E num ápice, agreste o frio chegou e com ele aí estamos na quadra natalícia…

Neste planeta, tão assolado por crises várias nos últimos dias e anos, nubladas de incerteza, ausências e desfiados, mas também de enormes e tremendos desafios, sabe bem a chegada de momentos, como este, mais caseiros, íntimos e familiares…

São também tempos de recolhimento mas, sobretudo de re-encontro com amigos e família, que o quotidiano e as azáfamas profissionais, familiares ou pessoais teimam em separar…

Nos dias que passam fugazes e fugidios, cada vez são mais raros os momentos em que podemos, calmamente, deixar uma conversa correr, parar a labuta e desfrutar da companhia dos que mais estimamos ou que tão somente raramente encontramos…

As sociedades actuais, com toda a panóplia tecnológica e tele-comunicacional deixaram de valorizar o contacto pessoal, olhos nos olhos, substituindo as palavras por muitas imagens que se tendem a constituir mais em ruído do que em comunicação humana. Vivemos hoje rodeados, cada vez mais, por écrans que tentam tudo transmitir, mas que vão deixando um vazio grande, enorme mesmo, no que toca à transmissão de mensagens, de diálogo. Ou então o tropel de tantas mensagens acaba por diluir o significado e valor das mesmas. Por isso, hoje em dia, deveríamos reflectir mais na falta de tempo para pormos conversas em dia…

Se em tempos de cólera a reflexão e análise se esfumem na voragem dos dias, isso não deveria significar, como infelizmente acontece, uma desumanização crescente e a inconsciente banalização do terror. Sem épocas de absoluto salto tecnológico e científico, tão desafiantes como os que vivemos, se perde o nexo do óbvio, a obsolescência tecnológica crescente bem poderia ser mas objectivada de forma ponderada e criadora…

Os imediatismos e mediatismos hoje e no futuro próximo reinantes, não nos devem fazer esquecer que algum, mesmo que parco desacelerar de ritmos também é condição fundacional da mudança para novos caminhos e paradigmas… Tal como o sono nos retempera e dá forças e impulso, também o calmo diálogo nos dá alento a serenas decisões e mais conscientes opções para o nossos devir pessoal e colectivo. A simples dicotomização entre duas únicas alternativas, de há muito que o sabemos, apenas prolonga conflitos sem os resolver ou permitir evoluções mais profícuas e criadoras de consenso construtor e criativo…

Não é por acaso que a História nos ensina que a sagaz sageza do parar para pensar resolve mais do que a impulsividade tonitruante…

Nesta curta nota é este o desafio que fica para este Natal e porque não para outros natais ou momentos especiais, indo ou ficando, visitando ou sendo visitados, que esta quadra comece a ser mais um momento de encontro, de partilha e de troca de palavras, ideias e gestos que quebrem o ruído e os silêncios vários que nos tolhem no quotidiano, que marquem a diferença para os mil ruídos e distrações comuns do dia a dia…

Só nesse diálogo se poderá também marcar a diferença desta quadra e vincar-lhe o seu maior significado - o de ser tempo nosso, humano, para cada um de nós individualmente e para os que de mais perto nos rodeiam. Também para os que só nestas alturas reencontramos sentirem a falta que nos faz a sua presença, os sons e sentidos das suas palavras…

Risco
Desenhando,
Rabisco,
Esquisso
De
Linha,
Verso
Tentado,
Em narrativa
Esparsa,
Hesitante,
Fugidia…

Outra mais…,
Na
Senda
De
Tantas…,
Noite vagal
De inverno
Cinzento…

Que o vosso Natal possa ser isso - o reencontro afável e bem especial com os outros numa longa conversa amena, mas muito cheia de calor humano…