O Brasil é hoje o país que mais realiza cirurgias plásticas no mundo, ultrapassando Estados Unidos e México, respectivamente. Um dado alarmante que leva em torno de 1.5 milhão de pessoas anualmente ao centro cirúrgico em nosso país. De acordo com dados da Sociedade Internacional de Cirúrgia Plástica (ISAPS) e da Sociedade Brasileira de Cirúrgia Plástica (SBCP).
Em termos globais a cirurgia plástica mais realizada é o implante de silicone, seguida pela lipoaspiração. Sendo a segunda, líder no Brasil, representando um total de 15,5% das cirurgias realizadas em território nacional. De forma suscinta, um procedimento onde se realiza pequenas incisões no corpo afim de que cânulas (instrumento similar a agulhas) sejam inseridas para aspirar a gordura localizada.
Em relação aos procedimentos não cirúrgicos, a aplicação de toxina botulínica (botox), muito utilizada no combate a rugas e marcas de expressão lidera aqui e também, mundo afora.
Procedimentos a cada dia mais procurados principalmente por mulheres, mas com um aumento significativo nos últimos anos, também, por homens, na busca por resultados rápidos e, quase sempre, puramente estéticos.
Neste cenário, contudo, pouco se fala dos riscos eminentes a todos estes procedimentos. Recentemente, uma pessoa conhecida na faixa dos seus 40 anos veio a óbito por consequência de uma cirurgia estética. Os pulmões colapsaram após um procedimento de lipoenxertia, seguido de lipoaspiração. Procedimento este também denominado de lipoescultura. Ou seja, quando se retira gordura de determinadas áreas do corpo, como abdome, coxas, flancos, culotes, etc., e a insere em outras áreas para aumentar seu volume, como glúteos e coxas.
Os riscos mais graves deste tipo de procedimento, apesar de pouco falados são: embolia pulmonar, parada cardiorrespiratória e tromboembolismo. E no caso dela, foi o que aconteceu. Mesmo tendo sido acompanhada por médicos renomados em um dos mais bem conceituados hospitais do país. Prova de que qualquer pessoa, mesmo nas melhores condições, está sujeita a riscos.
Imagine, agora, o número de pessoas que se submetem a procedimentos como estes em condições precárias na mão de profissionais pouco experientes ou mal formados? O percentual de risco aumenta consideravelmente, não é mesmo? Cenário cada vez mais recorrente nos dias atuais, onde nos últimos 10 anos mais de 200 cursos de medicina foram abertos no país em faculdades particulares, muitas das quais sequer exigem preparo de seus ingressantes, focando, em especial, na capacidade financeira de seus alunos, que chegam a arcar com mensalidades na faixa dos R$ 14.000,00. No meio deste movimento, não raro, também, são os alunos que apelam a justiça para terem o direito legal de continuarem o curso, mesmo quando reprovados por seus professores. E neste jogo de interesses, respaldado pelo Estado, fica a questão, qual preparo terão estes profissionais amanhã? Um cenário alarmante.
Mas, além dos números, devemos pensar no ser humano em si. Ela, mãe de 2 meninas, profissional, esposa, filha, irmã... O quanto sua vida significava para todos aos seu redor? Uma pessoa saudável que ao decidir se submeter a um procedimento que lhe traria benefícios puramente estéticos, não acreditava, como tantas outras ao redor do mundo, que problemas extremamente graves poderiam acontecer, tirando-lhe, por fim, a vida.
O alerta aqui, mais do que tudo, é repensarmos no quanto este tipo de escolha, em prol da beleza e da vaidade, nos coloca em posição de extrema vulnerabilidade. Será que de fato este risco vale à pena? As redes sociais são outro fator que tem influenciado diretamente no crescente número de cirurgias estéticas realizadas ao redor do mundo. Uma vez que ao nos compararmos sempre com a “melhor versão” do outro, compramos a ideia, por assim dizer, de que se tantos fazem, não há problema em fazermos também. E nisto, nos esquecemos do quanto o que vemos ali é apenas um recorte, quase sempre evidenciado por filtros de todos os tipos, que alteram completamente a realidade. Mas, que acabam por moldar nossas decisões e expectativas.
É preciso reavaliar o quanto estamos fazendo escolhas meramente por conta do “efeito manada” ou o quanto elas são tomadas por uma real necessidade individual. E, ainda assim, questionar se as possíveis consequências destas decisões, em se falando de procedimentos extremamente invasivos, são válidas e se estamos dispostos, de fato, a arcar com elas.
No caso dos procedimentos não cirúrgicos, como o uso da toxina botulínica, inúmeros são os relatos de deformações decorrentes de tais procedimentos, muitas vezes atreladas ao baixo preparo dos profissionais ou por conta de reações alérgicas aos produtos utilizados.
É importante lembrar que qualquer procedimento eletivo envolve inúmeros riscos, seja pelo meio (profissionais, aparelhos, local, assepsia, etc), quanto fisiológico, visto que cada organismo tem uma resposta individual, e, mesmo que tais riscos sejam teoricamente calculados, outros não são. E é aí que habitam as tragédias, que são muito mais numerosas do que imaginamos. Infelizmente.