Nada é eterno – diz a celebre frase que um dia foi dita por alguém. Tudo que tem um começo também tem um fim. Entretanto, se existe alguma instituição nesse mundo qual ainda permanece e resiste ao tempo, esta instituição é a Igreja Católica.

Os ateus se recusam a crer no Divino, nos mundos invisíveis, nas forças opostas, porém, não existe outra explicação que não seja uma proteção Divina (seja ela boa ou má) para que uma instituição tão arcaica, injusta, e abusadora continue perpetuando suas práticas por quase mais de dois mil anos.

Em 06 de janeiro de 2002 o jornal Boston Globe trouxe à tona uma matéria sobre os casos de pedofilia cometidos pelos padres da arquidiocese de Boston. Segundo as investigações, mais de noventa padres foram identificados como agressores, abusadores, e violadores de menores de idade. Menores de idade estes que entraram para a catequese acreditando que a Igreja era o caminho da fé, da salvação, da servidão ao Criador, e principalmente, da dedicação e doação da sua alma e sua energia em prol de um bem maior. Infelizmente, não foi preciso muito tempo dentro desta instituição para que estes jovens percebessem que a única doação qual fariam seria de sua inocência perdida. Segundo os relatos dos jovens, agora adultos, os abusos iam desde de toques íntimos, passando por relações orais e agressões físicas, até chegar em momentos de penetração. O artigo publicado pelo jornal Boston Globe teve uma repercussão tão grande que o caso virou filme de Hollywood, lançado em 03 de setembro de 2015, com o título de “Spotlight”.

De acordo com o artigo, estima-se que que 7% dos padres e autoridades católicas da arquidiocese de Boston cometem ou cometeram abusos contra menores, chegando a um número entre mil a mil e duzentos agressores, somente na cidade de Boston, sem levar em consideração todo país dos Estados Unidos. Paralelo com o jornal Boston Globe, a Netflix também lançou um documentário com três episódios sob o título de “Exame de Consciência” que foca especificamente nos casos de pedofilia e abusos cometidos por padres e autoridades católicas somente na Espanha. O documentário expõe à tona relatos de pessoas que foram abusadas quando menores de idade em diversos colégios católicos por todo país.

Tanto em Spotlight quanto em Exame de Consciência, podemos observar que o mais absurdo e inacreditável é o padrão de comportamento de omissão da Igreja Católica perante os fatos apresentados. A Igreja, mesmo com todos os casos confirmados, insiste em negar o problema, e tenta de todos os modos abafar os fatos e silenciar os denunciadores. Assim como nenhuma punição adequada é imposta aos agressores. Os padres e líderes abusadores nunca são presos ou punidos. A única atitude da Igreja é transferir o abusador em questão para uma outra paróquia, ou outra arquidiocese, permitindo que o violador perpetue suas práticas com outros menores, além de estimular e fortalecer a ideia do “ser intocável”, protegido das leis civis sob o Santo Véu da Igreja Católica.

De acordo com a investigação feita pelo documentário, o número coincide com os dados apresentados pelo Boston Globe. Nos Estados Unidos, na Irlanda e na Austrália, estima-se que 7% dos padres e líderes da instituição são pedófilos e abusadores. Lamentavelmente, a Espanha não possui dados suficientes para se emitir um parecer fidedigno de quantos violadores existem no país, entretanto, se esta cifra estiver correta para uma análise global, somente na Espanha, isso representaria de mil e duzentos a mil e quinhentos padres e líderes violadores.

Mas a cereja do bolo ainda está por vir. Emanuela Orlandi foi uma adolescente de quinze anos de idade que, há trinta anos atrás, simplesmente desapareceu de dentro do território do Vaticano após começar a sofrer abusos de um cardeal que era muito próximo ao Papa João Paulo II. E o mais intrigante não é o seu desaparecimento de dentro de um dos territórios mais seguros do mundo. O mais intrigante é que seu possível sequestrador, o ex-chefe da máfia italiana Banda Della Maggliana, Erico di Pedis, está enterrado na igreja de San Apollinaire, um lugar teoricamente reservado somente para o sepultamento de cardeais, santos o mártires. O que um criminoso e ex-chefe da máfia está fazendo sepultado em uma Igreja Católica? Isso é um mistério qual a Igreja seguramente nunca irá revelar.

E aqui reside o problema. Por que a Igreja Católica continua tendo a permissão de manter segredos? Por que os arquivos do Vaticano são tratados como um assunto de segurança nacional? Onde ninguém tem acesso, não importa o quanto alto escalão pertença. Por que os padres, bispos, arcebispos e cardeais, mesmo sendo cidadãos como qualquer outro, não enfrentam os tribunais e processos civis? Sendo dado o direito de serem julgados por tribunais religiosos, que pertencem a mesma instituição. E por quanto tempo mais vamos ter que suportar os abusos e a impunidade perante a Igreja Católica?

Sim, sabemos que nada é eterno. Que tudo um dia chega ao fim. Porém, após quase dois mil anos de abusos e impunidade, isto nos faz questionar se realmente, um dia tudo isso chegará ao seu fim.