Na fotografia da capa, datada de 1899, vemos um grupo de homens sobre o toco colossal de uma árvore derrubada na Serra Nevada, nos Estados Unidos. Não era uma árvore qualquer. Era, com toda probabilidade, uma sequoia gigante — uma das maiores, mais antigas e mais resilientes formas de vida já conhecidas no planeta Terra.

Mais de um século depois, a imagem ressurge como um assombro. Não apenas por sua escala, mas pelo que ela revela: a arrogância humana diante da natureza milenar. Aqueles homens, no topo do tronco, celebravam um suposto progresso. Não viam um crime. Viam uma conquista. A indústria exigia espaço, as ferrovias precisavam avançar, o “desenvolvimento” exigia sacrifícios. E foi assim que árvores com milhares de anos foram postas abaixo em questão de dias.

O que foi perdido ali não foi apenas madeira. Foi a história viva de um planeta. Foram toneladas de carbono liberadas, habitats inteiros destruídos, equilíbrio climático afetado, e — acima de tudo — o rompimento de uma aliança antiga entre o ser humano e o mundo natural.

Essas árvores gigantes não são apenas organismos: são monumentos vivos. Guardiãs silenciosas da Terra. Elas sustentam a vida, purificam o ar, retêm água no solo, abrigam espécies, armazenam sabedoria. Cada uma delas é um testemunho da paciência da natureza, da sua capacidade de curar, de manter o mundo respirando mesmo diante da indiferença humana.

Hoje, mais de 120 anos depois, voltamos a esse retrato antigo não como curiosidade, mas como advertência. Em 2025, o Brasil sediará a COP30, em Belém do Pará — coração da Amazônia — um evento de importância global, onde líderes mundiais se reunirão para discutir o futuro do planeta. E o que esses líderes tem para mostrar ao mundo?

  • Desmatamento crescente?

  • Florestas que continuam sendo queimadas por lucro?

  • Povos originários ameaçados?

  • Biomas destruídos por falta de fiscalização?

Ou vão mostrar que aprenderam com o passado e são capazes de proteger o que ainda resta? Que exemplo darão se continuarem assistindo, muitas vezes em silêncio, ao desmatamento criminoso, à invasão de terras indígenas, à grilagem, ao fogo transformando florestas inteira em cinzas?

A floresta amazônica não é um símbolo — é um sistema vivo. E não há mais espaço para discursos vazios, imbuídos de muita falácia e pouca ação, promessas sem fiscalização, planos sem urgência. A Terra já nos cobra em ondas de calor, secas prolongadas, enchentes catastróficas, espécies desaparecendo, pessoas migrando por causa do clima.

O Mundo precisa entender que não há mais tempo para discursos vazios, sem resultados.

E, o que estamos presenciando hoje, são resultados das nossas ações. A Terra só está respondendo:

  • Calor extremo.

  • Chuvas fora do ciclo.

  • Enchentes, secas, colapsos ambientais.

Em todos os continentes, o desequilíbrio climático se manifesta em catástrofes como o mundo vem presenciando a cada ano:

Europa, 2023

A onda de calor que atingiu a Europa em 2023 foi uma das mais devastadoras da história recente. O calor extremo provocou mais de 60.000 mortes em apenas alguns meses, afetando principalmente países do sul da Europa, como Espanha, Itália, Grécia e Portugal.

Em várias regiões, as temperaturas ultrapassaram os 40°C, e os sistemas de saúde ficaram sobrecarregados com o aumento de casos de desidratação, exaustão pelo calor e problemas cardíacos. A combinação de altas temperaturas e a seca prolongada também resultou em incêndios florestais incontroláveis, destruindo vastas áreas de vegetação e forçando milhares de pessoas a evacuarem suas casas.

Os incêndios afetaram principalmente países como a Grécia, onde as florestas e áreas habitadas foram devastadas, e a Itália, onde as chamas chegaram a atingir áreas turísticas populares, como a Sardenha e a Sicília. Em muitos lugares, as autoridades locais lutaram para conter o avanço das chamas, enquanto os bombeiros estavam sobrecarregados.

Paquistão, 2022

As inundações no Paquistão em 2022 foram uma das mais devastadoras da história recente do país, impactando cerca de um terço de sua área. O evento foi causado por chuvas torrenciais e monções que atingiram o país durante o verão de 2022. Essas chuvas, muito mais intensas do que a média habitual, submergiram vastas áreas de terra, provocando deslizamentos de terra, destruição de infraestrutura e a perda de dezenas de milhares de casas. Com as inundações mais de 33 milhões de pessoas foram impactadas, com milhares de mortes confirmadas e milhões deslocados. As províncias de Sindh e Baluchistão foram as mais atingidas, mas o desastre se espalhou por todo o país. O custo das inundações foi estimado em mais de 30 bilhões de dólares, com danos a infraestrutura vital, agricultura e recursos naturais.

O Paquistão é um país com uma economia fortemente dependente da agricultura, e muitos campos de arroz, trigo e algodão foram devastados. A perda de safras teve um impacto significativo nas economias locais e na segurança alimentar. Especialistas apontaram que eventos climáticos extremos, como as inundações no Paquistão, são um reflexo direto das mudanças climáticas globais. O aumento da temperatura global tem levado a padrões climáticos mais erráticos, com chuvas mais intensas e frequentes, agravando a vulnerabilidade de países como o Paquistão, que já enfrentam uma infraestrutura frágil e desafios econômicos.

Brasil, 2024

o Rio Grande do Sul enfrentou uma das piores tragédias ambientais da sua história, com chuvas torrenciais que causaram grandes inundações em diversas cidades. O evento resultou em mais de 150 mortes, com centenas de milhares de pessoas desalojadas, atingindo duramente a população e gerando um impacto profundo no estado. A chuva intensa durou vários dias, causando o transbordamento de rios e a destruição de infraestruturas essenciais, como estradas, pontes e sistemas de abastecimento de água. As cidades mais afetadas foram principalmente aquelas situadas nas regiões do Vale do Taquari e da Serra Gaúcha, que enfrentaram o colapso de seus serviços básicos e a perda de grandes áreas agrícolas.

Além do luto pelas vítimas, o evento gerou um grande debate sobre as questões ambientais e a falta de preparação para desastres naturais desse porte. Especialistas alertaram para a crescente incidência de fenômenos climáticos extremos devido às mudanças climáticas globais, que têm impactado cada vez mais a América Latina. Este evento se tornou um marco de reflexão sobre os desafios que o Brasil enfrenta em relação à adaptação a desastres ambientais cada vez mais frequentes e a necessidade urgente de políticas públicas voltadas para a prevenção e mitigação dos impactos das mudanças climáticas.

África, em vários pontos

A África tem sido gravemente afetada por mudanças climáticas nos últimos anos, e as secas extremas têm se tornado cada vez mais frequentes. Regiões que antes eram férteis, como o Sahel, uma faixa de terra que atravessa o continente de leste a oeste, enfrentam condições de desertificação severa. O fenômeno da desertificação é um processo em que a terra perde sua fertilidade, tornando-se incapaz de sustentar culturas agrícolas. Isso tem consequências devastadoras, incluindo fome, escassez de recursos hídricos e migração em massa. O Sahel, que inclui países como Mali, Níger, Burkina Faso e Chad, tem experimentado uma seca prolongada. As chuvas se tornaram cada vez mais erráticas, o que tem dificultado o cultivo agrícola e o sustento das populações locais. A falta de chuva tem levado à diminuição da produção agrícola, o que resultou em crises alimentares recorrentes.

A insegurança alimentar é uma realidade para milhões de pessoas na África Subsaariana, que dependem de uma agricultura vulnerável às mudanças climáticas. Quadro como este tem criado uma migração forçada na busca por melhores condições de vida tem levado muitas famílias a migrarem em direção a outras áreas mais férteis ou até mesmo para fora do continente, em uma tentativa desesperada de escapar da fome e da falta de oportunidades. A seca extrema e a perda de terras agrícolas têm desestabilizado economias locais, alimentando conflitos por recursos e agravando as tensões sociais. A combinação de mudanças climáticas e práticas inadequadas de uso da terra tem colocado a África em uma posição vulnerável, com graves consequências para as populações e ecossistemas. A resposta a esse fenômeno exige uma abordagem integrada que leve em conta a proteção ambiental, a segurança alimentar e a promoção da paz social.

América do Norte

As questões climáticas extremas, como furacões e incêndios florestais, têm se intensificado nas últimas décadas na América do Norte, gerando enormes danos humanos, materiais e ambientais. Com o aquecimento global, o número de furacões tem aumentado, especialmente durante a temporada, que vai de junho a novembro. Furacões como Katrina (2005) e Maria (2017) são exemplos de como esses fenômenos podem devastar grandes áreas. Os furacões podem causar danos à infraestrutura de milhões de dólares, além de afetar a vida de milhares de pessoas, que perdem casas, empregos e, em casos mais trágicos, vidas. A reconstrução de áreas afetadas pode custar bilhões de dólares, o que exige anos de recuperação.

A seca prolongada, altas temperaturas e práticas agrícolas mal geridas são algumas das causas que favorecem o surgimento de incêndios florestais. Além disso, o aumento da temperatura global e as mudanças climáticas estão ampliando a gravidade e a duração dessas queimadas. As províncias de Colúmbia Britânica, Ontário e Quebec no Canadá e estados como Califórnia, Oregon e Washington nos EUA enfrentam frequentemente grandes incêndios. Estes incêndios não só destroem vastas áreas de floresta, mas também afetam a qualidade do ar, colocando a saúde das populações em risco, além de destruir ecossistemas inteiros. Incêndios florestais estão destruindo habitats naturais de várias espécies animais e vegetais, muitas das quais podem entrar em risco de extinção.

Em algumas situações, comunidades inteiras precisam ser evacuadas, e milhares de pessoas se veem obrigadas a se deslocar para regiões seguras. Este tipo de deslocamento em massa pode gerar uma crise humanitária e econômica a longo prazo. Em 2023, o incêndio em Maui, no Havai, foi um dos mais devastadores, com mais de 100 mortos e centenas de desaparecidos. A reconstrução após esses eventos geralmente envolve bilhões de dólares, além de levar anos para restaurar a infraestrutura e os ecossistemas. O aumento das catástrofes naturais, como furacões e incêndios florestais, em grande parte impulsionado pelas mudanças climáticas, tem gerado um ciclo de destruição e reconstrução, com consequências econômicas e sociais profundas.

Austrália

Os incêndios florestais na Austrália em 2019-2020, conhecidos como Black Summer, foram um dos desastres ambientais mais devastadores da história recente do país. Eles ocorreram entre julho de 2019 e março de 2020 e queimaram aproximadamente 18,6 milhões de hectares de terra, o que corresponde a uma área maior que a de muitos países. Estima-se que mais de 3 bilhões de animais tenham sido afetados pelos incêndios, entre mortos, feridos ou deslocados. Esses números incluem uma grande variedade de espécies, desde marsupiais como coalas e cangurus até aves e répteis. Em particular, os coalas sofreram um grande golpe, com até 30% de sua população em áreas afetadas sendo dizimada.

Além disso, a perda de habitats e fontes de alimento tem causado danos de longo prazo às populações de várias espécies. Os incêndios também causaram danos irreparáveis às florestas e aos ecossistemas, afetando a biodiversidade e os ciclos naturais. A recuperação desses ecossistemas é um processo complexo, e muitas espécies podem nunca se recuperar completamente, especialmente aquelas que já estavam em perigo antes do desastre. Esses incêndios são frequentemente citados como uma consequência das mudanças climáticas, que estão tornando os períodos de calor extremo mais frequentes e severos na Austrália.

São algumas das evidências de que a natureza não envia recados: ela responde. E a resposta tem sido devastadora.

O custo econômico global da inação climática já ultrapassa trilhões de dólares por ano. Mas há algo mais valioso sendo perdido: vidas. Vidas humanas, animais, vegetais. Vidas invisíveis, empurradas à extinção pelo lucro e pela negligência.

A imagem de 1899 é um alerta, um espelho do que o mundo não pode aceitar que continue a se repetir.

O Brasil, Nação que sediará o COP30, com sua biodiversidade única, tem a oportunidade — e a responsabilidade — de ser guardião, e não somente mais um predador, do que resta.

Efetivamente, não se trata apenas de plantar árvores ou criar parques. Trata-se de mudar nossa lógica de mundo, abandonar a ilusão do progresso sem limite e reconhecer que não há economia viva em um planeta morto.

Podemos transformar essa imagem em símbolo de renascimento, se tivermos coragem o suficiente para fazê-lo. Mas, para isso, é necessário que cada cidadão, cada governante, cada empresa, entenda que: cuidar de uma árvore hoje é cuidar da vida amanhã. Proteger nossas florestas não é ideologia — é sobrevivência. E agir agora é o único caminho possível.

Estamos diante de um ponto sem retorno. Não podemos mais fingir que o problema está distante. Ele está no nosso quintal, no ar que respiramos, na água que bebemos.

Temos que ter a consciência que cada árvore importa.

Não há progresso onde a floresta morre. Não há futuro se a vida é destruída no presente. Não há economia saudável em um planeta doente.

Por isso, cada um deve fazer sua parte, protegendo as florestas que ainda existem, denunciando o desmatamento ilegal, cobrando ações efetivas dos governantes, apoiando os povos indígenas e comunidades tradicionais, plantar, recuperar e preservar árvores.

Cuidar de uma árvore é cuidar da vida, proteger a floresta é defender a espécie humana. 2025 pode ser o ano da virada — ou simplesmente mais um ano no caminho ao colapso.

Então, se quisermos ter o que mostrar ao Mundo na COP30, precisamos começar agir desde agora. O futuro do planeta depende do que cada um de nós decidir preservar hoje.