Pensar sobre os conceitos de lixo zero e economia circular é uma prática que temos que assumir com uma certa urgência. O modelo económico baseado em produtos descartáveis ou com um curto prazo de vida para sustentar mercados supérfluos, gera quantidade excessiva de resíduos e poluição e impactam a saúde das pessoas e do planeta.
Necessitamos projetar produtos sem fim de vida e fortalecer a economia circular, porém os números mostram o contrário. Reduzir o desperdício e reutilizar recursos não é somente uma prática ambiental desejável, mas um travão na produção excessiva de resíduos que não são devidamente tratados e contribuem para as doenças nossas de cada dia.
Embora compomos um ecossistema reprodutivo e cíclico, o número de famílias que adotam a venda e compra de itens e bens usados, compram a quota do que precisam, evitam desperdícios e preferem produtos reutilizáveis ainda é muito pequeno.
Mesmo em países que tem altas taxas de circularidade, como a Holanda, em que 30% dos produtos são reaproveitados, porém, esses números em escala global caem para 8,6% de material reciclado segundo dados do Circularity Gap Report 2022.
O sistema de produção construído para criar um ciclo de dependência e consumo é fomentado pelas falsas necessidades incutidas pelo marketing usa gatilhos mentais e impulsiona a compra desenfreada. A indústria da moda, acessórios, eletrónicos e de bens descartáveis produz uma lógica de desperdício insustentável e desumana.
A responsabilidade por estes padrões de consumo é o crescimento populacional, porém mesmo que conseguíssemos atingir a circularidade total, para a manutenção dos estoques e atender a setores como o desenvolvimento tecnológico e a infraestrutura urbana precisaríamos continuar a extrair materiais da natureza. Repensar o consumo e inserir processos mais eficientes é a solução.
A emergência climática traz a transição de mentalidade que preconiza a transformação por ações pontuais na qualidade do ar. As indústrias do aço, cimento, plástico, alumínio podem reutilizar materiais reciclados e reduzir de forma significativa as emissões de carbono.
Energias renováveis é uma aposta assertiva, porém abrimos um contraponto na dependência de matérias-primas críticas para produção de componentes usados nos carros elétricos, turbinas eólicas, painéis fotovoltaicos e toda a teia de consumo.
A cultura do descarte deve ser alinhada no desenho do produto para minimizar impactos ambientais em aterros. O desenho físico, funcional e circular de um produto tem como a proposta torná-lo com maior durabilidade, reutilização, reparabilidade e reciclagem.
Mas tudo começa com uma simples pergunta: precisamos realmente deste produto? Ele cumpre uma função? E aqui o impasse acontece, nós consumidores, queremos mais. A nossa programação mental não escolhe com base na durabilidade, reparabilidade, reutilização e sim em fatores comportamentais definidos pelos modelos de negócios e no sistema monetário que depende do crescimento infinito e consumo desenfreado.
No setor têxtil, temos inovações com soluções promissoras, pigmentos de base biológica e menos poluentes, o desenvolvimento de novas fibras vegetais advindas de folhas de bananeiras, folhas de ananás. Estes caminhos mais coerentes e respeitosos com a utilização da biomimética, área da ciência que estuda as estruturas biológicas e as suas funções, para aplicá-las na engenharia de produtos, pode ser um caminho para um desenho circular eficaz.
Do nosso lado podemos aliar pequenas ações diárias que podem impulsionar mudanças estruturais necessárias. O uso de garrafa pessoal para consumo de líquidos, talheres e canecas pessoais, evitar os descartáveis, trocar ou comprar roupas de segunda mão, são boas práticas.
Levar as suas próprias embalagens e evitar produtos embalados, preferir o comércio a granel, fazer compostagem doméstica, separar os itens no descarte e reaproveitar embalagens são alguns passos em direção a essa revolução necessária.
Outro tópico muito sensível refere-se a economia de alimentos e de água, este bem precioso que a vida exige. Nunca sair para as compras sem uma lista planeada evita o desperdício alimentar e compras por impulso.
Na internet encontramos muitas receitas para utilizar as cascas, sementes e talos de legumes, frutas e desde que elas sejam biológicas e bem lavadas, pode ser um suplemento para sua família e a água da lavagem pode ser reutilizada para regar plantas.
Colaborar para a meta ética onde o lixo possa ser projetado a ser usado para outros usos deveria ser o nosso contributo. Um começo pode ser aplicar a política dos 5 R’s: Repensar, Recusar, Reduzir, Reutilizar e Reciclar. Estamos diante de um desafio, pois muitos setores dependem de recursos finitos para manter as cadeias produtivas e a reciclagem está longe de finalizar o ciclo.
A sociedade deve assumir um papel de pressionar por legislações e sistemas de financiamento para um modelo de consumo mais consciente. Imitar a natureza, aprender com ela e moldar um futuro onde possamos coexistir harmonicamente, é possível.
Essa consciência sistémica propõe a redução de desperdício e custos, mas também promoveria a regeneração de ambientes degradados. Para isso, o mercado e organizações abracem os desafios da circularidade como um degrau para a sustentabilidade.