Fazer uma dissertação de mestrado é fácil. Difícil mesmo é manter a motivação durante todo o processo. Difícil é não querer mandar tudo pelos ares quando tudo começa a correr mal – quando se pensa que se deu um passo em frente, ainda que pequenino, apercebemo-nos que demos cinco passos para trás. Difícil é pensar que se começou o mestrado na esperança de que iria dar mais competências para entrar no mercado de trabalho, mas não é bem assim. Porquê? São as políticas que temos.
Escrever uma dissertação de mestrado é fácil. O complicado da dissertação é a solidão a que estamos sujeitos, ainda que o nosso orientador esteja à distância de um e-mail. Difícil mesmo é arranjar tempo para fazer tudo como se o nosso dia fosse infinito, tendo apenas vinte e quatro horas. Difícil é termos confiança naquilo que escrevemos sem estarmos convivendo constantemente com a síndrome do impostor. Quanto a isto, rapidamente percebi que o segredo é escrever, se não estiver ótimo depois compõe-se. O importante mesmo é escrever alguma coisa. O resto vai-se fazendo com o tempo.
O normal é ter-se um plano daquilo que se quer fazer com a investigação desde a pergunta de partida, os objetivos do estudo, bem como as motivações e a elaboração da metodologia da investigação. Diria que a primeira parte foi fazível, com os seus percalços, mas consegui fazê-la sem grandes problemas. Outra história foi desenvolver a metodologia, porque nada me fazia sentido. Até que uma luzinha se acendeu ao fundo do túnel e hoje posso dizer que apesar dos percalços que surgiram orgulho-me do que fiz.
Fácil é queremos abordar tudo e mais alguma coisa na nossa investigação, o difícil é perceber que tal empreitada não vai ser possível (e sorte daquele que se apercebe disso rapidamente). Queremos escrever sobre todos os autores que abordam o nosso tema, mas não dá e quanto mais depressa se meter isso na cabeça melhor. Cedo vão aperceber-se que algo muito importante neste tipo de trabalho académico é a seleção.
Durante este processo de escrever a minha dissertação de mestrado tenho-me dado conta que nós, alunos, somos um bebé que vai pela mão do progenitor, no caso, o nosso orientador. Enquanto nós temos a obrigação de avançar com a investigação, bem ou mal, o nosso orientador tem a árdua tarefa de nos acompanhar no processo, de nos acalmar nos momentos tensos e em que só queremos desistir (que já foram alguns). Vai ser um caminho longo até à sua finalização e muito vai acontecer, mas certamente vai compensar de alguma forma. Compensa sempre! Nem seja pelo conhecimento adquirido por termos estudado aquele assunto, que de outra forma não teríamos oportunidade.
Fácil é propormo-nos fazer uma dissertação. Terminá-la é outra conversa… Quantas vezes disse que estava pronta para determinada altura? Tantas vezes que já não têm conto. Até já deixei de responder a essa pergunta. Pensa que é por medo dos comentários? Há muito que deixei de me importar com o que os outros dizem. E também só fala dos outros quem tem que se lhe diga, como diz o outro. Quanto estiver terminada haverá sinais…
Por mais que se pense que um estudante de mestrado vive para a dissertação, não é verdade. E também não pode ou não deve acontecer. As pessoas não vivem só para o trabalho. Têm momentos de descanso, comem, dormem, convivem com pessoas... Um estudante de mestrado também, por mais focado que seja no seu trabalho, também necessita de dormir, comer, distrair a mente.
Não é por se ser estudante que é só vida louca. Não é. O trabalhador chega ao fim de um dia de trabalho e desliga. O estudante chega ao fim de um dia de aulas e não desliga das milhentas coisas que tem para fazer: os trabalhos, as frequências, os prazos de avaliação, etc. No caso de um estudante que se encontre a escrever uma dissertação é mesma coisa – certo, é apenas um trabalho académico, mas é um trabalho muito mais extenso em relação aos que estava habituado a fazer, com muitas fases, com muita pesquisa e com muitos altos e baixos. É um trabalho muito intenso e com muita solidão à mistura.
Tudo nesta vida é um processo com os seus altos e baixos, onde umas vezes nos sentimos mais confiantes do que noutras. Mas sim, voltaria a fazer tudo de novo, apesar de todos os contratempos que apareceram no caminho. Acho que não mudava nada, porque todos os percalços fizeram parte da maturação do trabalho, mas também do meu crescimento. Pode até parecer cliché, mas estes meses de trabalho também me ajudaram a perceber que sou capaz de fazer qualquer coisa, basta querer. O medo, esse vai lá estar sempre, mas cabe-nos a nós não nos vencermos por ele e combatê-lo. Lá está, é um processo e no fim, vamo-nos sentir orgulhosos!