O tacto revela as mil e uma diferenças que cada pedaço de matéria tem para nos oferecer. Entre o despertar e o adormece experienciamos, consciente e inconscientemente, uma vasta sequência de texturas através dos sentidos. Todo o corpo funciona como fonte captadora de estímulos externos que o nosso intelecto processa através daquilo a que convencionalmente determinamos por sensações. A matéria sofre particular escrutínio através dos cinco sentidos: a textura sobressai como uma das suas múltiplas facetas. O espaço é composto por matéria: do mais pequeno quarto de uma casa à maior praça de uma cidade. Os materiais participam decisivamente na interpretação que fazemos de determinado momento ou lugar: da areia ao alcatrão, da relva húmida ao granito polido da calçada. A sua escolha, manipulação e aplicação em qualquer projeto significa sempre a interação entre indivíduos e o espaço que estes materializam. Julgo que poucas vezes nos apercebemos que o primeiro contacto físico que estabelecemos com um qualquer edifício ao longo da nossa vida se resume a um só gesto e objeto: o puxador de mil e uma portas. A luz revela o início de um novo dia. O olhar capta sucessivamente - e ao longo da nossa existência - a transição entre escuridão e luz. O despertar que a todos toca anuncia a primeira percepção desta mudança. A pálpebra age como uma portada: oculta a presença de luz. Ao acordarmos, mecanicamente abrimos a nossa visão para o ambiente que nos rodeia: um quarto totalmente escuro ou por vezes entreaberto à passagem da luz. O corpo ergue-se. As mãos procuram a fonte de luz mais próxima: a janela abre-se ao mundo exterior. Por vezes, somos suavemente encadeados pela rápida transição entre escuridão e claridade. O espaço abre as suas pálpebras, inunda-nos com a luz exterior modelada pela forma dos seus olhos: as janelas de todos edifícios que habitamos. Do nascente ao poente, cada espaço descreve um determinado tipo de experiência sensorial conforme a sua dimensão e escala. A luz e a sombra desencadeiam múltiplas configurações no espaço, revelando materiais, criando momentos de conforto e desconforto; Assim como um olhar contínuo sobre o sol conduz a um estado momentâneo de cegueira, também a ausência de visão se revela uma condição difícil para qualquer indivíduo. As janelas dos nossos espaços vitais são uma extensão do nosso olhar sobre o mundo. Um olhar aberto às dinâmicas da luz e das suas múltiplas cambiantes.