Olá, caro leitor!
Hoje eu quero trazer uma reflexão sobre a nossa sociedade e o desenvolvimento dela, unindo um jogo que eu admiro muito e me arrisco de vez em quando: o poker. Basicamente, para quem não conhece o jogo, vence o jogador que possuir mais sorte; depois, o jogador que conseguir parecer que teve mais sorte que os demais, o famoso blefe. Note que, blefar não é necessariamente mentir, mas sim fazer o jogador acreditar que você teve mais sorte que ele.
Se o blefe dará certo ou não, vai depender de uma série de variáveis que veremos daqui a pouco. Quando falamos da vida das pessoas, seria muito estranho trazer tudo para o campo da sorte, visto que, temos variáveis sociais complexas no meio do caminho e que podem fazer os meios justificarem, ou não, os fins. Por isso, vamos tentar ser mais lúdicos para que a comparação seja honesta intelectualmente com todos os personagens envolvidos.
Então, vamos falar de poker. Está pronto? Então vamos começar! O poker é um jogo de cartas com diferentes vertentes, talvez a mais famosa seja a texas hold’em, nesse jogo, basicamente vence aquele que possui a mão mais forte na combinação mão + mesa. Isso mesmo, as cartas da mesa compõem a sua mão.
Então, o jogo começa com os jogadores recebendo 2 cartas aleatórias do baralho. Um jogador faz a aposta mínima da mesa e os demais devem decidir se irão seguir no jogo, apostando o mesmo valor; se irão aumentar o valor da aposta; ou se irão se abster daquela rodada. Ao final dessa primeira rodada de apostas, temos duas opções: seguir com o jogo, caso ninguém suba o valor da aposta inicial; ou fazer outra rodada de recolhimento de apostas; caso alguém tenha subido o valor do pote. Agora, serão colocadas três cartas na mesa e viradas para cima, novamente teremos a rodada de apostas. Depois temos mais uma carta virada para cima; apostas; outra carta; apostas novamente.
Você deve ter percebido que temos diferentes momentos nesse jogo. No primeiro, apostamos as cegas, apenas com aquilo que temos em mãos. Geralmente, os jogadores com mãos fracas tenderão a se abster de jogar, evitando assim perder uma fração da sua banca apostando. O jogador que abriu não terá essa opção e deverá no mínimo renunciar à sua aposta inicial. No segundo momento, temos os jogadores apostando com 5/7 das cartas vistas, ou seja, boa parte do que a rodada tem para oferecer já é conhecido. No terceiro momento temos 6/7 e no quarto 7/7. Note que, sempre que abandonar a mão no segundo momento em diante, será necessário renunciar ao valor apostado. Você deve estar pensando “tá, mas e o que a sociedade tem a ver com isso?”.
Aqui que eu quero jogar pimenta nesse molho. Assim como no poker, temos pessoas que não podem renunciar ao seu capital para tentar se manter no “jogo”, ou não pode “se retirar” por muitas partidas seguidas, pois ao fazê-lo se empobrecerá ao longo tempo. Então, em algum momento ele terá que puxar o gatilho, ou até, será obrigado a participar de uma rodada que é desfavorável para as cartas que tem, só para não perder passivamente.
Então, aquela pessoa em condições mais desfavoráveis terá dificuldades de passar por longas fases de prejuízos tentando, seja empreender, seja buscar uma nova recolocação no mercado de trabalho, seja fazendo um curso novo etc. Já aqueles, que possuem uma banca confortável, poderá sempre esperar por uma mão mais favorável para si, ou até forçar uma situação em que o outro jogador terá que ceder.
Ou ainda, caso seja um jogador mais arrojado, poderá sempre tentar se manter dentro do jogo esperando a próxima carta da mesa ser virada e só aí, decidir para onde quer conduzir o jogo. Repare que quem tem a maior banca, sempre terá tempo para decidir a melhor oportunidade. Então, pode-se decidir entre arriscar em um emprego novo ou não, em uma nova faculdade ou até em tirar aquele ano sabático.
Entretanto, a maior perversidade não está aí. Afinal, a nossa banca foi decidida assim que nascemos. Ou você acha que alguém escolheria nascer pobre por livre e espontânea vontade? A maior perversidade está no blefe, ou melhor, em como você pode usá-lo como uma arma social de alto calibre. Enganar em um jogo faz parte da essência do próprio jogo, não acredita nisso? Assista Kakegurui! O problema é quando o seu blefe combinado com sua banca pode mudar o rumo de praticamente qualquer mão. No poker, as mãos possuem diferentes valores, sendo listadas a seguir da ordem de mais forte para a mais fraca:
Royal Flush: A, K, Q, J, 10, todos do mesmo naipe.
Straight Flush: Cinco cartas em sequência numérica, todas do mesmo naipe (por exemplo, 7, 8, 9, 10, J de copas).
Four of a Kind (Quadra): Quatro cartas do mesmo valor (por exemplo, 9, 9, 9, 9).
Full House: Três cartas de um valor e duas de outro (por exemplo, K, K, K, 3, 3).
Flush: Cinco cartas do mesmo naipe, mas não em sequência (por exemplo, A, 8, 5, 3, 2 de espadas).
Straight (Sequência): Cinco cartas em sequência numérica, mas de naipes diferentes (por exemplo, 5, 6, 7, 8, 9).
Three of a Kind (Trinca): Três cartas do mesmo valor (por exemplo, J, J, J).
Two Pair (Dois Pares): Duas cartas de um valor e duas cartas de outro valor (por exemplo, Q, Q, 5, 5).
One Pair (Um Par): Duas cartas do mesmo valor (por exemplo, 4, 4).
High Card (Carta Alta): Quando nenhuma das combinações acima é formada, ganha a mão com a carta de maior valor (por exemplo, A como a carta mais alta).
Então, repare que a menos que esteja com um Royal Flush nas suas 2 cartas da mão e as 3 da mesa, o blefe poderá sempre ter algum efeito sobre você. Quanto mais embaixo você está na lista, mais suscetível ao blefe estará.
Imagine que você tem dois pares (somando mão e mesa), caso o seu oponente tenha qualquer uma das mãos listas acima, ele ganhará de ti. Então, você com seus dois pares está com uma aposta de 100 dinheiros, se o seu oponente resolver subir o pote para 500 dinheiros, será se vale à pena arriscar? Existem 7 combinações melhores que a sua e apenas 3 piores, dependendo dos seus pares, os dele podem ser de cartas mais altas. Se 500 dinheiros for algo irrisório para você, talvez queira seguir no jogo, mas se for muito, provavelmente irá preferir parar.
A aversão ao risco costuma ser mais forte naqueles que não podem abusar dele. Para quem pode utilizá-lo como arma, é apenas mais um risco.
Uma outra perversidade ocorre quando as bancas de ambos os jogadores estão em patamares deveras distantes. Se um jogador possui uma banca de 1.000 dinheiros e o outro 100.000 dinheiros. Um all-in do jogador, menos abastado, bem-sucedido irá provocar um prejuízo de 1% na banca do outro jogador. Note que um arriscou 100% e o outro míseros 1%. Então, a ideia de gerenciamento de risco é totalmente desproporcional. Para um, a falência precisaria de diversas jogadas malsucedidas; para o outro apenas uma ou duas já são o suficiente para tirá-lo do jogo.
Então, assim como no poker; na vida é muito difícil para um jogador com banca inferior impor suas vontades sobre o jogador mais abastado, de vez em quando acontece, mas será sempre a exceção e não a regra. Sendo assim, já tirou as suas cartas e impôs ou foi imposto hoje?