Neologismos são palavras novas. Os elementos que compõem essa palavra deixam isso claro: neo (= novo) e logos (= palavra). Quando se atribui um novo sentido a uma palavra já existente, também se tem um neologismo. A palavra "laranja" usada para designar a pessoa que tem o nome usado por outro para praticar alguma fraude financeira num determinado momento foi um neologismo. Usei o verbo no passado porque o emprego da palavra laranja nesse sentido não tem mais nada de novo, já está até dicionarizado. Isso significa que um neologismo deixa de ser neologismo quando entra em circulação e deixa de ser novidade. A vida de um neologismo é, portanto, curta.

Alguns neologismos são criados dentro da própria língua, como terceirização, uberizar, fulanizar, panelaço, pejotização, atacarejo, ciclofaixa; outros são importados de outras línguas e acabam se incorporando ao nosso idioma na forma original, como mouse, download, home office, coworking, self service, petshop, delivery, selfie, ou aportuguesadas, como "chique", "bufê", "espaguete", "sanduíche".

Quando se fala em neologismo, não há como não falar de uma questão que há muito inquieta filósofos e linguistas: de onde vêm as palavras?

Grande parte das palavras provêm de outras, sejam elas da mesma língua ou de outras, os chamados empréstimos vocabulares. Há algumas pessoas puristas que condenam que se tome emprestado palavras de outras línguas, dizendo que isso conspurca (como essas pessoas gostam desse verbo, fiz questão de usá-lo). Já houve quem defendesse que não se deveria usar "futebol" e "abajur", por serem palavras inglesas (football) e francesa (abat-jour), respectivamente. Esses puristas propunham que fossem substituídas, respectivamente, por "ludopédio" e "quebra-luz". O uso de palavras estrangeiras é um tema complexo e merece um artigo exclusivo.

É importante destacar que não são todas as classes gramaticais que permitem a criação de novas palavras. Neologismos serão sempre palavras lexicais, nunca palavras gramaticais. No parágrafo que segue, explico a diferença entre umas e outras.

Há palavras que são plenas de sentido e remetem a algo fora da língua, um referente extralinguístico, e palavras que se prestam a estabelecer relações de sentido entre outras, ou seja, não remetem a um referente externo à língua. As primeiras são as palavras lexicais; as segundas são as palavras gramaticais. São exemplos de palavras lexicais os substantivos, os adjetivos, os verbos e os advérbios. No que se refere aos verbos, saliento que a primeira conjugação é a que possibilita a criação de novos verbos, como exemplos cito tuitar, printar, hackear, postar, gamificar, zapear, plugar, deletar e acessar, dedurar. Artigos, pronomes, preposições e conjunções são exemplos de palavras gramaticais.

As palavras lexicais constituem a maioria das palavras da língua e formam um conjunto aberto; as gramaticais são em número bem menor e constituem uma série fechada. Os artigos são apenas dois: o e um; as preposições e conjunções são poucas. Não surgem novos artigos, preposições e conjunções.

Embora o número de palavras gramaticais seja muito menor do que o de palavras lexicais, nos textos a ocorrência de palavras gramaticais é muito grande, chegando a ser equivalente ao das palavras lexicais. É muito difícil produzir um texto sem que se usem artigos, pronomes, preposições e conjunções.

Os processos pelos quais se criam palavras são basicamente os seguintes:

  • As onomatopeias: palavras cuja forma fônica procura reproduzir aproximadamente sons ou ruídos como em "Chega de mimimi".

  • A abreviação ou encurtamento: uma parte da palavra passa a designar o todo, por exemplo: "face" (por Facebook), "lipo" (por lipoaspiração), "ex" (por ex-marido ou ex-mulher), "micro" (por microcomputador). Um caso interessante de abreviação é aquele em que a redução se dá por omissão de um termo. É o caso de "fritas" (no lugar de batatas fritas), "vestibular"' (no lugar de exame vestibular), "paralelo" (no lugar de mercado paralelo), "bolsa" (no lugar de bolsa de valores).

Na linguagem jurídica, o falecido que tem seus bens inventariados é denominado de cujus. Essa expressão, que está dicionarizada, resulta da redução de parte de uma frase latina: de cujus sucessione agitur (de cuja sucessão se trata). Michel Bréal, em seu livro Ensaio de semântica, apresenta outro exemplo curioso de palavra que se formou por omissão de termo: "defunto". Tal palavra provém da expressão latina defunctus vita, que significa “aquele que cumpriu a vida”. Por extensão de sentido, passa a designar aquele que morreu, o falecido.

  • Os empréstimos: não havendo uma palavra na língua toma-se por empréstimo palavra de outra língua: "zipar" (do inglês: to zip), "mídia" (do inglês: media), "informática" (do francês: informatique), "imbrólio" (do italiano: imbroglio), "gueixa" (do japonês: geixa).

Caso digno de nota de empréstimo linguístico é o decalque, que é a tradução de uma palavra ou expressão estrangeira para o português. A palavra "cachorro-quente" (nome de um sanduíche de pão com salsicha) não é formada pela junção das palavras portuguesas "cachorro" e "quente", ou seja, não é formada por composição, mas resulta da tradução literal da palavra inglesa hot dog. Outros exemplos de palavras formadas por decalque: "lua-de-mel" (do inglês: honey moon), "supermercado" (do inglês: supermarket), "cartão de crédito" (do inglês: credit card), "controle remoto" (do inglês: remote control), "novo-rico" (do francês: nouveau rich), "montanha-russa" (do francês: montagne russe, adaptação do alemão Rutschenberg, “monte escorregadio”), "pequeno-burguês" (do francês: petit bourgeois).

  • A composição e a derivação: na composição juntam-se duas ou mais palavras para formar uma nova; na derivação agrega-se um afixo a uma palavra primitiva, como nos exemplos a seguir: "sapatênis", "cibercafé", "videoconferência" (composição); "fulanizar", "monetizar", "instagramável" (derivação).