Precisamos falar mais sobre doação voluntária de sangue.

Temos, no Brasil e em muitos outros países, a cultura de que o sangue deve chegar ao paciente e não que esteja sempre disponível. A doação sanguínea voluntária poucas vezes acontece.

No Brasil, cerca de 1,4% da população doa sangue regularmente, o que corresponde a cerca de 3,1 milhões de doações por ano no Sistema Único de Saúde (SUS). Na maioria dos casos, as doações são destinadas a pessoas conhecidas que precisam de doadores. Em estudos realizados no Brasil, foi demonstrado que as pessoas entendem a importância de doar, mas não entendem bem o procedimento.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) recomendam que entre 1% e 3% da população de cada país seja doadora. No entanto, a taxa ideal é que 5% da população doe sangue pelo menos uma vez por ano.

A doação voluntária é ainda mais difícil de acontecer. O “fazer o bem sem olhar a quem”, infelizmente ainda não é uma realidade nesse aspecto. Apesar dos esforços contínuos dos hemocentros em campanhas de doação, a maioria das pessoas ainda não tem consciência da necessidade da doação voluntária.

O sangue é um material que não se pode sintetizar em laboratório, não se pode fabricar, nem ser substituído, por isso é tão importante doar.

O sangue doado é usado em pacientes que passam por transfusões, cirurgias, partos complicados, câncer, etc.

Muita gente não doa sangue porque diz que tem medo de agulhas, mas também há outras que não vão porque creem numa série de mitos que vamos desvendar.

Desvendando mitos

  • Jejum: ao contrário dos exames de sangue, as doações de sangue não são feitas em jejum; ao contrário, se recomenda comer bem (preferentemente uma alimentação baixa em gordura e em lácteos, mas isso varia em cada hemocentro) e tomar muito líquido no dia da doação. Se pode tomar café, chá, suco, chimarrão, isotônicos, água de coco, etc. Infelizmente há pessoas que vão em jejum e se sentem mal durante a doação, o que faz com que não voltem: e com isso o mito se propaga.

  • Perigos ao doar: os materiais usados durante a doação são todos esterilizados, descartáveis e de uso único, portanto não há perigo de doenças ao doar sangue.

  • Doar sangue engorda ou emagrece: o volume doado é recuperado ao redor de 24h depois da doação. Não há alterações no peso dos doadores.

  • Obrigatoriedade de doar: há quem acredite que doar uma vez “obriga” a pessoa a doar o resto da vida, como se o corpo ficasse “viciado”. Isso não é verdade. Mas o processo de ajudar alguém é tão satisfatório e enche a alma a um ponto tal que talvez você queira sim voltar.

  • Tatuagens e piercings impedem a doação: alguns hemocentros exigem esperar 1 ano depois do procedimento, e outros exigem 6 meses. Consulte com o hemocentro da sua preferência.

  • Só se pode doar sangue uma vez por ano: mulheres podem, na verdade, doar cada 4 meses e homens cada 3 meses. Esta diferença ocorre pela perda de ferro em ocasião da menstruação.

  • Doar sangue causa fraqueza: o organismo repõe rapidamente o volume de sangue coletado. Alguns hemocentros recomendam não levantar cargas pesadas nesse dia com o braço usado para doar, mas tem mais a ver com a “furadinha” que com a doação em si.

  • Só podem doar sangue os maiores de 18 anos: ao menos no Brasil e na Argentina, pessoas de 16 e 17 anos podem doar com o consentimento dos pais ou responsáveis.

  • Perigo para quem recebe: o sangue doado é testado para numerosas doenças (como hepatite, HIV, etc), e só depois de testado é liberado para ser usado.

  • “Tive hepatite quando era criança”: esta hepatite infantil normalmente é a hepatite A. Ela não impede a doação.

  • Medicamentos: alguns medicamentos são fatores excludentes para a doação de forma vitalícia, mas a maioria deles estão liberados. Consulte com seu hemocentro sobre o medicamento que você está tomando.

Uma vez doado, o sangue é processado para separar seus componentes, e cada um deles é usado em pacientes com diferentes necessidades. Também se pode doar um componente específico por um procedimento chamado aférese, onde se extrai o componente desejado e se retorna o restante do sangue ao doador.

O ato de doar sangue voluntariamente implica amor ao próximo, mas também um compromisso com a saúde pública.

Uma bolsa de sangue doada pode salvar até 4 pessoas. É importantíssimo doar e garantir que os hemocentros tenham estoque de sangue de todos os tipos, principalmente de tipos raros, porque isso pode ser a linha entre a vida e a morte de alguém.

Doar sangue de forma voluntária é um ato nobre. Se você tiver mais de 50 quilos, não estiver grávida nem amamentando, se sentir bem de saúde e cumprir os requisitos (consulte com seu hemocentro de confiança), seja doador/a voluntário/a. Ajude a salvar vidas. Faça o bem.

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