Quanto sofre um coração apaixonado? Muito, pode acreditar, a paixão é um fogo que arde sem controle e torna tudo cinzas, é forte como a primeira pinga que sai do alambique, que não serve para nada, faz a pessoa se sentir pequena e cometer loucuras por ela, parece fogo de morro acima e água de morro abaixo, devasta o coração e a mente.
Paixões são confundidas com amor, se levadas adiante causam mesmo muita dor, o ciúme doentio é uma causa dessa angústia que abala o coração. É preciso entender que se apaixonar não é doença, acontece com qualquer mortal, só que algumas pessoas entendem o que acontece e seguram a onda, outras elevam a paixão a um patamar insuportável.
Sofre mais sempre o apaixonado da questão, porque ele, ou ela, não controlam o seu sentimento e normalmente enfiam os pés pelas mãos, o coração pela razão, que acabam perdendo, e tocam o terror em nome do que pensam ser amor, mas que vai se tornando em alta velocidade uma obsessão. Viver dessa forma não deve ser muito fácil, é tudo tão intenso e caótico, que deve doer e eliminar o prazer.
A paixão quando pega de jeito faz o maior escarcéu, vira até perseguição, ou coisa pior, quantas pessoas morrem ou matam em nome do que chamam de amor nesse mundo de meu Deus? Um bom tanto, crimes passionais podem ser motivados por ela, a dor da perda ou a iminência dela, torna a pessoa depressiva e no auge da depressão vem o ato trágico impensado.
Necessário se faz entendermos os nossos sentimentos, saber dividir as sessões, colocar cada um deles em seu lugar e viver bem. Tesão é uma atração mais forte, apenas sexo e nada mais, talvez se resolva numa transa, passa, amor é mais ameno, é uma construção pelo tempo, pode até começar com o tesão, mas depois vai se moldando à medida em que o casal vai se conhecendo e dura muito tempo, dá liberdade e pede a liberdade de volta.
Já a paixão, caso não seja domada, tem o poder destrutivo de uma bomba atômica de muitos quilotons, arrasa tudo o que está na sua frente e ainda tem poder de destruição por todo o entorno. Se percebida, tudo bem, passa logo e vida que segue, mas quando confundida com amor danou-se, estraga vidas e tornam os sonhos pesadelos que são vividos de olhos bem abertos.
Todos nós já sentimos as fortes paixões alguma vez na vida, principalmente na adolescência, quando tudo é urgente e dói além da conta, quando temos nossas primeiras experiências amorosas e embaralhamos tudo em nossa cabeça. Fazemos besteiras, cometemos as tais “loucuras de amor”, mas que na realidade são os nossos hormônios famintos por aventuras, pela primeira transa, mas é também gostoso, aprendemos muito nessa fase, inclusive a controlar os nossos sentimentos e entendê-los melhor.
Não escrevo este texto com base em ciência e nenhum trabalho acadêmico, ele é fruto apenas de minhas observações e vivências. Tive minhas paixões na vida, sofri por algumas garotas que não me queiram, quis demais as que me quiseram e outras desprezei atraindo sua raiva, ou despertando nelas a paixão, aprontei das minhas e também aprontaram comigo, portanto são minhas experiências que coloco aqui.
Sou poeta, de origem na prosa, comecei escrevendo artigos para jornais blogs e outros meios de comunicação, depois me entreguei à poesia e entendi melhor as diferenças entre os sentimentos, sobre a angústia da paixão que leva o eu lírico a ser intenso em suas palavras a chorar copiosamente por um amor não correspondido, ou a elevar até onde não dá mais para enxergar a sua amada, é poesia, literatura e nela colocamos o que sentimos do mundo à nossa volta em uma intensidade mais alta.
Acredito que a paixão, pode arrefecer e se tornar amor, intensa quando descoberta e depois, quando se ajusta fica quentinha, mas não queima. Acredito que muitos amores devem ter começado assim, depois de acalmados os corações ficaram fortes e continuam a aquecer a alma, só que agora na forma de uma brasa perene e feliz.
Quando falo em felicidade gosto muito de citar que ela vem de dentro da gente, se alimenta de nossas vivências, dos aprendizados, vitórias e derrotas, paixões vividas e sofridas, amores e desamores, alegrias e tristezas. Devíamos ser felizes sempre, deixar a felicidade exposta em nossa cara, em nosso corpo, no que fazemos e em nossas relações, mas ela machuca algumas pessoas que preferem alimentar a tristeza.
Sei lá, mas a tristeza perene deve ser muito dolorida, talvez seja ela a causa das paixões avassaladoras, daquelas que fazem mal, porque, veja bem, uma pessoa alegre, não quer destruir ninguém, nem se autodestruir, ela quer viver, fazer a vida ter cor e colorir a vida de todo mundo que passar por ela. Enquanto a tristeza faz todo o caminho contrário da alegria, torna a vida opaca e sem graça.
Tanto a alegria quanto a tristeza são passageiras normalmente, uma motivada por conquistas e realizações, e a outra por perdas e frustrações. Passamos por tudo isso em nossa vida, nem sempre ganhamos e nem sempre perdemos, apesar de valorizarmos muito mais as derrotas do que as vitórias, mesmo as menores. E no fim é esse perde e ganha que faz a gente feliz, porque é a vida acontecendo.
Um coração não devia viver apertado o tempo todo, ele precisa trabalhar leve e solto, fazer sua função principal, que é bombear o sangue e dar vida ao corpo, sem mágoas e livre das paixões avassaladoras. A culpa não é dele, mas, infelizmente, é a quem culpamos quando perdemos o controle do que devia ser bonito. O pobre coitado é o alvo do Cupido, ele que se parte, ele que apanha e se espedaça pelo chão e depois precisa ser reconstruído, eu não queria ser ele, apesar de ele ser uma parte de mim!
Enfim, se a gente não está livre das paixões avassaladoras, que possamos ao menos entender o que está acontecendo e aliviar nossas dores com sabedoria e fazendo com que o amor tome conta de nossa vida. É melhor uma brasa leve e acolhedora do que um incêndio descontrolado, que só causa dor e destruição na gente.