Poucos emblemas históricos estão tão presentes no imaginário colectivo português como os chamados padrões de pedra das Descobertas. Os padrões constituem um dos símbolos mais representativos da história cultural do velho Portugal. Junto com a esfera armilar, a carta náutica, a nau ou os azulejos, os padrões são verdadeiras insígnias do império colonial português.

Estas colunas comemorativas encontram-se na génese da expansão e deram sentido à complexa experiência de controlar o alheio e desconhecido. Estes marcos antigos permitem ainda hoje compreender os motores ideológicos que impulsaram a empresa ultramarina. Os padrões são uns dos exemplos mais definitórios e de maior construção identitária da cultura portuguesa. Desde o século XIX fazem parte do elenco de temas abordados pelos grandes vultos da historiografia portuguesa e não só, como por exemplo o 2° visconde de Santarém, Alexandre Herculano ou Luciano Cordeiro, entre muitos outros.

Estes pilares da memória estão em todas partes, estão presentes nos manuais escolares de gerações de miúdos, assim como nos jornais e nas publicações de divulgação cultural, quer na metrópole quer nas colónias. Ficaram ligados também a duas freguesias das terras de Santiago que conservaram o topónimo, como Senhora da Graça de Padrões, pertencente ao conselho de Almodôvar, no sul de Portugal, e Santa Bárbara de Padrões, no conselho de Castro Verde, a poucos quilómetros da anterior.

Os padrões são nos nossos dias uma peça indispensável dos museus portugueses vinculados à marinha e aos descobrimentos geográficos, e convertem-se em elementos de relevância social quando são exibidos numa exposição sobre a expansão. Museus de todas as partes do mundo custodiam nas suas salas esta pesada relíquia. Em Lisboa, encontramos algumas réplicas no Museu da Marinha, em Belém, e também na Sala dos Padrões do Museu da Sociedade de Geografia, na famosa Rua das Portas de Santo Antão, no centro da cidade, e junto ao histórico Ateneu e nas proximidades da exótica Casa do Alentejo. No entanto, são muito mais do que restos arqueológicos guardados em museus.

A história tem tratado aos padrões como símbolos de pose dum período muito significativo da história de Portugal, mas não serão muito mais do que isso? Tem protagonizado painéis de azulejos, pinturas e até mapas. Todos associamos a estas relíquias um gesto que materializou as pretensões colonizadoras e evangelizadoras dos monarcas portugueses. E é lógico porque de facto sabemos que exploradores como Diogo Cão, Bartolomeu Dias ou Vasco da Gama levantaram padrões a partir do último quartel do século XV nos lugares mais visíveis das terras onde chegavam como forma de dar prioridade ao descobrimento frente a eventuais competidores. Neste sentido estamos acostumados a ouvir que os padrões foram marcos comemorativos de pose e desígnios de cristianização.

Poucos objectos culturais parecem tão explicativos como os padrões. Ficaram na memória pública e perpetua de um acontecimento histórico. Estas balizas estiveram na origem mesmo dos grandes paradigmas existenciais da história de Portugal, como o mar, a experiencia, a viagem, a navegação, o descobrimento, os mapas e a esfera. Os padrões representam, em suma, um ícone da cultura portuguesa facilmente reconhecível. E, sem dúvida, são muito mais do que isso, o reflexo dum carácter ou de uma forma de estar no mundo.