Dentre os grupos de animais modernos, as baleias ocupam um papel de destaque no imaginário popular devido ao seu tamanho impressionante. Nenhum animal em toda história atingiu tamanhos tão gigantescos. A Baleia Azul é o maior animal de toda a história da Terra, maior até mesmo que os gigantescos dinossauros. Mas esta constituição impressionante foi produto de uma evolução lenta que demorou milhões de anos para ser completa. As baleias evoluíram de animais pequenos que viviam na terra e tiveram que lutar para conquistar os mares do mundo todo.
Atualmente os parentes mais próximos dos cetáceos (grupo formado pelas baleias e golfinhos) são os hipopótamos, ambos os táxons de animais parecem ter se separado seguindo evoluções diferentes há cerca de 55 milhões de anos no começo da era dos mamíferos, pouco depois da extinção dos dinossauros. Os cetáceos parecem ser parentes de pequenos mamíferos onívoros do tamanho de guaxinins, entre eles o mais bem conhecido pela ciência é o Indohyus que viveu no Himalaia. Os ossos do Indohyus indicam que não era um nadador muito hábil, mas como tinha ossos pesados poderia passar parte do tempo dentro de águas rasas tateando o leito de rios e lagos. Este pode ter sido o começo da evolução em direção aos mares.
As primeiras baleias verdadeiras eram criaturas bem distintas das atuais, tinham corpos pouco hidrodinâmicos que lhes conferiam um visual estranho. As mais antigas possuíam patas que permitiam voltar à terra, e ao que indicam as evidências, deviam restringir sua presença apenas a locais de água doce dos rios e lagos e não chegavam ao mar aberto. O grupo das baleias primitivas é conhecido como Arqueocetos. Entre estas primeiras baleias estava o curioso Pakicetus que em nada lembra os seus descendentes. O Pakicetus possuía patas longas para andar no solo, cauda e um corpo similar ao de um predador da terra, mas provavelmente estava mais à vontade na água onde entrava para pegar pequenas presas. É possível que os Pakicetus e outros arqueocetos primitivos vivessem nos rios de modo similar aos crocodilos atacando animais que se aproximavam da água para beber.
Ainda que não fosse muito adaptado à água, o Pakicetus foi um passo na evolução, e a colonização dos mares estava próxima. Desde o fim da era dos dinossauros, os enormes répteis marítimos que controlavam os oceanos como os Mosassauro, Ictiossauros e Plesiossauros estavam todos extintos abrindo espaço para novos predadores ocuparem o ambiente. A água não possui tanto oxigênio disponível quanto o ar, portanto predadores que vieram da terra e possuem pulmões, mesmo que tenham a desvantagem de ter que vir à superfície para respirar, podem desenvolver corpos maiores do que criaturas que respiram através da água. Por isso o tamanho tão gigantesco das modernas baleias bem como dos antigos répteis mosassauros.
Após algum tempo surgiu outra baleia primitiva, chamada de Ambulocetus pelos cientistas, que significa “baleia que anda”. Apesar do nome, se assemelhava a um misto de lobo e crocodilo. Tinha uma cabeça grande para atacar as presas, cauda pequena e patas grandes com membranas para impulsioná-lo nas águas. Como utilizava as patas para nadar ao contrário da cauda, acredita-se que se locomovia se como uma lontra dentro d’água. Era um animal razoavelmente grande, do tamanho de um leão-marinho e pesava cerca de 300 quilos. Assim como o Pakicetus aparentemente caçava capturando presas que se aproximavam da água. De modo similar aos crocodilos, o Ambulocetus possuía os olhos no topo da cabeça o que permitia olhar para fora d’água mesmo quando submerso, preparando emboscadas para as presas. Provavelmente viviam em regiões próximas da costa como mares rasos ou manguezais.
Durante o período conhecido como Eoceno, o território do sul da Europa e da Ásia formavam uma ampla área submersa chamada Mar de Tétis, que forneciam um ambiente acolhedor de águas rasas. Neste lar favorável surgiu uma das mais impressionantes entre as baleias primitivas. Era o Basilossauro, chamado assim pois quando foi descoberto se imaginou que fosse um réptil gigante ao invés de uma baleia. O Basilossauro era um predador dominante que vagava pelo mar de tétis em busca de presas. Entre seus alvos estavam outras baleias menores conhecidas como dorudon. Ao contrário de outros cetáceos mais primitivos, o Basilossauro e seu primo dorudon eram animais puramente aquáticos que não possuíam patas e sim pequenas nadadeiras e tinham um corpo hidrodinâmico para atravessar as águas.
Apesar de suas adaptações para o oceano, esses animais enfrentariam uma grande ameaça, a era do gelo. A gigantesca mudança climática mudou drasticamente o ambiente causando a extinção dos arqueocetos bem como de diversos outros grupos de seres vivos, felizmente as baleias não desapareceram, apenas foram forçadas a evoluir e se originaram os chamados Neoceti, os cetáceos modernos. Os Neoceti logo se dividiram em dois grupos diferentes. De um lado estava as baleias sem dentes (mysticeti) que possuem cerdas em sua boca para filtrar a água capturando e engolindo pequenos animais. Do outro estão os cetáceos com dentes (odontoceti), grupo formado por golfinhos, belugas e cachalotes, os odontoceti desenvolveram a incrível capacidade de detectar seus alvos usando sonares que varrem o fundo do mar atrás de presas.
Ainda que as baleias sejam famosas por seu tamanho colossal, durante grande parte da era do gelo elas não atingiam os portes modernos, existia uma grande diversidade de espécies de baleias, a grande maioria de tamanhos bem menores do que as atuais. Não só isso, como as baleias não estavam no topo da cadeia alimentar, havia um predador para caçá-las. Este papel era ocupado pelo mais impressionante de todos os tubarões, o Megalodon que segundo estimativas podia atingir 18 metros de comprimento.
Ainda que o Megalodon fosse um predador dominante e a maior parte das baleias não fossem tão grandes, algumas conseguiam ser caçadores ferozes também. Hoje em dia se costuma imaginar as baleias como gigantes gentis que vagam pelos oceanos vagarosamente. Mas predadores também fizeram parte dos cetáceos. Essas baleias caçadoras eram parentes da modernas Cachalotes, uma das maiores de todas as odontoceti, eram conhecidas como “Cachalotes raptores” pelas suas habilidades de caça. Provavelmente eram predadores dominantes que tinham capacidade de matar qualquer animal dentro do seu ambiente similar às modernas Orcas que são fortes o bastante para abater mesmo tubarões e filhotes de baleias maiores.
A maior de todas as Cachalotes Raptores foi a incrível Livyatan, cujo nome veio do monstro bíblico Leviathan. A baleia conseguia atingir até 17 metros de comprimento, possuíam dentes grandes e fortes que eram usados para segurar suas presas. É bem provável que a Livyatan e o Megalodon competiam entre si, com ambos sendo os maiores predadores do mundo e caçando as mesmas presas, talvez até mesmo incluindo um ao outro na alimentação.
Esse mundo de baleias diversificadas se encerrou a poucos milhões de anos. Quando a região do que é hoje o Panamá começou a se formar, unindo as américas do norte e do sul, os ecossistemas marítimos foram seriamente afetados. A corrente de água equatorial que fornecia um ambiente acolhedor para as baleias foi interrompida, pois agora o fluxo de água não podia atravessar entre os oceanos. Sem tanto alimento fácil disponível as baleias tomaram outro rumo, as várias espécies de baleias de médio tamanho desapareceram e no lugar vieram as enormes baleias modernas que migram por quilômetros para achar alimento e preferem as águas frias da região polar ao invés do equador.
Por um lado tal mudança drástica extinguiu vários animais incríveis como a Livyatan, por outro permitiu que as gigantes modernas como a Baleia Azul surgissem nos oceanos atuais. Mesmo com sua rica história e seu tamanho invejável, as baleias não são intocáveis e estão sendo seriamente afetadas pela predação humana. Animais grandes costumam ter reproduções lentas que demoram décadas, portanto sendo muito vulneráveis a aumentos no número de mortes que acontecem de forma rápida. Por isso, para preservar essas criaturas com um longo legado no planeta uma maior preocupação com seu futuro é necessário por parte dos seres humanos.