Eu sempre acreditei que meu maior feito na vida era ser mãe. Além de mim, várias pessoas ao meu redor validavam minha maternidade. "Você nasceu para isso", diziam. "Que sorte têm seus filhos." E, por muito tempo, eu também acreditei nisso.
Mas agora, algo mudou. Estou exausta. Não daquela exaustão física passageira, que um banho quente e uma noite de sono resolvem. Estou cansada no fundo da alma. Sinto como se tivesse corrido uma maratona sem linha de chegada. De repente, aquilo que sempre considerei meu maior dom se tornou meu maior pesadelo.
E antes que alguém diga que estou reclamando de barriga cheia, já adianto: não posso dizer que minha vida foi difícil no sentido convencional. Meus filhos, um casal, hoje ele 22 e ela 17 anos, estão encaminhados. Nunca me deram trabalho na escola, não se envolveram com drogas, não se meteram com más companhias. São educados, responsáveis.
Então, por que me sinto assim?
Talvez eu precise voltar um pouco para explicar.
Entre a escolha e a obrigação
Eu me casei com o pai deles sem estar apaixonada. Não era uma história de amor arrebatador, mas de segurança. Depois de ter sido traída pelo meu "quase noivo" — com a namorada do meu irmão, que também era minha amiga de infância —, achei que o melhor caminho era encontrar alguém que não me magoaria.
Ele também vinha de uma decepção amorosa, traído pela ex. Talvez isso tenha nos aproximado. O tempo passou, casamos, e sempre fomos muito diferentes. As diferenças, que pareciam pequenas no início, começaram a gritar com a convivência. Desde gostos banais, como estilo musical, até questões mais profundas, como a visão sobre a vida e a criação dos filhos.
Eu queria ser mãe. Ele não tinha certeza. Mas também não se opôs. Então, seguimos em frente.
O preço da maternidade
Entre meus filhos, tive duas gestações anembrionárias. Meu corpo se preparou para gerar uma vida, mas, por alguma falha genética, os embriões não se desenvolveram. Dizem que isso é comum, que muitas mulheres nem percebem quando acontece. Mas, comigo, aconteceu duas vezes.
Me disseram que era como "ganhar na loteria", mas para mim foi um inferno. Na segunda vez, quase perdi minha vida.
Lembro da hemorragia intensa, da correria para o hospital, do momento, no centro cirúrgico em que ouvi um médico dizer:
— Eita, ela vai morrer, estourou a artéria principal.
Meu único pensamento foi: Não posso morrer agora. Meu filho tem apenas cinco anos. Ele precisa de mim. Meu médico, em resposta, gritou:
— Seda ela agora, eu não vou perdê-la de jeito nenhum!
Acordei depois da cirurgia, sem o bebê que nunca existiu, sem forças, mas viva.
O começo da exaustão
Meu primeiro filho teve refluxo oculto e, por um ano, dormi sentada. Ele precisava ficar ereto, então eu o mantinha no canguru, colado ao meu peito, enquanto meu corpo implorava por descanso.
Nos primeiros 15 dias após o nascimento, tive mastite. Meus seios queimavam em febre, a amamentação era uma dor insuportável, mas eu insisti. Amamentei até os dois anos. Afinal, ser mãe é sobre persistência, não é?
Minha segunda gravidez foi mais tranquila, porque eu já sabia o que esperar. Mas a maternidade nunca deixa de surpreender.
Eu sempre soube que os desafios não eram as noites em claro ou os primeiros passos. O verdadeiro peso estava na responsabilidade de formar um ser humano.
E o que dói mais? Ver que, agora, eles só lembram das minhas falhas.
A ingratidão dos filhos
Dizem que o amor de mãe é incondicional. Mas será que o amor dos filhos também é?
Hoje, quando olho para eles, vejo dois jovens cheios de bondade no coração, responsáveis e honrados. Sei que fiz um bom trabalho. Mas, para eles, o que parece pesar mais não são os anos de entrega, as noites sem dormir, os sacrifícios silenciosos. São os momentos em que, na visão deles, eu falhei.
— Você nunca me ouviu de verdade.
— Você não entende o que eu sinto.
— Você sempre quis estar certa.
Eles não percebem o preço que paguei por cada "não", por cada atitude tomada para educá-los, para que se tornassem exatamente quem são hoje. Não sou amiga deles. Sou mãe. E ser mãe é muito mais.
Porque ser mãe não é sobre concordar com tudo, nem sobre ser a melhor amiga, e sim sobre ser a base. É sobre suportar a ingratidão sem devolver na mesma moeda. É sobre carregar um fardo invisível e, ainda assim, continuar em pé.
Mas há dias em que me pergunto: por que tanto esforço se, no final, tudo o que lembram são os momentos em que errei?
O peso invisível
A sociedade romantiza a maternidade, mas ninguém fala sobre a exaustão silenciosa, sobre como nos tornamos invisíveis dentro do nosso próprio papel. Quando os filhos são pequenos, somos mães em tempo integral. Quando crescem, ainda somos esperadas para estar disponíveis, mas de um jeito diferente.
Eles não precisam mais que eu os embale à noite, mas esperam que eu esteja ali, sempre, resolvendo problemas, oferecendo suporte, sendo forte.
E eu? Quem me dá suporte?
A coragem de admitir
Hoje, digo sem medo: estou cansada. E mais do que isso, quero encontrar a mim mesma. Sei que a maternidade não acaba quando os filhos crescem. Mas talvez seja hora de viver para mim também.
Não, eu não quero deixar de ser mãe. Mas quero ser mais do que isso. Quero me redescobrir.
E se isso parece errado, então que seja. Porque, pela primeira vez, estou pensando em mim.
Ser mãe, nunca foi sobre dívida... Mas, é sobre a dádiva de amar, até mesmo quando os filhos nem merecem.