Não é nenhum segredo que Doja Cat modificou significativamente o seu estilo, fugindo à imagem dócil de E-Girl a que nos habituou aquando da sua ascendência ao estrelato em 2018 com o seu single ‘‘Mooo!’’; no entanto, parece que esta transformação envolveu não só a sua aparência física como a sua presença nos media e, mais importante ainda, o seu som.

Natural de Los Angeles e nascida Amala Dlamini, esta foi criada entre a Califórnia e Nova Iorque. Com uma mãe pintora e designer de roupa e um pai sul-africano actor e dançarino, não surpreende o facto de Doja ter criatividade a correr-lhe no sangue.

A mãe de Doja Cat - Deborah Elizabeth Sawyer - não só descobriu que gostava de hip-hop mais tarde na sua vida como também toldou os gostos da filha ao rodeá-la de música inspiradora e com conteúdo, recheando os seus ouvidos com Erykah Badu, John e Alice Coltrane, Jamiroquai e Earth, Wind & Fire, o que lhe proporcionou um leque de influências variadíssimo.

Apesar de não ter um progenitor paternal muito envolvido na sua vida pessoal, Doja Cat sempre teve raízes artísticas pela influência de ambos os seus pais. Motivada pela mãe, esta dançava ballet e esteve sempre envolvida com artes performativas - chegando até a participar em dance battles.

A artista teve um percurso de vida incomum; mudando-se de Nova Iorque para Los Angeles para fazer parte um ashram - uma comunidade espiritual com influências hindu - juntamente com a mãe e o irmão, somente com 8 anos.

Essa experiência teve uma importância significativa na rapper e cantora, nomeadamente no início da sua carreira musical. É possível termos um vislumbre desta influência algo psicadélica em faixas como “So High” (2014), tanto na projecção da sua voz como nos visuais do seu videoclip.

E desengane-se quem acha que a cantora se lançou com uma carreira musical com ‘‘Mooo!’’, pois esta deixou o liceu para se dedicar a tempo inteiro a fazer música. Nesta altura Doja tem um controlo muito hands-on em todo o processo de produção da sua arte, escrevendo, compondo e produzindo a sua própria música de forma informal e homemade.

Fãs que acompanhem a artista há mais tempo sabem deste facto, pois Doja fazia frequentemente transmissões ao vivo na sua página do Instagram enquanto produzia a sua própria música fechada no seu quarto, fazendo o upload das faixas na plataforma SoundCloud em 2012. Um produto da sua geração, Doja Cat sempre teve uma presença assídua na internet; participando em chatrooms e vivendo numa cultura em que a comunicação é informal e influenciada por memes.

Estas músicas produzidas de forma caseira foram obtendo sucesso online e chamaram a atenção das editoras Kemosabe e RCA Records, com quem a artista iria assinar um contracto conjunto antes de lançar o seu EP de estreia, ‘‘Purrr!’’ (2014).

Desde há cerca de dois anos que Doja tem sido o centro das atenções por alguns aspectos negativos - quer seja por dizer a alegados fãs online que ‘‘não os ama’’ porque não os conhece pessoalmente ou pelas suas escolhas estilísticas. Doja repudia quem opina em relação à sua vida por ter deixado de manter a imagem estereotipicamente feminina e sexualizada a que habituou o público e passou a receber retaliação em formato de hate por isso. Doja pretende apresentar-se como alguém que não hesita em responder directamente e à letra a cada um que a tenta atacar.

Ainda em 2022, Doja foi hostilizada e feita mais uma vez um tópico de conversa por rapar o cabelo numa transmissão ao vivo no seu Instagram, como é seu hábito fazer. Todos compararam esta acção ao breakdown psicológico de Britney Spears em 2007, qualificando a mudança de visual como algo relacionado com o seu estado psicológico e não como uma simples transformação.

Isto chateou a rapper. Doja não desvaloriza o que aconteceu a Britney Spears e descompõe todos os que o fizeram, revoltando-se com o burburinho criado pela simples mudança de visual que escolheu fazer.

Após o sucedido, a superestrela passou a ser cada vez mais motivo de notícia devido aos seus visuais arrojados em eventos e desfiles de moda.

A artista gosta de brincar com o seu estilo e de se aventurar a ir onde outros não foram com a sua direcção artística, seja na moda ou com a sua música. Este foi sem dúvida o caso com uma peça de Schiaparelli, em que a artista aparece com um vistoso vestido vermelho e adornada de cristais vermelhos Swarovski e tinta vermelha em todo o seu torso na Semana da Moda de Paris de 2023, quiçá já prevendo a nova era que estava para vir.

Para acompanhar o cabelo rapado e descolorado, Doja decidiu também fazer várias tatuagens novas, cujos significados profundos e complexos foram partilhados pela própria no seu Instagram.

Uma mulher poderosa a tomar rédeas do seu próprio destino é o suficiente para, em conjunto com os novos visuais avistados nos seus novos videoclips, incitarem rumores de satanismo.

A cantora sabe fazer boa música Pop e dosear correctamente a dualidade entre cantar e rappear, dando origem à sua música com sucesso - basta observar as suas estatísticas: os números falam por si próprios.

Contudo, Doja quis mudar sua direcção artística e provar que não a podem delimitar com as suas expectativas. Em tweets já apagados, a artista expressou a sua vontade de evidenciar a todos que também sabe fazer música mais inclinada para o Hip-Hop e Rap, com intenções de apurar as suas rimas para ser levada a sério.