As dez pinturas que Pedro o Novo apresenta nesta exposição enquadram-se, a meu ver, no espírito e na prática do que podemos designar por meta-pintura, ou seja, uma prática significante que interroga, nos dias de hoje, as possibilidades de existência e até de sobrevivência da Pintura, no contexto de um mundo artístico cada vez mais dominado pela sedução das múltiplas dimensões do digital, mas que nelas se não esgota.

Com efeito, são cada vez mais numerosos e diferentes os «regressos à Pintura», quer às tecnologias tradicionais, mesmo passando por processos digitais, como acontece com David Hockney, quer promovendo novas processualidades, assemblagens e formatos, como vemos com Anselm Kiefer, nos dois casos diversificando abordagens temáticas, cruzamentos ekfrásticos com a Poesia ou até a reinvenção dos géneros como a paisagem, o retrato e a natureza morta.

De grande parte disso participa a pintura de Pedro o Novo, ao escolher domínios preferencialmente autorreferenciais nas composições que apresenta, desde os acantos da tradição arquitetónica e escultórica clássica recuperados na sua imagem vegetal original e representados em «plantação», às múltiplas reordenações e revisitações do estúdio do Pintor e dos seus instrumentos de trabalho – a tela, os pincéis, o cavalete, a paleta, mas também outras ferramentas, passando pela ironia com que remete para outros momentos da História da Pintura, como o dos Primitivos Portugueses – que influencia a escolha do seu heterónimo ou «nome artístico» – ou o do «realismo» brugheliano ou, ainda, o dos ilusionismos barrocos.

Aliás, é precisamente a ironia a principal força motriz de toda esta pintura, ao jogar livremente com os elementos referenciais da própria tradição e da prática artísticas e ao criar ilusionismos vários com as telas e seus reversos, com o cavalete, as grades, os pincéis, a paleta e outros instrumentos e ferramentas, numa reinvenção carnavalesca dos géneros natureza morta e paisagem, celebrando, finalmente, para lá de todos os modismos estéreis do momento, a perenidade e a vitalidade da Pintura.

(Texto de Fernando António Baptista Pereira. Lisboa, Junho de 2025)