O ingresso no Ensino Superior tem as suas coisas boas e menos boas, como tudo nesta vida. Quando alguém entra na universidade costuma-se dizer que os anos na academia são, sem dúvida, os melhores anos. Não nego isso, mas também traz a sua quota parte de responsabilidades. Afinal de contas, deixamos o ninho para algum novo, que nunca experienciámos, o que pode ser uma experiência muito boa ou muito má. Acho que é o tipo de coisa que ou se ama ou se odeia, mas só podemos falar depois de a vivenciarmos.

A grande maioria dos jovens que ingressam no Ensino Superior saem de casa dos pais, da sua cidade natal para um local completamente novo — o que pode ser desafiante, e também traz anseios — é uma cidade nova, onde não se conhece nada nem ninguém. Vamos à completa descoberta. Custa nos primeiros tempos, mas com o tempo acabamos por nos habituar.

Se há algo que a saída do ninho dos pais traz é a liberdade. Os nossos pais dão-nos uma certa e determinada educação, a que receberam dos nossos avós e a que julgam ser melhor para nós. Em casa dos nossos pais, estamos habituados a que as coisas sejam feitas daquela forma em específico, basicamente, à rotina que nos foi “imposta”. Quando saímos debaixo das saias dos nossos pais, rapidamente, nos damos conta que a educação que recebemos não é standard e que as coisas que os nossos pais fazem de uma maneira, os pais dos nossos colegas fazem de outra completamente diferente. Alguns pais são mais controladores do que outros, outros deixam os seus filhos saírem à noite com os amigos. Não há mal nenhum nisso, não podemos ser todos iguais e a diversidade também faz falta neste mundo cada vez mais arrogante com a diferença.

Com liberdade que ganhamos ao sair da alçada dos nossos pais, também ganhamos responsabilidade. Apesar de parecer, a vida académica não são só festas e bebedeiras, acredito que podemos fazer tudo desde estudar, aproveitar a academia, divertirmo-nos, fazermos amizades e uma outra asneira… Quem nunca? Mas sempre com a consciência de que os nossos atos têm consequências e que os nossos pais nos deram um voto de confiança. Inerente a tudo isto, surge também a nossa liberdade: criamos os nossos próprios horários, podemos entrar e sair de casa às horas que quisermos e bem nos apetecer, pois não teremos os nossos pais a controlarem-nos feitos polícias sinaleiros. Não é no sentido pejorativo que digo isto, mas qualquer jovem necessita da sua própria liberdade, de fazer asneiras para aprender com os erros. Não há nada melhor que do cair e errar para aprendermos e crescermos e, tornarmo-nos pessoas com os valores certos.

No entanto, a outra parte de que ninguém fala são as idas a casa nos fins de semana ou nas férias escolares. Depois de se sair uma vez, regressar àquela que um dia foi a nossa casa, onde nascemos e crescemos, não é a mesma coisa. Falta alguma coisa. Falta-nos a nossa liberdade. Em casa dos nossos pais já não podemos fazer o que queremos, ou pelo menos, não temos tanto à vontade para fazer o que fazemos na nossa casa.

Não que sejamos vigiados 24 horas por dia pelos nossos pais, mas o à-vontade que sentimos naquele lugar não é o mesmo que sentimos na casa onde estudamos. Onde passamos grande parte do nosso tempo. A casa dos nossos pais deixa de ser a nossa casa, para ser a sua casa. Aquela que visitamos quando precisamos de reabastecer o estoque de comida do nosso congelador ou da nossa prateleira na dispensa — quem é estudante vai entender. Ou simplesmente para uma visita de “médico”, porque a nossa vida já não é ali. E tudo bem com isso, em qualquer momento teríamos de sair do ninho, tal como os nossos pais fizeram um dia.

Agora, o caso muda de figura quando o fim do curso se aproxima e não vemos quaisquer perspetivas de trabalho. Nesse sentido, voltar à nossa casa, aquela de deixamos há 3 anos está muito presente. Também ninguém fala nisso. No sentimento de frustração e derrota que é depois de tanto trabalho e empenho a fazer um curso, voltarmos ao ponto de partida: a casa dos nossos pais. Sim, porque aquela já não é a nossa casa, por mais que digam que a porta está sempre aberta. Por mais que isso seja verdade, o sentimento não é o mesmo — quem é que com 23 ou 24 anos quer voltar para casa dos pais depois de três ou quatro anos viver sozinho? Para não falar na derrota que se sente, diria que há uma grande falta de à-vontade tanto para nós como para os nossos pais. Afinal de contas, durante o período em que estivemos fora, passaram a ser apenas os dois e, agora, não nos sentimos no direito de invadir esse espaço… Além disso, imagino que para os pais também não seja fácil.

Nenhum pai ou mãe quer mal para o seu filho. Criam-nos com o objetivo de nos darem as ferramentas para um dia, quando não estiverem neste mundo, nós nos possamos desenvencilhar sozinhos. Não o contrário, seremos dependentes deles a vida toda. Se o jovem não se sente bem, os seus pais muito menos. Creio que numa situação destas, será um processo de readaptação tanto para os pais como para o jovem, mas sobretudo para o jovem que vê a sua vida hipotecada por conta de diversas situações que acabam por lhe ser externas. Ainda assim, de nada vale sofrer por antecipação, melhores dias virão e, mais cedo ou mais tarde, os jovens acabarão por encontrar o seu lugar ao sol.