O filme “Um sonho de liberdade” (The Shawshank Redemption), que está em primeiro lugar no meu Top 5 de filmes já feitos (ao longo do caminho de escritas, pretendo falar sobre meus 5 filmes favoritos), é um misto de diversas reflexões filosóficas que podem ser aplicadas diretamente em nossas ações cotidianos, seja no âmbito ético, moral, de relações, de busca daquilo que almejamos, enfim.

O site AdoroCinema, apresenta a sinopse do filme da seguinte forma:

Em 1946, Andy Dufresne (Tim Robbins), um jovem e bem-sucedido banqueiro, tem a sua vida radicalmente modificada ao ser condenado por um crime que nunca cometeu, o homicídio de sua esposa e do amante dela. Ele é mandado para uma prisão que é o pesadelo de qualquer detento, a Penitenciária Estadual de Shawshank, no Maine. Lá ele irá cumprir a pena perpétua. Andy logo será apresentado a Warden Norton (Bob Gunton), o corrupto e cruel agente penitenciário, que usa a Bíblia como arma de controle e ao Capitão Byron Hadley (Clancy Brown) que trata os internos como animais. Andy faz amizade com Ellis Boyd Redding (Morgan Freeman), um prisioneiro que cumpre pena há 20 anos e controla o mercado negro da instituição.

Vou trazer, neste texto, aspectos que, a meu ver, são trazidos ao longo do filme e que podem ajudar no confronto com a realidade que vivemos hoje.

Já no início do filme, somos apresentados aos fatos da cena de um crime. No entendimento do júri, um banqueiro mata sua esposa e o amante com oito tiros. O advogado é incisivo ao dizer que um revólver possui um cartucho para seis balas, afirmando que o réu fez os disparos, colocou mais munição e voltou a atirar.

O juiz, ao dar a sentença, ressalta a frieza do réu em realizar tal ato. O flashback apresentado no início do filme foi muito bem pensado, pois não mostra o banqueiro cometendo o crime, mas trazendo somente imagens que se cruzam com as narrativas feitas, fazendo o telespectador ficar em dúvida sobre o que possa ter, realmente, acontecido. O réu se defende, explicando sua versão, que não é bem acolhida pelo júri e pelo advogado de acusação.

Andy Dufresne é condenado a duas penas perpétuas, sendo destinado ao presídio de Shawshank, aonde chega silenciosamente, sem expressões de sentimentos, sem demonstrar expressões ou gestos, mas demonstrando aceitação de tudo o que está acontecendo. No presídio, conhece Redding, que se apresenta como o único “culpado” no presídio (piada interna de que todos os outros estão presos injustamente). Ali, começa um ciclo de amizades, angústias, esperanças e sentimentos diversos.

Até aqui, filosoficamente falando, é possível fazer paralelos com dilemas éticos sobre julgamentos com conceitos ambíguos ou, de certa forma, contraditórios, a aceitação de condenações injustas, a adaptação ao espaço/ambiente onde se está, entre outros.

Por ser um banqueiro extremamente compete, Andy logo assume funções administrativas dentro da penitenciária, sendo o responsável por auxiliar o diretor Norton no que tange o controle financeiro da penitenciária, bem como esconder alguns atos corruptos que são feitos pelo diretor. Como o protagonista atua de maneira discreta, acabando ganhando privilégios por parte do diretor, como, por exemplo, não ter sua cela revistada.

Por isso, com a ajuda de um martelo de esculpir pedra, que, inicialmente, seria usado para fazer peças de xadrez com pedra de sabão e alabastro, Andy, durante dezenove anos, abre um buraco na parede, planejando sua fuga da prisão.

Neste tempo, o diretor Norton fica sabendo da real história por trás da prisão de Dufresne, mas não faz nada para que a justiça fosse feita da maneira correta, visto que o presidiário sabia de suas artimanhas em relação à administração da penitenciária, o que faz com que Andy tome a decisão de fugir, de forma definitiva.

Vale ressaltar que, durante o período em que ajudou a encobrir os atos de corrupção, Dufresne “criou” uma pessoa fantasma para ser a grande responsável por todo o movimento financeiro ilegal do presídio, o que facilitou sua fuga, visto que ele assumiu a identidade desta pessoa, de nome Randall Stephens.

Já fora da prisão, com todos os dados financeiros que possuía, Dufresne incrimina o diretor Norton e o Capitão Hadley por corrupção e crimes fiscais e assassinato, respectivamente. Ele passará o restante de sua vida em uma cidade no México, tendo como companhia seu companheiro na penitenciária, Redding, solto por não ser mais considerado um risco para a sociedade, podendo viver em condicional.

O dicionário apresenta o conceito de liberdade como “independência absoluta e legal de um indivíduo, de uma cultura, povo ou nação, sendo nomeado como modelo; estado ou característica de quem é livre, de quem não se submete: vivia pela e em liberdade”.

O filme apresenta, em suas entrelinhas, características firmes da busca pela liberdade, mas principalmente da sua privação. Durante o filme, diversas falas dos personagens dão a entender essa ideia de o filme tratar deste tema. Abaixo, trago algumas falas que me ajudam a pensar sobre isso.

Você tem que se agarrar à ideia de que as coisas vão melhorar. Você tem que acreditar que a vida é mais do que apenas muros de uma prisão.

(Andy Dufresne)

A esperança é uma coisa boa. Talvez a melhor coisa. Tudo o que é bom nunca morre.

(Andy Dufresne)

Passei 40 anos pedindo permissão para mijar. Não consigo mudar de repente. A realidade é dura. Não vou conseguir me adaptar aqui fora.

(Redding)

Sei que alguns pássaros não podem viver numa gaiola. Suas penas brilham demais. E, quando eles voam você fica contente, porque sabia que era um pecado prendê-los.

(Andy Dufresne)

Há lugares neste mundo que não são feitos de pedra. Lá dentro, no meu coração, é um desses lugares.

(Andy Dufresne)

Por fim, deixo minha impressão sobre este filme. Quando o assisti pela primeira vez, já senti algo que me incomodava, como que uma ideia de que o filme traz algo a mais do que simples imagens, mas uma crítica a julgamentos tomados de maneira precipitada, a busca incessante que temos de nos sentirmos livres (cena da cerveja no teto de uma fábrica), vivência das crises e medos mais profundos, colocar os talentos a serviço da liberdade, mesmo que possa infligir todos os princípios individuais (“precisei vir para a prisão para aprender a ser um criminoso”).

Enfim, fica minha indicação de um bom filme, sem efeitos especiais, sem necessidade de apelação, mas que tenta trazer à mente reflexões profundas sobre nossa maneira de viver: livres.