Quem não gosta de um dedinho de prosa rápida, daqueles bate-papos inesperados com pessoas que gostamos e encontramos na rua de vez em quando? Eu sou fã, ainda mais quando essa conversa vai se esticando e terminamos no balcão de uma padaria tomando um café e comendo um pão de queijo, como todo bom mineiro que sou, adoro a combinação!

No meio da correria diária, quando estamos atolados em serviço, o telefone tocando sem parar, a maioria ligações de banco querendo vender algum investimento, ou telefônica oferecendo mudança de plano para “melhorar a sua experiência” e poucas ligações realmente interessantes, como é bom encontrar um amigo disposto a conversar um pouco e tomar um café, alivia o momento e renova a energia.

Tenho dito que a vida anda chata ultimamente, cheia de cobranças, de coaches enchendo a paciência com um monte de coisas que não me interessam, com pessoas se achando a última bolacha do pacote, que é sempre a mais quebrada de todas, com chefes estressados, cobrando o que nem eles conseguem entregar, ainda bem que não tenho chefe, e ainda por cima sol e chuva para a mistura ficar mais estressante.

Mas existem as ilhas de sossego, quando temos a chance de encontrar uma boa alma, que também lá no fundo estava doida para te encontrar, ou não exatamente, para se aliviar da vida corrida e desacelerar um pouco tomando um café falando da vida dos outros, fofocando um pouco, reclamando, o que fazer quanto a isso? Escutar e reclamar também, querendo mostrar que seu problema é maior do que o dele, a famosa disputa de problemas, o meu sempre será maior do que o seu, mesmo que não seja.

Eu amo as padarias, não sou muito chegado a ficar na mesa, tem pessoas que fazem questão de se sentar, eu gosto mesmo do empurra-empurra do balcão, ficar em pé e observar todo o movimento enquanto troco dois dedos de prosa displicente. Se não for na padaria pode ser em um botequim mesmo, desde que o café esteja quentinho na garrafa térmica e tenha pelo menos um pedaço de queijo minas para acompanhar, se não tiver, fazer o que? Aproveitar a companhia!

Prosear era mais comum há uns anos atrás, quando a vida era menos corrida e o mundo girava mais devagar, agora as pessoas andam tão ensimesmadas perdidas nos celulares para não perderem nenhuma nova mentira postada por alguém que elas seguem, ou mesmo para postarem suas próprias mentiras e parecerem o que não são, e o mundo gira a uma velocidade estonteante, qualquer vacilo e passou o tempo sem ser aproveitado dignamente.

Eu não sei se o tempo está mesmo passando mais rápido, ou se somos nós que deixamos de observar a sua passagem por conta da correria, acredito que o tempo continua assim como foi estabelecido em algum momento da história, o dia com vinte e quatro horas e o anos com trezentos e sessenta e cindo dias, fora os trezentos e sessenta e seis dos anos bissextos, se nada mudou, então péssimo, pois mudou a nossa percepção dele, isso há muito tempo, quanto? Sei não, perdi a conta.

O fato é que algumas vezes o prosear sem pressa também fica chato, porque entre uma prosa e outra o danado do celular é consultado, mesmo que não toque naquele bendito momento, parece uma coisa, como disse um cara que vi numa palestra “é o Capeta!”, deve ser mesmo coisa do “coisa ruim” esse treco que vai dentro do bolso, no meu caso é onde ele fica a maior parte do tempo quando estou na rua, mas as pessoas andam olhando para aquilo como se ali fosse o mundo real, se esquecendo do mundo real de verdade.

Eu não gosto de resolver nada pelo celular, não gosto de reuniões virtuais, prefiro o olho no olho, falar com gente de verdade, resolver a coisa no fio do bigode, como bom cavalheiro, posso ser antiquado, nem ligo, mas gosto da coisa pessoal e do virtual só para marcar o encontro pessoal. O que me deixa fulo no aplicativo de mensagem é a mania que as pessoas agora têm de configurar para não marcar de azul quando a mensagem é vista, eu acho uma falta de delicadeza com quem envia, deixa a gente, pelo menos eu fico, estressado, principalmente quando levam uma eternidade para responder, entenderam por que eu gosto do olho no olho?

A tecnologia veio para ajudar, não nego, mas ela atrapalha, já viu uma mesa de bar como hoje é sem graça? Cada um fica olhando para o seu próprio celular, preocupado com o que está acontecendo a quilômetros dali e nem se dá conta de que bem pertinho tem alguém para trocar aquela boa conversa fiada de boteco regada a uma cervejinha gelada, acompanhada de um torresmo, êta que maravilha! Mas é um saco!

Eu gostaria de voltar um pouco no tempo, não muito, mas até o ponto em que as pessoas se olhavam, rolava uma azaração no barzinho, entre uma piscadela e outra uma conversa no pé do ouvido e, match, um beijo na boca. Agora o match é nesses apps de relacionamento, onde a pessoa coloca uma foto toda cheia de filtro que parece um boneco de tão artificial que fica, quando encontra pessoalmente deve dar vontade de correr, Deus me livre!

Bom era o tempo do disque amizade, quando a gente discava o 145 e conversava fiado com um monte de gente e vez ou outra marcava de encontrar com alguma garota, combinávamos a roupa, íamos com a roupa trocada, e mesmo assim ainda dava certo algumas vezes, pelo menos não íamos esperando uma Barbie e encontrávamos a bruxa, era divertido, até quando levávamos um bolo, valia a brincadeira. Hoje, se for só o problema da foto, tudo bem, contornável, mas e os que usam os aplicativos para roubarem os incautos?

Portanto, meus amigos e amigas, nada melhor do que um café no balcão de uma padaria, com uma pessoa agradável, sem celular e nem aplicativos de mensagens e de encontros, se o café vier acompanhado de um pão de queijo então, melhor não pode ficar!