Estudos de dinâmica de corpos transientes surge como uma cartografia especulativa de um território marcado por camadas estratificadas de extração e abandono, entendidas não apenas como condições materiais, mas também como dispositivos simbólicos. Concebidos a partir de processos de arte pública socialmente engajada com as comunidades do Canal Caveira e do Lousal, estes estudos exploram as dinâmicas de ressonância entre a paisagem, a memória e a figuração mítica. Interrogam os regimes de visibilidade e latência produzidos pela transição do século XIX para o século XX, período em que a industrialização redesenha profundamente este território.

Investigam-se as dimensões geológica e política dos planos de superfície — espaço intersticial entre a profundidade dos minerais, o desejo de extração e as extensas marcas de contaminação inscritas no tecido social, cultural e territorial. É neste lugar que se cruzam dinâmicas de contingência e resistência, expressas nas práticas culturais, nas mitologias locais e nas relações não-humanas que reinscrevem o território a partir das suas margens.

Os corpos, entendidos como formas transitórias de presença e inscrição, recusam a linearidade das narrativas hegemónicas e abrem espaço para uma política do sensível, inscrita no atrito e na duração. A descontinuidade dos processos históricos que configuram este território impregna-o de insurgência. Resistir, neste contexto, não implica confronto direto, mas sim a capacidade de habitar interstícios, persistir na margem, no irresolvido, no que escapa à fixação. A revolução não se manifesta, assim, como rutura, mas como rotação: um movimento contínuo, quase impercetível.