Hoje eu quero falar sobre um assunto que desperta paixões; seja amor, seja ódio. Amores e ódios são dois lados de uma mesma moeda. Entretanto, para esse assunto, é impossível se abster de participar, seja de um lado, seja do outro. O assunto é: capitalismo! Ou melhor: meritocracia. Então, primeiramente vamos definir o nosso objeto de discussão, para isso perguntei para a Copilot, a IA da Microsoft, o que era meritocracia. A resposta foi:
A meritocracia é um sistema ou princípio no qual as posições de liderança, recompensas e avanços são conquistados com base no mérito individual, ou seja, no talento, esforço, habilidades e realizações de cada pessoa. Em um sistema meritocrático, o sucesso é alcançado por meio de esforço pessoal, competência e desempenho, em vez de privilégios de nascimento, conexões sociais ou outros fatores externos.
A meritocracia é frequentemente defendida como um meio de promover a igualdade de oportunidades, recompensando as pessoas por seu trabalho árduo e habilidades, independentemente de sua origem social, econômica ou cultural. No entanto, ela também é criticada por não levar em conta as desigualdades de acesso a oportunidades e recursos que podem influenciar as chances de sucesso de diferentes indivíduos. Assim, enquanto a meritocracia idealmente promove uma sociedade justa e baseada no mérito, na prática, as barreiras e desigualdades existentes podem dificultar a implementação de um sistema totalmente meritocrático.
Então, simplificando ao máximo, a meritocracia é um princípio que diz que aquele que se esforça mais, consegue mais. Me parece justo. Só que não me senti satisfeito, eu queria saber qual a opinião da IA sobre o tema, para isso utilizei a função "Think Deeper", que gera uma reflexão profunda de 30 segundos sobre o tema. A resposta me surpreendeu:
Como uma IA, não tenho crenças ou sentimentos pessoais, mas posso analisar criticamente a questão. O que observamos é que, embora muitos sistemas – seja na educação, no ambiente corporativo ou em cargos públicos – tentem seguir os princípios da meritocracia, na prática a realidade é mais complexa e menos pura do que o ideal meritocrático.
Análise em profundidade:
1. Ideal vs. realidade: a meritocracia propõe que o sucesso seja alcançado estritamente com base no esforço, talento e competência individual. No entanto, na prática, fatores como desigualdades socioeconômicas, acesso desigual à educação de qualidade, redes de relacionamento e até mesmo a influência de políticas públicas desempenham um papel importante. Assim, muitas vezes, as condições iniciais (como a família, a região onde se nasce ou a qualidade da escola frequentada) influenciam fortemente as oportunidades que uma pessoa terá para desenvolver seu potencial.
Reconhecimento e barreira: embora existam sistemas que premiem o desempenho – como certos processos seletivos baseados em concursos, meritocráticos em teorias – o reconhecimento efetivo do mérito muitas vezes coexiste com barreiras estruturais. Por exemplo, pesquisas mostram que pessoas provenientes de contextos mais favorecidos tendem a ter acesso a redes de contatos, recursos e oportunidades que facilitam o desenvolvimento e a promoção profissional e acadêmica.
Aspectos sociais e críticas: pensadores contemporâneos e historiadores apontam que, mesmo quando tentamos aplicar uma lógica meritocrática, os méritos individuais muitas vezes se misturam a outros fatores que escapam à capacidade de escolha do indivíduo. Autores como Michael Sandel e outros críticos, por exemplo, argumentam que a meritocracia pode até reforçar sentimentos de superioridade e, ao mesmo tempo, aumentar o desprezo ou desumanização de quem "não conseguiu" – ignorando os muitos fatores extracurriculares que afetam o sucesso.
Conclusão:
Portanto, a meritocracia como conceito existe e muitos sistemas tentam aplicá-la, mas ela é frequentemente limitada – ou mesmo adulterada – por fatores externos que dificultam uma competição verdadeiramente justa. Em ambientes onde se pressupõe uma competição baseada somente no mérito, quase sempre há elementos estruturais e contextuais que podem favorecer alguns indivíduos em detrimento de outros. Se formos olhar para a sociedade de forma ampla, a meritocracia acaba existindo de maneira parcial. Idealmente, seria um critério determinante, mas, na prática, ela convive com desigualdades que precisam ser continuamente debatidas e, se possível, corrigidas para que o mérito seja realmente o principal motor de resultados.
Você deve estar aí pensando “mas o que o resultado de uma IA pode oferecer ao debate?” Na verdade, a IA trouxe o subsídio para o caldo que será mexido agora. Eu precisava dessa base para gente entrar na verdadeira discussão.
Eu perguntei para alunos de uma escola da periferia de São Paulo a seguinte questão “Vocês acham justo uma pessoa possuir mais de uma casa e mais de um carro, enquanto outras pessoas não possuem nada, nem para comer?”. As respostas vieram de jovens que variam do sexto ano (12 anos) do Ensino Fundamental e segundo do Ensino Médio (16 anos), todos foram unânimes em dizer “Se a pessoa conquistou isso, ela merece”.
Para ser bem sincero com você, as pessoas pensarem isso não me surpreendeu, afinal, temos uma legião de pessoas com essa crença. O que me surpreendeu foi quem faz parte desse grupo, afinal, muitos daqueles jovens, provavelmente a grande maioria, devem morar em algum tipo de invasão de terras, ou os pais conquistaram a casa através de algum programa governamental, ou ainda, moram de aluguel.
Outro ponto relevante é que a criança está vocalizando algo que ele vê ou ouve em casa, na comunidade religiosa, na família etc. Então, em um bairro onde temos mães com 3, 4 ou 5 filhos, estamos vendo essa opinião ser produzida e reproduzida. No longo prazo veremos uma grande guinada à direita da nossa população. Visto que a população de baixa renda é a maior parte da população, costuma ter muitos filhos e parece estar perdendo sua inclinação mais à esquerda.
Quando Mano Brown lá atrás disse que o PT (Partido dos Trabalhadores) deixou de ouvir a voz da periferia, ele estava se referindo a isso. O sonho do oprimido é ser opressor, se foi o tempo da periferia comunidade, periferia que todo mundo se sentava na porta e ficava conversando. Se foi o tempo que a Dona Maria cuidava do filho da Dona Rita. Agora a Dona Maria é proprietária de um daycare, tem página no Instagram e posta coisas sobre psicologia da educação, coisas que ela “kibou” de uma outra página de alguém desconhecido que se passa por especialista.
Hoje a Dona Maria é uma expert em rede social. Dona Luíza faz vídeos para o Tik Tok com conteúdo religioso. Senhorita Marta vende salgadinhos e aceita cartão de crédito e débito. Senhor João comprou um curso na internet e hoje arruma carros na comunidade, inclusive os importados. Repare, todos eles estão indo rumo à Casa Grande, pelo menos é assim que estão se vendo.
Hoje, a periferia quer viver como na Casa Grande. Hoje a periferia te julga tanto quanto o High Society. Hoje a periferia quer aproveitar como os boêmios. Antes que me pergunte ou afirme algo, eu concordo com essa Periferia 2.0. O que eu não concordo é com esse discurso para lá de vazio que o pobre é coitado, que precisa ser protegido. Pois ele não se vê assim; muito pelo contrário, ele se vê como parte das engrenagens que movimentam o capitalismo e a economia. Ele se vê no direito de possuir aquilo que ele deseja.
Há poucos dias, o nosso presidente Lula fez um pronunciamento em rádio e TV falando sobre: Farmácia Popular e o programa Pé-de-Meia. Esse anúncio veio dias após a sua popularidade derreter entre todas as camadas sociais. Que o mais rico não goste dele? Eu entendo, mas não concordo. Agora ele vê um afastamento do mais pobre, sabe por quê? A camada mais pobre, gosta de dinheiro na mão, gosta de um programa assistencialista. Entretanto, eles gostam de acreditar que vivem o capitalismo mais puro. Eles acreditam que é possível chegar lá.
A camada mais empobrecida da nossa sociedade vive de paradoxos. Basicamente, se você quer ver os pais irem na escola, basta cortar o Bolsa Família. O pai, a mãe, a vó, todo mundo aparece; mas não para saber sobre o desempenho escolar do filho. Aparecem apenas para saber o que aconteceu para cortarem o benefício.
Na outra mão, você vê o filho, sempre ostentando os bailes que foi, o tratamento dentário caro, o corte de cabelo, as roupas etc. É como se o programa assistencialista fosse um programa que todos recebem e que o Estado não deveria exigir nada em troca.
Na eleição para prefeito, o candidato psolista Boulos, tentou dar um duplo mortal carpado para falar com o eleitorado “empreendedor do iFood” e com os “empreendedores de Uber”. Os famosos pseudo empresários anti-celetistas. No final, soou mais superficial que luta-livre mal ensaiada.
Em 2024, Boulos estava no primeiro turno com um discurso muito parecido com o clássico “pobre sofre na mão do capitalismo malvadão”. Com a entrada do Pablo Marçal no circuito, com um discurso meio trumpista, os empreendedores foram seduzidos por toda aquela conversa neoliberal. Apesar da esquerda ser extremamente forte na zona leste de São Paulo, Marçal abocanhou quase 30% dos votos.
Já para o segundo turno, Boulos deu aquela “marçalzada” e alinhou o discurso com algo mais neoliberal, algo do tipo “neoliberal mas que protege o pobre”. Essa mudança de postura, foi pela equipe se dizer surpresa com esse movimento. Surpreso? Note que, essa “uberização” já está em curso desde 2016.
O capitalismo venceu! Não adianta chorar, esquerda. A meritocracia, embora idealizada como um sistema justo, é na verdade um espelho das desigualdades estruturais que permeiam nossa sociedade. A periferia, que antes se via como vítima, agora se enxerga como parte essencial das engrenagens do capitalismo. A "Periferia 2.0" não quer mais ser protegida; ela quer conquistar, consumir e prosperar, mesmo que isso signifique adotar os valores da Casa Grande.
A verdade é que o sonho do oprimido é ser opressor, e a meritocracia serve apenas para mascarar essa realidade. Enquanto continuarmos a ignorar as barreiras estruturais e a perpetuar o mito de que o esforço individual é suficiente para o sucesso, estaremos apenas reforçando um sistema que beneficia poucos e marginaliza muitos.
Portanto, a pergunta que fica é: estamos realmente dispostos a enfrentar as desigualdades e criar uma sociedade mais justa, ou vamos continuar aplaudindo um sistema que, na prática, só perpetua a injustiça?