A flor de lótus só floresce em meio ao pântano, porque houve antes uma destruição das camadas de sujeira que poderiam impedir o seu florescer.

Tudo o que existe e consideramos real também depende do prisma através do qual é visto. O céu de hoje é o mesmo de ontem e, no entanto, ele já não é o mesmo de um segundo atrás.

O desafio da humanidade ainda é conseguir aceitar uma outra forma de ver a vida. A palavra 'destruição' pode ser uma ação benéfica, dependendo do motivo pelo qual algo é destruído. No entanto, nossa mente está cheia de crenças que nos impedem de enxergar um sol mais brilhante.

No mundo ocidental, quando falamos em destruição, geralmente surge um sentimento negativo, como se tivéssemos perdido o jogo, não é mesmo? Isso acontece porque fomos ensinados a associar esse sentimento a algo ruim, e ninguém nos disse que a destruição também pode ser positiva em nossa cultura. Esse assunto é sempre recebido com desaprovação. A mentalidade ocidental tende a pensar rapidamente que destruir é perder, quando na verdade, para enxergarmos a destruição como cooperação, é necessário expandir nossa consciência e exercitar essa nova forma de pensar.

Somos educados para sermos construtores, edificadores e mantenedores, e não há nada de errado com esses valores importantes. No entanto, seria mais produtivo e positivo se esses conceitos não viessem tão carregados de crenças e ilusões. Seria mais fácil se a conduta para ser uma pessoa pacífica fosse mais bem explicada. Todos querem estar no topo, mas poucos estão dispostos a merecer isso. Muitos preferem camuflar em vez de destruir e reconstruir. Pouquíssimas pessoas vislumbram o que está envolvido nesse processo de construir, edificar e manter.

A maioria ainda está imersa e completamente envolvida no véu de Maya, iludida e envolta na crença de que serão e terão o que quiserem, sem questionar cuidadosamente se o caminho que seguem é realmente certo ou apenas mais um padrão repetido sem reflexão. A palavra 'destruição' significa literalmente o ato ou efeito de destruir, dar fim em algo, não carrega consigo nenhum sentido negativo intrínseco.

Esse sentimento ruim que temos em relação à palavra 'destruição' é fruto da mentalidade ocidentalizada. Porém, essa perspectiva não se aplica ao pensamento de um yogi. A filosofia do Yoga nos ensina o oposto exato, onde tudo já está presente, e a destruição faz parte desse todo. A dor é o resultado do apego e tende a trazer um grande sofrimento para aqueles que não aceitam o fim, a morte ou a destruição.

A dor é inevitável, o sofrimento é opcional.

(Buda)

O estilo de vida do Yoga nos guia para uma vida mais leve, nobre e aceitadora. Aprendemos constantemente que a destruição faz parte do processo de construção e que todas as coisas têm seu lugar adequado, cabendo a nós apenas viver e contemplar o nosso universo. Ao fazer isso, respeitamos os ciclos que a vida segue. Um exemplo simbólico dessa perspectiva é o Deus Shiva, o Deus da destruição, popularizado por um conhecido conto hindu. Shiva, após um período longe de casa, foi impedido de entrar por Ganapati, sem saber que era seu próprio filho cumprindo ordens maternas, num momento de Ira e cansaço Shiva decepou o guardião. Ele foi alertado por sua esposa que se tratava do filho deles. Em um momento de tristeza e arrependimento, Shiva prometeu corrigir o dano causado e sanar, dar fim a todo o sofrimento. Assim, ele colocou a cabeça de um elefantinho em seu filho, transformando-o em Ganesha, o Deus mais reverenciado de todos os tempos, o protetor dos portais. Esse conto nos mostra que destruir o material é necessário para se alcançar o absoluto. Recomendo vivamente a leitura desse relato.

Ao analisarmos as coisas calmamente, percebemos que essa abordagem tem sua razão de ser. Notaremos que a destruição também pode ser positiva, útil e valiosa. O ato de destruir ou eliminar algo não deve ser considerado pejorativo. Não devemos franzir a testa sempre que ouvimos a palavra 'destruir', ou soltar um 'Ih, vai desmanchar tudo'. Esse pensamento ocidental só existe porque temos preguiça de refazer e pressa em obter resultados. Por isso, desvalorizamos ou ocultamos facilmente o outro prisma da destruição, afirmando apenas que é algo negativo.

Falta-nos flexibilidade e apreço pelo discernimento e um puco mais de análise crítica. O pensamento ocidental é imediatista e, portanto, mais propenso ao sofrimento do que o pensamento oriental. Temos pressa em resolver, quando deveríamos buscar a compreensão das coisas. A destruição é a base do novo. Para que haja uma limpeza, a sujeira precisa ser destruída. Para se fazer algo bem-feito, evitando dor e pavor, deve-se eliminar as limitações da mente e cultivar entendimento, o que, por sua vez, trará mais amor às nossas ações. Sem destruir, sem mover as coisas do lugar, não poderemos reconstruir, erguer ou florescer. Aquilo que nos endurece, nos causa dor, nos torna entediados, com medo e raiva, deve ser destruído para que a liberdade reine e nosso corpo respire sem pressão e nem opressão.

Tudo aquilo que nos faz esquecer de quem somos, que nos afasta a alegria, a paz, a serenidade e a tranquilidade, deve ser eliminado. Não se pode construir nada de belo sobre o lixo, na podridão ou com egoísmo e soberba. Essas coisas devem ser destruídas assim que surgirem, não devemos nos apegar intensamente a elas, pois causam, tristezas, fraquezas e deixam feridas, elas devem ser extintas.

Devemos dar fim a qualquer elemento que nos torne negativos e arrogantes, que nos impede de alcançar a leveza, que prejudica a nossa capacidade de perceber, de entender e de sentir a clareza e a beleza ao nosso redor.

Toda construção requer a destruição prévia. O antigo se vai e o novo sempre chega, e nesse movimento belo e natural da vida, algumas coisas são destruídas para serem melhoradas e renovadas. Este é o maravilhoso ciclo eterno de renascimento e transformação, no qual a destruição desempenha um papel essencial.

Ao abraçarmos a noção de que a destruição é uma parte natural e necessária da vida, poderemos encarar as mudanças e os desafios com mais serenidade. Em vez de resistirmos e nos apegarmos ao que já não serve mais. Poderemos aprender a soltar e permitir que o processo de destruição abra espaço para o crescimento e a evolução.

Portanto, assim como a flor de lótus que emerge radiante do lodo do pântano, nós também podemos encontrar nossa verdadeira essência e florescer em meio às adversidades.

Ao deixar para trás as camadas de sujeira e limitações que nos impedem de expressar nosso potencial máximo, poderemos nos reconstruir em uma versão mais autêntica e plena de nós mesmos. A destruição, quando vista de forma consciente e não reativa, nos oferece uma oportunidade de reinvenção. Ela nos convida a questionar nossas crenças e padrões arraigados, a abandonar o que já não nos serve e a explorar novos horizontes.

É através desse processo que podemos descobrir novas habilidades, perspectivas e possibilidades, ampliando nossa compreensão do mundo e de nós mesmos. Portanto, ao invés de temer, negativar ou rejeitar a destruição, convido você a abraçá-la como uma aliada na jornada da vida. Reconheça que nem tudo que é destruído é uma perda, e sim uma nova oportunidade de crescimento e renovação. Tenha coragem para deixar ir o que já não é mais útil ou saudável, confiando que algo melhor surgirá no seu lugar.

Lembre-se, a destruição não é só o fim, ela pode ser um meio para construir uma realidade mais alinhada com quem somos e com o que desejamos alcançar. Ao cultivar essa mentalidade de aceitação e fluidez, poderemos abraçar o fluxo da vida com mais serenidade e sabedoria, encontrando a harmonia entre a destruição e a construção. Deixemos o Sol entrar e brilhar!