Recentemente um grande debate tomou as pautas do Congresso Nacional e agitou os ânimos da população brasileira: o fim da escala 6x1. De grande benefício às empresas, mas pouco proveitoso aos trabalhadores, essa escala de trabalho onde os funcionários trabalham seis dias consecutivos e descansam no sétimo dia tem gerado debate entre representantes de grandes empresas e sindicatos e traz à tona questões muito complexas como a qualidade de vida dos trabalhadores, a exaustão mental e física deles, o que ficou conhecido por síndrome de burnout e tem sido bastante discutido nas redes sociais.

Uma figura importante nessa jornada, o tocantinense Rick Azevedo foi o grande líder desse movimento que impulsionou as discussões para pôr fim ao regime de trabalho quase desumano que uma boa parcela da população brasileira se submete para ter um salário no final do mês. Em um vídeo viral do Tik Tok no final de 2023, o agora vereador eleito pela cidade do Rio de Janeiro, expressava sua frustação e cansaço com a sua rotina como balconista, onde atuava na escala 6x1. Após a repercussão do vídeo, Rick percebeu que a realidade dele não era diferente da maioria dos trabalhadores e com apoio de muitos outros brasileiros que compartilham destes mesmos ideais, fundou um movimento conhecido como VAT – Vida Além do Trabalho.

Além do VAT, e agora cercado de apoiadores, Rick contou com a ajuda de especialistas e lançou um abaixo-assinado pelo fim da escala 6x1, que logo na primeira semana alcançou mais de 50.000 assinaturas (hoje chegam a quase três milhões). Esse documento foi crucial para iniciar os debates com parlamentares no Congresso Nacional.

Em maio de 2024, a deputada Érika Hilton o utilizou como justificativa para propor uma PEC (Projeto de Emenda Constitucional) que coloca fim à jornada de trabalho 6x1 e 44 horas semanais e, ainda prevê uma escala de trabalho reduzida de 4x3, ou seja, quatro dias de trabalho e três dias de descanso (incluindo o final de semana), com no máximo 36 horas de trabalho permitidas. Essa mudança nas formas de trabalho foi bem recebida em países europeus como Reino Unido e Espanha e, agora pode também ser implementada no Brasil caso o projeto seja aprovado pelos parlamentares e sancionado pelo presidente.

Alguns estudiosos, no entanto, alertam que essa mudança significativa nos postos de trabalho do Brasil podem acarretar em um aumento nos preços dos produtos e serviços e incentivar a informalidade já que, com mais tempo disponível, o trabalhador que agora teria três dias de folga poderia procurar outros trabalhos informais, o que comprometeria o objetivo da PEC proposta pela deputada Érika Hilton: uma maior qualidade de vida e tempo de descanso para os trabalhadores brasileiros.

Com a adoção de uma jornada de trabalho menor, as grandes empresas precisariam contratar mais funcionários para suprir as necessidades de funcionamento de seus estabelecimentos, impactando diretamente na margem de lucro da corporação. Entretanto, essa ligeira alteração na rotina de uma empresa seria repassada ao consumidor final gerando um aumento significativo nos preços de produtos e serviços, de uma maneira geral.

Contudo, existem também outros fatores que seriam muito benéficos não só aos trabalhadores, mas também à classe empresarial, como por exemplo, o aumento da produtividade e a redução do índice de faltas, além de diminuir a rotatividade de colaboradores em determinadas funções e setores. Tudo isso, aliado a uma maior qualidade de vida, não só a quem é empregado, mas também a quem emprega.

Outro dado importante sobre o fim da escala 6X1 diz respeito ao índice de estresse dos trabalhadores brasileiros. Segundo uma pesquisa encomendada pela empresa Gallup, os trabalhadores brasileiros estão entre os dez mais estressados da América Latina. De acordo com a mesma pesquisa, O Brasil está entre os cinco países latino-americanos em que a força de trabalho tem os maiores sentimentos de raiva e tristeza.

Os motivos são os mais diversos: metas abusivas, má gestão, cultura empresarial tóxica, falta de reconhecimento, despreparo de alguns gestores para cargos de liderança, má remuneração entre outros. Os fatores que causam esses altos índices de insalubridade mental no trabalho são tantos que é até difícil pontuar quais são os principais.

O fim da escala 6x1 não é apenas uma questão trabalhista e sim, uma pauta humanitária; ter tempo para a família vai além de estar presente, é poder dedicar esse tempo cuidando e amando aqueles que compartilham a vida conosco. Embora os impactos econômicos dessa mudança possam realmente afetar a sociedade em um primeiro momento, vale a pena testar, obviamente de maneira gradativa, com pequenas alterações em prol de uma vida mais digna para cada trabalhador brasileiro e, por mais lucrativo que seja o cenário de uma empresa, é preciso lembrar que a riqueza desta advém do trabalho de seus colaboradores, por isso, por que não flexibilizar essa jornada e permitir que esse trabalhador possa ter uma vida mais abundante?

Referências

Fim da escala 6x1: quais setores seriam mais afetados e o que muda?
Quem é Rick Azevedo, vereador eleito que fundou movimento contra escala 6×1.
Trabalhadores brasileiros estão entre os mais estressados da América Latina; veja ranking.