Vivemos, hoje, uma crise de sentido, capturada por uma forte desatenção face aos interesses nas gerações vindouras. Esta miopia generalizada explica, largamente, a presente crise económica. Superar esta situação impõe a restituição do genuíno sentido da economia, em prol das gerações vindouras, sendo que as línguas constituem uma componente fundamental para se alcançar esse desígnio.

A normalização instiga o colapso da diversidade linguística, fomenta a sua precariedade, chegando algumas das línguas a desaparecer num simples piscar de olhos. Esta realidade induz uma forte perda de sentido do mundo, na medida em que a difusão de uma língua constitui um factor de desenvolvimento económico. Os teóricos da «gravidade» demonstram que quando as populações de vários países partilham a mesma língua o seu crescimento e as suas trocas comerciais aumentam. Na universidade da Sorbonne temos varios estudos que vão no mesmo sentido.

O papel das línguas no comercio internacional

Além da distância física/absoluta, a barreira das línguas constitui um dos principais entraves ao comércio. Jacques Melitz e Farid Toubal demonstram que o uso de uma língua comum (a par da alfabetização) suscita substanciais benefícios comerciais. A existência de um campo de entendimento linguístico com parceiros estrangeiros fomenta a comunicação e a confiança mútuas constituindo, no seu todo, um verdadeiro promotor do comércio. As trocas entre dois países que partilham laços linguísticos tendem a ser, aproximadamente, 65% superiores do que se não partilhassem.

Inversamente, existe uma correlação negativa entre as barreiras linguísticas e o comércio: um aumento de 0,10 pontos do índice de obstrução linguística (que corresponde a uma diminuição de 10% das características linguísticas comuns) reduz as trocas em, aproximadamente 6,8% a 9,8%.

É óbvio que a barreira da língua no comércio de serviços é muito superior aquilo que acontece no comércio de bens. Contudo, no comércio de bens complexos de alto valor agregado a barreira linguística constitui um dos maiores entraves, exigindo uma comunicação directa entre o importador e o exportador.

A lusofonia: uma língua, um modo de vida e um espaço económico

Ora a lusofonia não é uma realidade imutável. A lusofonia é um fenómeno voluntarista por excelência: pode perder-se ou, se preservada, desenvolver-se. Neste contexto, devemos asseverar que a lusofonia e a lusofilia são dois conceitos intrinsecamente ligados: a lusofilia é uma porta para a aprendizagem da língua portuguesa e a lusofonia é uma porta para a lusofilia e para a aquisição de produtos lusófonos. Isto refere-se, especificamente, à língua portuguesa que, mais do que outras línguas, também personifica um modo de vida bem característico. Mais tarde, atribuir-se-á a designação de «lusofilofónicas» a essas unidades.

Além de uma zona de influência cultural e política, a «lusofilofonia» deve converter-se num espaço de desenvolvimento e de intercâmbios económicos. Pensar a lusofilofonia económica é utilizar a ferramenta da língua portuguesa e da cultura de que é portadora como alavanca de crescimento e de influência. Todos os países lusófonos e lusófilos têm de estar cientes dessa importância. Pertencer plenamente a uma união lusofilofónica e apoiar a difusão da língua portuguesa no mundo constitui o motor do crescimento sustentável e de criação de emprego para Portugal e para os demais países lusófonos. Negligenciando essa dimensão linguística identitária corre-se o risco de deixar o jogo da economia mundial no domínio digital, da investigação, das trocas comerciais, ou ainda do turismo...

O potencial da lusofonia é colosal tais como também são identificáveis as suas fragilidades. Então, faltam efectivas e agregadoras políticas linguísticas ou não?!