Não há país desenvolvido sem cidadãos bem formados. E não há cidadãos bem formados sem escolas e professores. Cabo Verde é o exemplo paradigmático do que acabo de afirmar. Num continente onde a baixa taxa de escolaridade, o analfabetismo e a iliteracia retardam o processo de desenvolvimento e este é constantemente ameaçado por guerras, golpes de estado, pandemias e outros, Cabo Verde apresenta-se como um dos poucos países africanos ao sul do Saara que vêm ganhando decisivamente a batalha do desenvolvimento. De acordo com os relatórios de Desenvolvimento Humano publicados anualmente pelo PNUD atingiu em 2008 o patamar de país de desenvolvimento médio.
Por quê?
Por uma conjugação de factores em que a educação, ao lado da esperança de vida à nascença, da saúde e do crescimento económico (rendimento per capita), ocupa um lugar primordial. Nestes trinta e cinco anos de independência, com particular incidência nos dez últimos anos, Cabo Verde dotou-se de infraestruturas e equipamentos escolares e de um corpo docente bastante pertinente para os cerca de duzentos mil estudantes que formam o corpo discente nacional.
Mais: Cabo Verde vem desenvolvendo com vigor, além do ensino básico e secundário, o ensino superior universitário, o ensino profissional e vem fazendo incursões ousadas em domínios como a investigação científica e a inovação em áreas nunca dantes imaginadas como o acesso às tecnologias de informação e conhecimento nomeadamente com o promissor programa “mundu novu”.
E porque a educação ocupa uma fatia substancial do Orçamento Geral do Estado e as taxas de analfabetismo vêm sendo constantemente reduzidas, aumentando-se gradualmente as oportunidades de formação no interior do país, nosso índice de desenvolvimento humano é hoje dos mais elevados na África subsariana.
África, cujas populações se ressentem grandemente da falta de oportunidades educacionais que prevalecem em muitas regiões, o que na prática se traduz em pobreza, doença e subdesenvolvimento, tão castradoras das aspirações de qualquer ser humano.
África, que merece, sobretudo, uma revolução social, que leve as escolas e a educação a todos os africanos, como já tive a oportunidade de defender em nível da Comissão Africana para os Direitos do Homem e dos Povos, mas que infelizmente ainda se debate com uma grande falta de professores qualificados, escolas e equipamentos escolares, que urge suprir.
Em Cabo Verde, como já dissemos, a situação é, felizmente, bem diferente. Temos professores, temos escolas e equipamentos escolares e temos uma população estudantil que é quase a metade da população cabo-verdiana.
Nem poderia ser de outra forma, pois o povo cabo-verdiano sempre colocou a educação num patamar extremamente elevado, acreditando que é através da educação que se podem superar a pobreza, a discriminação, o preconceito, e que é na sala de aula que se aprendem e se exercitam os valores fundamentais da democracia: igualdade, liberdade e responsabilidade.
Uma educação que atinja os níveis propugnados por Kant, filósofo alemão, e que permita não só formar jovens dotados de um saudável espírito crítico, mas que também tenham a capacidade de fazer sempre as escolhas mais correctas.
A escola cabo-verdiana ainda não é perfeita. Mas ela vem dando passos cada vez mais sustentados no sentido de responder aos anseios que todos — pais, educadores, famílias, igrejas, organismos públicos, instituições nacionais e internacionais — nela depositam.
Na verdade, todos veem na escola o lugar privilegiado para adquirir conhecimentos e habilidades, para ajudar a formar a personalidade do aluno e lhe proporcionar uma boa formação, para despertar nos jovens o espírito da curiosidade científica e da inquietude cultural, para formar jovens criticamente saudáveis, tolerantes e dialogantes, em suma, todos vêm na escola o lugar para formar bons cidadãos.
A escola por sua vez, sobretudo através do seu corpo docente, procura desenvolver todos os esforços necessários e consentir todos os sacrifícios possíveis no sentido de dar uma resposta cabal a quanto dela se espera.
Convenhamos que não é tarefa de pouca monta. Mas podemos asseverar que a escola cabo-verdiana vem assumindo desassombradamente o enorme desafio que é formar bons cidadãos, constituindo-se em autêntica escola cidadã.