Solo explora o objecto artístico enquanto dispositivo de articulação com o lugar. Com este projecto experimento uma expansão do meu trabalho do palco para o domínio da instalação, envolvendo elementos escultóricos, arquitectónicos e performativos.
O título remete, ambiguamente, para uma relação com o chão (o piso, o solo), enquanto elemento sobre o qual se sustenta a grande maioria das nossas actividades, e cuja materialidade interfere constantemente com o nosso corpo, na sua relação com o espaço, a arquitectura, e os lugares. O chão, cuja expressão varia em cada lugar, é omnipresente enquanto entidade basilar da vida humana, mas também enquanto superfície de fronteira, que oculta um interior subterrâneo, visceral, subconsciente.
Um bloco de betão é arrastado lentamente pelo espaço da galeria, manifestando sonoramente as texturas, imperfeições, densidades e micro-configurações do chão, também de betão. O som desta fricção é amplificado, transformado e difundido por altifalantes posicionados em diálogo com uma linha de força que configura uma relação particular com a sala. Na resistência que o chão oferece à deslocação do bloco, é o atrito que soa. Mas o chão não é apenas um instrumento: a fricção é uma quase-inscrição, um quase-registo e, simultaneamente, uma (re)produção.
O título Solo sugere também uma modalidade performativa, uma actuação de solista. Essa possibilidade, inclina a peça para o domínio da performance, transformando o objecto que se arrasta numa espécie de performer, presente, vivo. Deste modo, a instalação propõe uma dimensão performativa, constituindo-se como um evento cíclico que se reinicia repetidamente, e com uma duração condicionada pela dimensão da sala.