Sentimos a vida nos espremendo em diversos momentos, uma certa sensação de perda de controle de tudo ou de nós mesmos, mas o que de fato isso significa? Um aperto, um desamparo, uma impotência daquilo que se apresenta. É real! É a vida nos sinalizando que algo precisa ser ajustado ou resolvido, e nem sempre é sobre nós.

Você já sentiu isso? Claro que sim, com certeza! A todo instante a vida conversa conosco, mesmo quando não estamos atentos a ela. A conversa nem sempre é agradável ou amistosa. Muitas vezes é dura e nos remexe por dentro, nos faz chorar, nos desnuda e entristece.

O desespero é o sinônimo de estarmos à deriva e em total desequilíbrio, mas é a vida passando como uma enxurrada, seja como as chuvas de verão ou trombas d’água. Apresenta-se sob muitos aspectos, e até quando estamos alegres e demasiadamente felizes sentimos desespero por medo de perder este estado de poesia. Sim, momentos bons são pura poesia, e por isso temos medo de perdê-los. Momentos ruins demoram a passar e nos exaurem, nos deixam esgotados, raciocinando menos. Respiramos mal, dormimos pouco e somos ameaçados pelo externo e, por fim, pelos nossos próprios monstros; é aí que se instala o desespero.

Hoje, quando vemos alguém em desespero, é comum diagnosticá-los com pânico; os sintomas são reais e físicos, dói o peito, o ar falta, a cabeça gira e o chão some. São tipos de desespero diferentes, mas em todos, como costumo dizer e repetir, existe um frio na alma.

A palavra desespero vem do latim Desperare, perder a esperança, formado por DE- “sem”, mais Sperare, “ter fé, esperança”, de Spes, ‘esperança”. Pelo dicionário Oxford Languages, a palavra desespero é substantivo masculino “o desespero”. E de alguma forma o que sentimos traduz essa origem e definição, pois é quando perdemos a capacidade de esperar que nos sentimos à deriva, caóticos, impotentes. E esperar nem sempre é passivo, pois o tempo se encarrega de algumas coisas que de fato não conseguimos destinar em determinados enredos ou situações, mas que se desembrulham como milagrosamente no momento seguinte. O desarranjo arranja-se em seguida, o fim vem seguido de um começo, alguns morrem enquanto outros nascem, uns vão e outros vêm...

Então, somos ativos porque tivemos o cuidado de combinar com o tempo o seu trabalho, e que muitas vezes não significa a nossa imediata ação. O desejo de domínio e de que tudo esteja no lugar dentro de uma ordem e previsibilidade causa uma sensação de que dominamos a vida, nossa rotina e a nós mesmos, e de certa forma isso não significa nada de errado ou certo, é apenas o ser humano trabalhando com aquilo que lhe é apresentado. Urge a necessidade de entender que nem sempre tudo está perfeitamente controlado, e de fato, cada vez menos temos domínio de qualquer situação. Em tempos urgentes e de informações que nos atravessam sem filtro, somos exigidos a uma espécie de ativação do nosso mito do herói que nos ajude a diagnosticar e interpretar sobre o que está sendo dito ou acontecendo, e como vamos agir ou reagir, o que já é cansativo, e ainda mais desesperador, quando o herói escolhido é incapaz de nos salvar. De alguma maneira ele perdeu a flecha, o oráculo ou a tocha mágica. Falta informação, conhecimento, por vezes recursos para intervir naquilo que nos atravessa. E se nossos heróis não nos salvam, perdemos a esperança, a fé, e se instala o desespero.

E se ainda caminharmos pelo campo da emoção e desejos, o desamparo é ainda mais impiedoso, pois o que nos acomete é a falta. A falta do outro, aquele que supostamente nos completa, espelha e salva. É preciso, pois, entender o que se espera, silenciar aquilo que grita e ao mesmo tempo ecoa. Dar espaço e autoridade à singeleza de deixar-se caído por um tempo, e levantar aos poucos e tão somente quando tiver forças para se autorizar a seguir.