Seja fumar, comer em excesso, chegar sempre atrasado ou falar antes de pensar, todos temos um (ou dois, ou três…) hábitos de que gostaríamos de nos livrar. Qual é o seu?

Porém, por mais que tente não consegue evitar e passados uns dias ou apenas umas horas volta a cair em tentação e a perpetuar o mesmo comportamento, mesmo sabendo que não o beneficia. Porque é que isto acontece?

Uma das principais razões que tornam um hábito algo tão difícil de evitar é o facto de ao tentarmos fazê-lo nos concentrarmos ainda mais nele. Se queremos deixar de fumar, pensamos “Não posso fumar!”. Se queremos emagrecer, pensamos “Não posso comer doces/fast food/salgados”. Se chegar atrasado já se tornou uma regra na nossa vida, tendemos a pensar “Não posso chegar atrasado outra vez”. É este padrão de pensamento o principal responsável pelo nosso fracasso e tal deve-se a um facto curioso relacionado com a Programação Neuro Linguística (PNL).

O nosso cérebro não processa a palavra “Não”

A PNL estuda a forma como o ser humano regista e transmite as suas experiências, utilizando o sistema nervoso e a linguagem verbal e não-verbal. O que a PNL descobriu é que o nosso cérebro tem dificuldade em processar a palavra “Não”. Se quiser comprovar, faça esta experiência: “Não pense no elefante cor-de-rosa”. Conseguiu?

O mesmo acontece quando diz ao seu cérebro “Não comas chocolate”. O cérebro apenas processa “Come chocolate” e fixa-se nessa ordem, pondo à prova toda a nossa força de vontade para resistir, até acabarmos por desistir. Tal acontece por falta de alternativas. Quando dizemos “Não faças isto”, o cérebro fica sem nenhuma ordem para seguir, acabando por fazer aquilo que conhece, ou seja, exatamente o que não queremos que faça.

Um hábito é uma escolha que em algum momento tomámos conscientemente e continuámos a repetir, deixando de tomar essa decisão e de pensar no motivo pelo qual o fazemos. É um comportamento automático e, muitas vezes, com o tempo já perdeu a sua finalidade, o seu sentido inicial. É preciso então, voltar a pensar no hábito, para que possamos alterá-lo.

O ciclo do hábito

Charles Duhigg, no seu livro O Poder do Hábito, dá-nos a conhecer o ciclo do hábito e explica como termos conhecimento desse ciclo nos ajuda a alterar os hábitos que não nos beneficiam e a transformá-los em hábitos mais produtivos. O ciclo do hábito é constituído por três momentos: o gatilho ou estímulo, a rotina ou comportamento e a recompensa. Isto significa que todos os nossos hábitos são desencadeados por algum tipo de estímulo e que, mesmo os hábitos mais destrutivos, oferecem uma recompensa. Para podermos alterar um hábito temos de conhecer o seu ciclo. Perceber o que desencadeia o nosso comportamento e que recompensa obtemos com ele.

Como alterar um hábito em 4 passos

  1. Identifique o seu comportamento. Duhigg fez uma experiência com um hábito seu que queria mudar: comia todos os dias uma bolacha de chocolate durante a tarde, enquanto fazia uma pausa e conversava com os colegas de trabalho, e isso estava a fazê-lo engordar.
  2. Experimente com recompensas. O autor tentou perceber o que o fazia ter vontade de se levantar e ir comer uma bolacha a essa hora, qual era a recompensa? Seria fome? Ou necessidade de uma pausa? Ou vontade de socializar um pouco com os colegas? Se fosse fome, poderia substituir a bolacha por uma maçã e o efeito seria o mesmo. Se se tratasse de vontade de fazer uma pausa ou de socializar, poderia dar uma volta pelo quarteirão ou parar junto à mesa de um colega e conversar um pouco. Fez várias experiências e anotou como se sentia quando regressava à secretária e como se sentia 15 minutos depois, já que, se fosse falta de açúcar ou de energia, o efeito não seria tão imediato. 15 minutos depois, continuava a ter vontade de comer a bolacha? Duhigg descobriu que não. A bolacha era apenas uma desculpa para fazer uma pausa e socializar um pouco.
  3. Descubra qual é o estímulo. Para perceber o que o fazia ter vontade de se levantar e ir comprar uma bolacha a meio da tarde, Duhigg iniciou um registo do seu hábito. A dificuldade de perceber qual é o estímulo que inicia o ciclo do hábito está no facto de existirem um sem número de variáveis. Felizmente, estudos concluíram que a maioria dos hábitos são desencadeados por estímulos que se encaixam nas seguintes categorias: hora, lugar, estado emocional, outras pessoas e ação imediatamente anterior. Sendo assim, durante algum tempo, o autor não fez qualquer esforço para alterar o hábito, apenas anotou a que horas ia comer a bolacha, onde estava naquele momento, como se sentia antes de se levantar, quem estava presente e o que tinha acabado de fazer. Concluiu que se levantava sempre entre as 15 horas e as 16 horas e que era o factor temporal que despoletava o estímulo.
  4. Tenha um plano. Uma vez que já tinha percebido que apenas precisava de uma pausa para socializar um pouco e que o estímulo era o factor temporal, Duhigg tinha o poder para alterar a sua rotina e criar um novo hábito. Traçou um plano: marcou o despertador para as 15:30 todos os dias e, quando ele tocava, levantava-se e ia conversar com um amigo durante 10 minutos. Depois voltava para a sua secretária, sem comer a bolacha e chegava ao fim do dia a sentir-se melhor por esta pequena conquista. Claro que nem sempre correu bem, por vezes estava demasiado ocupado no momento e ignorava o despertador, acabando por ir comprar a bolacha mais tarde; ou ficava com preguiça de encontrar um amigo para conversar, acabando por ir comer a bolacha em vez disso. Mas sempre que conseguia fazer esta alteração na rotina, sentia que tinha conseguido uma pequena vitória. Com o passar do tempo, esta nova rotina tornou-se automática, perdeu o relógio com o despertador e continuou a levantar-se por volta das 15:30 e a ir conversar com um amigo por 10 minutos. Tinha um novo hábito.

Pense num hábito que tenha e experimente estes 4 passos para compreender o seu ciclo e alterar a sua rotina. Vai ter mais controlo na sua vida e substituir comportamentos prejudiciais por novos, mais produtivos e alinhados com os seus objetivos de vida.