Fazer uma boa música com banda tem tudo a ver com química. O jeito que as diferentes personalidades dos 4 Beatles combinavam e se encaixavam perfeitamente, fazia tudo ser tão especial e histórico como foi. No dia 2 de Novembro do ano passado, depois de quase 50 anos, os Beatles divulgaram o que foi considerada a última música da banda. Com a ajuda da inteligência artificial, Now and Then emociona os fãs ao redor do mundo, que puderam ouvir pela última vez uma canção inédita e um ponto final no que podemos considerar um marco revolucionário na história da música, The Beatles.

No seu apartamento em Nova Iorque, em meados dos anos 70, John Lennon inicia Now and Then, originalmente escrita e gravada voz e piano numa fita cassete que ficou esquecida por quase 15 anos. Anos depois da morte de John Lennon, morria também a esperança de voltar a ouvir novos originais dos Beatles. Mas, em 1994, uma oportunidade de fazer músicas juntos novamente apareceu. Quando os 3 Beatles reuniram-se para pensar em um projeto, não fazia sentido fazer isso sem John, e em uma das conversas de Paul McCartney com Yoko Ono, ela lembrou-se que tinha umas fitas antigas de John e as entregou para Paul.

Em Fevereiro de 1995 George and Ringo foram até o estúdio de Paul, ouviram a faixa gravada por John e começaram a trabalhar no projeto The Beatles Anthology. Foi então que fizeram as faixas “Free as Bird" e “Real Love" e com o restante do tempo que tinham juntos, iniciaram o projeto de “Now and Then". A construção da faixa incluiu a guitarra rítmica de George Harrison entre outros elementos pessoais de cada um dos Beatles mas, no documentário é possível perceber a dificuldade de trabalhar nessa faixa por conta da precariedade do áudio e o grande desafio era separar a voz das faixas de voz de John e do piano que ele tocava durante a gravação, que acabava escondendo a voz. A demo ficou inacabada devido aos desafios tecnológicos impossíveis de superar ao lidar com a gravação vocal de John feita em fita nos anos 1970.

Em 2001 que George faleceu, e durante um tempo isso incubou o sonho de finalizar “Now and Then". Por anos, parecia que a música nunca poderia ser concluída… Mas em 2022, houve um golpe de sorte. Um sistema de software desenvolvido por Peter Jackson e sua equipe, usado ao longo da produção da série documental Get Back, finalmente abriu caminho para a separação da voz de John de sua parte de piano. Muito se especulou de que a música foi criada por inteligência artificial, mas na minha opinião essa colocação além de ser um equívoco é completamente fora da realidade, pois quem conhece a história dos Beatles, sabe que eles nunca tiveram vergonha ou medo de experimentar gravações com um viés mais tecnológico, muito pelo contrário, eles amavam. E no mesmo ano, no Capitol Studios, Paul McCartney regravou o baixo, Ringo Starr gravou a bateria e decidiram que colocariam cordas na música. Então, eles contrataram uma orquestra sem dizer aos músicos que eles estariam trabalhando na nova música dos Beatles, por isso disseram que era algo apenas de Paul. Na nova gravação existe também um solo de guitarra, para que fosse feito, usaram o solo de guitarra de George (que foi gravado em 1995) e Paul o refez com slide, à maneira de George, e o próprio Paul enfatiza que foi como um tributo ao amigo.

Com a direção de Peter Jackson, o autor da trilogia cinematográfica do "Senhor dos Anéis". foi quem realizou "The Beatles: Get Back" - o documentário que divulgou imagens inéditas e restauradas dos quatro fabulosos em 1969 durante as gravações do álbum "Let It Be" (que só seria lançado em 1970). O videoclipe reúne imagens de arquivo do quarteto e também filmagens inéditas de 1995. Além das imagens mais antigas, também foram adicionadas filmagens de 2023, com Paul McCartney e Ringo Starr.

Em um comunicado à imprensa, Jackson, que nunca havia dirigido um videoclipe anteriormente, falou sobre sua relutância inicial em participar do projeto. "Eu achava que os próximos meses seriam muito mais divertidos se aquela tarefa complicada fosse problema de outra pessoa, e eu pudesse ser como qualquer outro fã dos Beatles, curtindo a antecipação da noite anterior ao Natal, à medida que o lançamento de uma nova música e videoclipe dos Beatles se aproximava", disse ele.

"Para ser honesto, só de pensar na responsabilidade de ter de fazer um vídeo digno da última canção dos The Beatles produziu uma série de ansiedades quase insuportáveis com que tive de lidar", conta Peter Jackson em comunicado. "O meu amor de toda a vida pelos The Beatles colidiu com o puro terror da ideia de decepcionar todas as pessoas. Isto criou uma insegurança intensa em mim porque nunca tinha feito um videoclipe antes e não era capaz de imaginar como poderia começar a criar um para uma banda que se separou há mais de 50 anos, nunca tinha tocado a canção e metade dos seus membros já não estava connosco", acrescenta Jackson.

Jackson continuou dizendo que estava preocupado com "a falta de imagens inéditas dos Beatles dos anos 60", sem mencionar a documentação dos Beatles executando uma música que não haviam lançado durante sua permanência como grupo. "Um vídeo clipe dos Beatles deve ter como base ótimas imagens dos Beatles", insistiu ele. "Não há como usar atores ou Beatles em CGI."

Paul McCartney e Ringo Starr responderam filmando imagens deles mesmos tocando a música, enquanto a Apple Corps Ltd. desenterrava mais de 14 horas de filmagens inéditas de 1995, quando McCartney, Starr e George Harrison tentaram gravar "Now and Then" pela primeira vez. Clipes adicionais não vistos foram entregues a Jackson, incluindo as primeiras filmagens conhecidas dos Beatles, apresentando-os vestindo ternos de couro. "Tenho um orgulho genuíno do que fizemos, e vou valorizar isso por muitos anos", disse Jackson.

Um dia antes do lançamento da música, um mini documentário foi ao ar e revelou detalhes sobre a gravação da música, "Now And Then - The Last Beatles Song" - contou com a realização de Oliver Murray. A curta-metragem conta a história da última canção dos The Beatles, com filmagens e comentários exclusivos de Paul, Ringo, George, Sean Ono Lennon (filho de John e Yoko Ono Lennon) e também do realizador Peter Jackson.

Como resultado, a gravação original pôde ser trazida à vida e trabalhada novamente com contribuições de todos os quatro Beatles. Esta história notável de arqueologia musical reflete a curiosidade criativa interminável dos Beatles e sua fascinação compartilhada pela tecnologia. Marca a conclusão da última gravação que John, Paul, George e Ringo farão juntos e celebra o legado da banda mais importante e influente na história da música popular.