrando estereótipos das histórias tradicionais para o público mais jovem. Entre as histórias tradicionais do formato Shoujo se encontram clássicos como Sailor Moon e Sakura Card Captor. Já entre os Seinen estão obras sombrias como Berserk, Bastard e Helsing.

Super-heróis tradicionais como Homem-Aranha tiveram adaptações para o mercado de mangás com uma versão do herói da Marvel sendo publicada nos anos 1970. Mas o gênero de super heróis nunca fez muito sucesso dentro do mercado oriental. Com os jovens japoneses preferindo os heróis shonen característicos. Apesar disso alguns super-heróis de estilo similar, mas com elementos da cultura oriental também foram criados como Ogon Batto. Que possui poderes similares aos do Superman e fica fraco quando desidratado.

O mercado de mangás e animes ainda tem muito potencial para crescer com as próximas gerações, o interesse por ele parece longe de acabar e as obras ficam cada vez mais complexas e populares, com seus fãs ocidentais sempre pedindo novos lançamentos. Um universo vasto de obras excêntricas, mas originais, emocionantes e criativas está disponível para aqueles que querem conhecer a arte de uma cultura diferente.