Dia desses encontrei uma amiga para tomar um café e ela me perguntou como eu estava. Minha vida estava um caos; estava desempregada de novo, estava passando por um momento difícil no meu relacionamento e vivia os meus dias no modo sobrevivência: dormia de dia e acordava de noite, me alimentava mal e não me exercitava. Estava à beira de um colapso, mas só tive forças para responder a ela: "A vida definitivamente não é um morango, amiga". Nós rimos e então ela foi me contar que estava passando por poucas e boas também, mas aquele simples momento de tomar um café juntas, papear e fazer piada com nossas próprias desgraças foi suficiente e magicamente responsável por aliviar um pouco da carga que é ser uma jovem chegando próximo aos 30 anos e que ainda está tentando entender o que está acontecendo na sua vida.

Depois do encontro, eu e essa minha amiga seguimos com nossas vidas, ela voltou para o trabalho que ela costumava reclamar porque precisava pagar boletos e eu continuei por um tempo ainda vivendo no meu modo sobrevivência. Um dia, porém, meu corpo e minha mente, colapsaram. Dormi por 14 horas seguidas e, quando acordei, sentia uma dor terrível nas costas, acredito que porque dormi muitas horas. Não o bastante, continuando minha tarefa de viver no modo sobrevivência, pedi uma pizza para o jantar e meu estômago simplesmente decidiu não a aceitar.

Dei uma ou duas mordidas no primeiro pedaço e não consegui mais comer. Meu próprio corpo estava me dizendo que não aguentava mais aquele tipo de comida e que eu precisava me alimentar melhor. Eu estava com fome, mas não consegui comer a pizza; joguei praticamente uma pizza inteira de frango com catupiry no lixo. Foi então que eu percebi que precisava mudar. Precisava de uma rotina mais saudável, procurar fazer um exercício físico, ocupar meu corpo e mente, enquanto buscava algo razoavelmente decente para trabalhar e pagar meus boletos (que naquela época eram muitos).

Decidi mudar, me matriculei na academia, procurei uma nutricionista, fiz uma dieta, passei a ter uma rotina mais saudável, comecei a dormir melhor e, aos poucos, tudo foi se encaixando. De uma vida entediante e sobrevivente da própria sorte, passei a ser uma inspiração de saúde e bem-estar e me tornei, de fato, a protagonista da minha própria vida. Passei a ser o orgulho da minha nutricionista e da minha terapeuta pois me permiti encontrar um novo caminho em meio ao caos que eu estava vivendo. Passei a de fato, ter fé de que as coisas melhorariam.

Uma vez ouvi uma frase numa série que guardei para mim: “Das profundezas da dor, nasce uma benção.” E foi exatamente aquilo que aconteceu comigo. Mergulhei na minha própria escuridão e lá fiz morada. Desisti de tudo: da minha saúde, da minha carreira, da minha vida amorosa... desisti de mim. Surtei, cavei minha própria cova. Chorei, reclamei, gritei, me desesperei, mas nada disso adiantou. Precisei de um choque de realidade para entender que, eu precisava ser a minha força, não importava o que acontecesse; eu tinha que enxugar as minhas lágrimas e acreditar que eu era o milagre (a benção) e não a minha dor (as profundezas).

Durante esse processo, ter fé foi crucial; a fé me ajudou a encontrar o caminho sem ter o chão, a fé me fez crer em algo que eu não estava vendo, a fé me ensinou, verdadeiramente, o significado de confiar e eu confiei. Confiei que tudo aquilo que eu estava passando era passageiro, confiei que a provisão viria, confiei que eu iria me recuperar emocional e financeiramente, confiei que tudo iria melhorar, confiei, acima de tudo, que no futuro, eu iria contar meu testemunho para outras pessoas, para inspirá-las e mostrar a elas o quão longe Deus me levou, simplesmente porque eu tive fé e confiei.

A fé é essencial no processo de cura, mas de nada adianta ter fé e não ter ação. Naquele momento difícil que eu estava passando, eu cheguei em um grande embate na minha vida: ou eu encarava o problema de frente e arrancava a raiz dele do meu coração ou eu ia passar por ciclos repetitivos até que eu aprendesse que eu precisava lidar, enfrentar e purificar a minha alma, porque nada nessa vida é por acaso, tudo sempre tem um propósito.

Eu sabia que eu precisava me curar, mas sabia que sozinha provavelmente seria muito difícil, então, eu procurei ajuda, eu me permiti encarar traumas do passado para que eu finalmente pudesse seguir em frente e prosperar. Algumas técnicas terapêuticas como a psicanálise e a constelação familiar me ajudaram a entender as origens de padrões milenares de dor e escassez que eu carregava comigo e, trazê-los para minha consciência e enfrentá-los de frente foi o que realmente me libertou para prosperar. Sem isso, provavelmente, por mais que eu quisesse, a minha vida estaria andando em círculos.

Viver uma mentira ou fugir de verdades difíceis pode até parecer mais fácil num primeiro momento, mas à medida que avançamos nas nossas vidas, aquilo que deveríamos ter abandonado, torna-se um peso morto no nosso coração e nos faz definhar até quase a própria morte até que tenhamos coragem para nos libertar. O processo de cura é sim, doloroso e desconfortável, mas ele também é libertador desde que você se permita curar suas feridas mal cicatrizadas e deixar para traz todo lixo emocional que não te pertence. Permita-se curar!