Como sabemos, a representação do infinito tem ocupado a humanidade há séculos em diferentes campos da expressão artística. No caso da literatura, destacamos em Portugal, Fernando Pessoa; António Gedeão, Camilo Pessanha; Florbela Espanca e Vergílio Ferreira.

A nível internacional sublinhamos a figura de Jorge Luis Borges, o grande escritor argentino que usou este conceito como tema recorrente nas suas diversas histórias.

Fernando Pessoa apresenta-nos o Universo como um Sonho de um Sonhador infinito:

“O Universo é o Sonho de um Sonhador Infinito

  1. Não conhecemos senão as nossas sensações. O universo é pois um simples conceito nosso.
  2. O universo porém - ao contrário de e em contraste com, as nossas fantasias e os nossos sonhos - revela, ao ser examinado, que tem uma ordem, que é regido por regras sem excepção a que chamamos leis.
  3. À parte isso, o universo, ou grande parte dele, é um «conceito» comum a todos os que são constituídos como nós: isto é, é um conceito do espírito humano.
  4. O universo é considerado objectivo, real - por isso e pela própria constituição dos nossos sentidos.
  5. Como objectivo, o universo é pois o conceito de um espírito infinito, único que pode sonhar de modo a criar. O universo é o sonho de um sonhador infinito e omnipotente.
    1. Como cada um de nós, ao vê-lo, ouvi-lo, etc., cria o universo, esse espírito infinito existe em todos nós.
  6. Como cada um de nós é parte do universo, esse espírito infinito, ao mesmo tempo que existe em nós, cria-nos a nós. Somos distintos e indistintos dele. ( …) “

(Fernando Pessoa, ' Textos Filosóficos')

Entretanto, António Gedeão, na sua Pedra Filosofal, continua esta ideia de sonho ligada ao infinito e ao Movimento Perpétuo, em que se insere o Poema.

Camilo Pessanha, por sua vez, in Clepsidra, transcende o tempo da água clepsídrico, da condição humana e deseja em Lúbrica : “Pela mente me passa em nuvem densa Um tropel infinito de desejos”- algo épico; uma metavida infinita.

Tal como Camilo Pessanha, Florbela Espanca deseja o excesso ad infinitum e confessa-se numa epístola:

O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade… sei lá de quê!

(Florbela Espanca, «Cartas a Guido Battelli»).

Já Vergílio Ferreira nos alerta que para além de nós estamos nós ainda, infinitamente e por isso a demora, a espera não tem que ser dolorosa:

“A Espera Do Prazer

O prazer que tu esperas varia na razão inversa do tempo de o esperares. E da inquietação também. Porque quanto mais esperas e te inquietas, menos prazer ele é. Espera-o no infinito para te não inquietares. E que ele seja depois o prazer que for. (…)”

(Vergílio Ferreira, in Pensar)

Quanto ao caso de Jorge Luis Borges, para o escritor o infinito é um conceito negativo e expressa esta sua visão em várias histórias, como é o caso de A Biblioteca de Babel, O livro de areia. Neste livro, Borges apresenta um infinito que evita qualquer regulamentação, que está acima de qualquer ordem e qualquer previsão. Esta metáfora sobre o infinito fala de um livro misterioso que o personagem principal recebe das mãos de um estranho. Trata-se de uma obra, que tal como a areia, não tem princípio nem fim: o número de páginas do livro é exactamente infinito.