A maior longevidade e o momento da finitude humana, impulsionam o crescente volume de pesquisas sobre o preparo das equipes que prestam serviço na saúde. Há questionamentos sobre o conhecimento das equipes multiprofissionais, tanto em sua formação, quanto na atuação frente a terceira e quarta idade.

A percepção da equipe multiprofissional em saúde, sobre aspectos bioéticos envolvidos no processo de envelhecimento, longevidade e finitude humana, são cada vez mais presentes. A maioria de profissionais da saúde tais como: enfermeiros, biomédicos, psicólogos, fisioterapeutas, farmacêuticos, médicos, fonoaudiólogos, e outros, entendem que a palavra gerontologia não fazia parte do conteúdo aplicado na graduação para formados antes do ano 2000. Provavelmente a disciplina teria nomes como saúde do idoso, envelhecimento ou ancião. Em assunto anterior, trabalhamos bastante sobre o envelhecimento da população brasileira e no mundo.

Em relação a finitude humana (tanatologia-estudo científico da morte) é possível identificar que a palavra vem em substituição a “morte”, que por muito tempo foi omitida ou simplesmente negligenciada por muitos, pois traz uma percepção ruim do fim da vida.

Atualmente falar sobre a morte (finitude humana) ainda tem barreiras, mas é de suma importância falar sobre ela.

Na série de HQs escrita por Neil Gaiman a história de Sandman (Morpheus ou Deus do sono) há um encontro com a morte que é sua irmã mais velha e que trabalha em paralelo com outros irmãos chamados Perpétuos. Essas sete entidades ou criaturas são consideradas maiores que os deuses conhecidos pela humanidade. São eles: Morpheus (Sonho), Morte, Destino, Destruição, Desejo, Desespero e Delírio. A trama acompanha Morpheus e ele é a representação antropomórfica dos sonhos.

Em contexto histórico a morte nasceu depois da primeira manifestação de vida no universo e tem como responsabilidade a proeza de declarar seu trabalho como completamente concluído quando o último ser vivo vier a morrer, aí ela poderá fechar o universo e jogar a chave fora. Em defesa da morte, os seres somente a veem ao nascer, quando ela lhes dá o sopro da vida, e ao morrer.

O episódio 6 da primeira temporada de Sandman O som de suas asas mostra a irmã mais próxima de Sonho, (Morte) como gentil e amável, e costuma dar conselhos ao irmão.

Por que falei da série? Foi nesse momento que senti a importância de falar sobre o assunto, pois todos nós, quase sem exceção temos medo dela.

Desmistificando, a finitude humana pode acontecer de forma agressiva, brusca, abrupta, traumática, mas também pode ser o sossego, a paz, a tranquilidade, o descanso e fim do sofrimento. Ambígua, a finitude humana pode ser amada ou odiada. Conversar com seus entes queridos sobre seus desejos finais, suas expectativas, seus cronogramas e rotinas e o que espera que seja feita na sua ausência parece medonho, mas é necessário.

Uma das falas mais comuns é que “tenho certeza que quando eu morrer, vocês ficarão brigando pelo que deixei”; “se eu pudesse levaria tudo para que não fiquem brigando depois de minha partida”; “vou aproveitar o que puder por aqui, porque depois não poderei aproveitar nada”; “sei que tem algo bom me esperando e me livrando desse inferno que vivo” e muitas outras falas.

Em aspectos psicológicos, o luto pode acontecer antes da partida ou perdurar muito tempo, passando por dias, meses e até anos.

E como abordar esse assunto? Escolha um momento calmo nas conversas a mesa, em roda de conversa e exponha seus sentimentos, desejos e angústias, ou em um momento de descontração, onde a alegria faz parte do processo e as vezes pode ser entendido como uma piada ou brincadeira, mas que no fundo esboça uma verdade.

Não há tempo, momento e lugar adequado, há uma expressão a ser apresentada.