A tentativa de golpe atribuída ao ex-presidente Jair Messias Bolsonaro e seus aliados em 2022 envolve uma série de eventos e movimentações políticas que ocorreram ao longo de seu mandato, culminando no período eleitoral e pós-eleitoral daquele ano. Para compreender o contexto e a complexidade dessa situação, é essencial considerar os seguintes elementos:

Contexto político e retórica golpista

Desde sua campanha eleitoral de 2018, Bolsonaro utilizou uma retórica polarizadora e questionou repetidamente as instituições democráticas brasileiras, especialmente o sistema eleitoral. Durante seu mandato, ele frequentemente atacou o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), acusando-os de parcialidade e fraude, sem apresentar provas concretas.

A narrativa de que o sistema eletrônico de votação no Brasil era vulnerável à fraude tornou-se um pilar de sua estratégia política. O ex-presidente Jair Bolsonaro utilizou uma retórica polarizadora desde sua campanha de 2018, questionando a confiabilidade das instituições democráticas brasileiras, especialmente o sistema eleitoral. Ele acusou o STF e o TSE de parcialidade e fraude, sem apresentar evidências. A narrativa sobre a vulnerabilidade das urnas eletrônicas foi central em sua estratégia política. Após sua vitória em 2018, Bolsonaro alegou que deveria ter vencido no primeiro turno, insinuando irregularidades no processo eleitoral. Isso consolidou sua base de apoio, mas fragilizou a confiança institucional.

Campanha de 2022 e ataque à confiabilidade do sistema eleitoral

Durante a campanha presidencial de 2022, Bolsonaro intensificou seus ataques às urnas eletrônicas, afirmando que apenas venceria a eleição se obtivesse "votos auditáveis". A retórica de desconfiança visava preparar o terreno para contestar uma eventual derrota.

Após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno, em 30 de outubro de 2022, Bolsonaro demorou quase dois dias para se pronunciar, permanecendo em silêncio e evitando reconhecer explicitamente a derrota.

As alegações de Jair Bolsonaro durante a campanha presidencial de 2022 contra as urnas eletrônicas intensificaram-se, com a exigência de "votos auditáveis" como condição para reconhecer os resultados. Essa estratégia consolidava uma narrativa para contestar uma possível derrota. Após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva em 30 de outubro de 2022, Bolsonaro permaneceu em silêncio por cerca de 48 horas, evitando reconhecer explicitamente sua derrota e contribuindo para um clima de tensão política.

Bloqueios e manifestações golpistas

Imediatamente após o anúncio dos resultados eleitorais, apoiadores de Bolsonaro iniciaram bloqueios de estradas e manifestações em frente a quartéis das Forças Armadas, pedindo intervenção militar para reverter o resultado das eleições. Esses atos foram amplamente interpretados como tentativas de deslegitimar o processo eleitoral e pressionar por uma ruptura institucional.

Bolsonaro não condenou publicamente essas ações, o que foi visto como uma forma de endossar tacitamente os protestos.

Após o anúncio da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, apoiadores de Jair Bolsonaro realizaram bloqueios em rodovias e protestos em frente a quartéis, clamando por intervenção militar para reverter o resultado das eleições. Esses atos foram amplamente considerados como tentativas de minar a legitimidade do processo eleitoral e pressionar por uma ruptura institucional. Bolsonaro, ao não condenar publicamente tais ações, foi interpretado como apoiador tácito dos movimentos, agravando o clima de tensão política no país1.

A reunião com embaixadores (2022)

Um marco importante foi a reunião de Bolsonaro com embaixadores estrangeiros em julho de 2022, onde ele repetiu acusações infundadas sobre o sistema eleitoral brasileiro. Esse evento gerou ampla repercussão internacional e foi interpretado como uma tentativa de minar a confiança nas eleições, tanto no Brasil quanto no exterior.

A reunião de Jair Bolsonaro com embaixadores estrangeiros, em julho de 2022, marcou um momento de grande repercussão internacional. Durante o evento, ele repetiu acusações infundadas sobre o sistema eleitoral brasileiro, alegando que as urnas eletrônicas eram suscetíveis a fraudes e criticando ministros do TSE. Essa ação foi amplamente interpretada como uma tentativa de desacreditar as eleições, gerando reações negativas de lideranças nacionais e internacionais, além de condenações de entidades como o TSE, que consideraram o episódio uma ameaça à democracia.

Participação de figuras-chave e articulações paralelas

Documentos, declarações e investigações indicam que aliados de Bolsonaro, como empresários e membros das Forças Armadas, participaram de discussões sobre a viabilidade de ações que poderiam anular o resultado eleitoral ou atrasar a posse de Lula. Há alegações de que medidas golpistas foram analisadas, incluindo a elaboração de um rascunho de decreto para alterar o resultado das eleições por meio da imposição de "estado de defesa".

Investigações e documentos indicam que aliados de Bolsonaro, incluindo empresários e membros das Forças Armadas, discutiram estratégias para anular o resultado das eleições de 2022 ou adiar a posse de Lula. Entre as ações discutidas estavam a criação de um decreto que impusesse um "estado de defesa", com o objetivo de contestar a vitória eleitoral. Essas alegações foram investigadas pelas autoridades, incluindo a Polícia Federal, que apontaram tentativas de minar a legitimidade do processo eleitoral.

Reflexo no 8 de janeiro de 2023

Embora a tentativa de golpe não tenha se concretizado em 2022, o episódio culminou nos ataques aos prédios dos Três Poderes em Brasília, em 8 de janeiro de 2023. Milhares de apoiadores de Bolsonaro invadiram e depredaram o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o STF. Essas ações foram vistas como a continuação do movimento golpista iniciado no período pós-eleitoral de 2022.

Embora a tentativa de golpe de 2022 não tenha resultado em um sucesso imediato, ela culminou nos ataques de 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores de Bolsonaro invadiram e depredaram os prédios dos Três Poderes em Brasília. O Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o STF foram alvo dessas ações, que foram amplamente vistas como a continuidade da movimentação golpista iniciada após a eleição de 2022. Esses ataques geraram condenações em âmbito nacional e internacional, sendo interpretados como uma tentativa de desestabilizar o novo governo.

Investigações e responsabilização

Bolsonaro passou a ser investigado por sua possível participação na tentativa de golpe e nos ataques de janeiro de 2023. Em julho de 2023, ele foi declarado inelegível pelo TSE devido ao abuso de poder político e disseminação de desinformação, especialmente em relação às acusações contra o sistema eleitoral. Além disso, o STF avançou em investigações sobre sua participação em atos antidemocráticos.

Jair Bolsonaro, ex-presidente do Brasil, passou a ser alvo de várias investigações e processos após o fim de seu mandato, particularmente em relação à tentativa de golpe e aos ataques de 8 de janeiro de 2023, quando grupos bolsonaristas invadiram e depredaram os prédios dos Três Poderes em Brasília. O ex-presidente foi investigado por sua possível participação e incitação aos atos, com base em seu discurso e ações durante o período pós-eleitoral, quando continuou a questionar a legitimidade das eleições de 2022.

Em julho de 2023, Bolsonaro foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) devido à prática de abuso de poder político e disseminação de desinformação, principalmente relacionada ao sistema eleitoral. O TSE concluiu que Bolsonaro utilizou o cargo presidencial para promover a disseminação de informações falsas e atacar as instituições eleitorais, comprometendo a integridade das eleições.

Além disso, o Supremo Tribunal Federal (STF) avançou em investigações sobre a participação de Bolsonaro em atos antidemocráticos. Isso inclui seu envolvimento em articulações contra o processo eleitoral, além de possíveis responsabilidades no financiamento e apoio a manifestações que visavam derrubar o resultado da eleição de 2022.

Essas investigações são parte de um processo contínuo de apuração das ações de Bolsonaro e seus aliados em relação ao ataque à democracia e às instituições do país.

Conclusão

A tentativa de golpe associada a Bolsonaro em 2022 reflete um cenário de erosão democrática alimentada por discursos de desinformação e polarização política. O Brasil enfrentou um dos períodos mais tensos de sua democracia recente, com ataques às instituições e à confiança no processo eleitoral. A resposta das instituições brasileiras, especialmente do Judiciário, foi fundamental para conter essas ameaças e reafirmar os princípios democráticos do país.

A tentativa de golpe associada a Jair Bolsonaro em 2022 reflete um período de grande polarização política no Brasil, em que discursos de desinformação minaram a confiança no sistema eleitoral e nas instituições democráticas. A reação das instituições, especialmente do Judiciário, foi crucial para impedir que tais ameaças prosperassem. Ao reforçar os princípios democráticos e garantir a integridade do processo eleitoral, essas ações ajudaram a conter a erosão da democracia no país.

Nota

1 G1. Apoiadores de Bolsonaro bloqueiam rodovias e pedem intervenção militar após derrota nas eleições. Globo.com, 31 out. 2022. Tribunal Superior Eleitoral. Relatórios sobre manifestações antidemocráticas após o segundo turno das eleições de 2022. Brasília, 2022.

Referências bibliográficas

Almeida, Ronaldo de. Bolsonarismo: O Movimento que Assombra o Brasil e o Mundo. São Paulo: Todavia, 2023.; Tribunal Superior Eleitoral. Processos de cassação de Jair Bolsonaro por desinformação eleitoral. Brasília, 2023.
Fachin rebate ataques de Bolsonaro a urnas eletrônicas: 'É hora de dizer basta'.
Tribunal Superior Eleitoral. Relatórios sobre manifestações antidemocráticas após o segundo turno das eleições de 2022. Brasília, 2022.
Julgamento de Bolsonaro no TSE: entenda o que vem agora. CNN Brasil, 2023.
Folha PE. Tentativa de golpe pode prolongar inelegibilidade de Bolsonaro. Folha PE, 2023.
Tribunal Superior Eleitoral. Acórdão no processo de cassação de Jair Bolsonaro por abuso de poder político e uso de desinformação. Brasília, 2023.
Tentativa de golpe pode prolongar inelegibilidade de Bolsonaro.