Um assunto muito debatido nos últimos tempos e ainda assim há muito a se falar. O grande problema da nossa geração é conseguir ser um jovem adulto nos seus 20 e poucos anos realizado. Isso porque antes tínhamos um roteiro pré-definido do sucesso: ir pra escola, fazer faculdade e, como consequência, conseguiríamos ter o emprego dos sonhos, daí pra frente os outros pormenores da vida adulta como carro, casa própria e viagens viriam em seguida. O que não estávamos preparados, e me incluo nisso, é que pra agora as coisas andam um pouco mais distantes de se tornarem reais, e o roteiro que parece tão simples, no papel se torna uma história velha de anos e anos atrás.

Desta forma venho falar de mim, da minha experiência como jovem nos dias de hoje e como os sonhos de conseguir o que tanto quis só me gerou uma alta expectativa e frustração. Me formei em jornalismo há uns anos atrás, um grande sonho realizado, muitos disseram que já tinha assinado minha sentença, afinal trabalhar com isso, ainda que seja uma das profissões mais antigas e tradicionais, era quase impossível.

Mas lá estava eu, sempre curiosa com o mundo, nesse sonho de fazer parte de algo maior e criar histórias. Fiz tudo conforme o esperado, estudei muito, tirei boas notas e me dedicava aos trabalhos, fácil, fácil, um dia estaria em jornais, numa revista, assessoria ou na produção de algo maior, quem sabe até viraria uma escritora de romances. Cada vez que aprendia algo sobre a profissão na faculdade mais eu me apaixonava. Pensava que por ser uma área tão abrangente eu chegaria aonde queria e me colocaria no mercado de trabalho rapidamente.

Posso dizer que tive algumas experiências nos estágios em que fiz, assessoria de comunicação, departamento de marketing, produtora de conteúdo e até Social Media. Foram experiências válidas e aprendi bastante em diversas áreas e desenvolvendo várias habilidades. Entretanto, nada efetivo havia na minha cidade pra trabalhar assim, e conseguir por conta própria se tornou concorrido, o mercado se fechava e pra trás eu ficava. Mudei de cidade, mudei de estado e de país e nada adiantou. Todas as portas e janelas parecem cada dia mais altas, cada dia mais duras e a vida adulta vira esse anseio confuso e doloroso. Comecei a duvidar do meu próprio potencial, afinal o João, a Maria, a Ana, o Daniel conseguiram, por que eu não?

E então entra aquela sobrecarga de autocobrança, já não sei separar a competência com a falta de oportunidades. Frustrante. E várias vezes me pego pensando – Por que não escolhi outra coisa pra fazer da vida? Ou deveria nem ter perdido tempo estudando. Afinal continuo na mesma, meu diploma pendurado e decepção no rosto da família.

Claro que não sou um caso isolado, não é apenas a minha profissão. Muitos estudos, pesquisas, artigos e números mostram o mesmo mal. Amigos que fiz ao longo dessa caminhada confessam o mesmo, o mercado de trabalho fechado, aluguéis altos, comprar a casa própria antes dos 30 anos fica pra outro futuro. Alguns de nós, pra lidar com as contas, arrumamos dois empregos. Nos sentimos atrasados em relação a vida, numa meta pré-estabelecida e difícil de ser alcançada. O hábito de nos comparar com quem já conseguiu é um péssimo mas inevitável companheiro, afinal estamos sempre a questionar onde nós erramos. Nosso roteiro para o sucesso profissional e pessoal agora modificados, já não temos a fórmula certa para isso.

É cansativo, nadar, nadar e nadar. Hoje sinto-me cansada, ainda amo escrever, ainda busco aprimorar conhecimentos, estudo sem parar, ainda quero tanto do mundo, mas o cansaço e o medo de não chegar a lugar algum me paralisa em tantas etapas do caminho. Lembro-me do filme La La Land, onde a personagem Mia, de Emma Stone, já exausta das tentativas de se tornar atriz fala pra Seb, Ryan Gosling, “Talvez eu seja uma daquelas que sempre quis fazer isso, mas seja um sonho distante pra mim, sabe? Você mesmo disse: muda-se de sonhos e se amadurece”.

No fundo apesar de todas as dificuldades que todos nós enfrentamos, somos a geração que se recusa a desistir. Seja advogado, engenheiro, professora ou jornalista, penso que em algum momento a frustração dará lugar à realização.