A independência do Brasil, celebrada oficialmente em 7 de setembro de 1822, é frequentemente lembrada como um evento marcado pelo icônico Grito do Ipiranga de Dom Pedro I. No entanto, essa visão simplificada esconde a complexidade e duração do processo que levou à emancipação do Brasil do domínio português. A luta pela independência foi longa e multifacetada, envolvendo não apenas batalhas políticas e militares, mas também uma série de movimentos regionais e ações coletivas que ocorreram por muitos anos.
Embora figuras como o Imperador Dom Pedro I sejam amplamente reconhecidas em livros de história, muitas mulheres desempenharam papéis significativos no processo de independência do Brasil, mas suas contribuições são frequentemente ignoradas ou subestimadas. Essas mulheres, através de suas ações e influência, ajudaram a moldar o curso da história do Brasil e merecem destaque na história brasileira.
Uma das figuras mais importantes nesse contexto é Maria Leopoldina da Áustria, a primeira esposa do Imperador Dom Pedro I. Nascida em uma das mais prestigiadas famílias reais europeias, Leopoldina era uma mulher altamente educada e politicamente consciente. Ao chegar ao Brasil em 1817, ela rapidamente se adaptou ao novo ambiente e compreendeu a complexidade das questões políticas em jogo.
Durante o período crítico que antecedeu a independência, Leopoldina assumiu um papel fundamental. Quando Dom Pedro I estava ausente do trono por conta da viagem a São Paulo, foi ela quem presidiu o Conselho de Estado e assinou o decreto que recomendava a separação definitiva de Portugal. Além disso, ela enviou uma carta a Dom Pedro I incentivando-o a tomar uma posição firme em favor da independência. Sem a coragem e a determinação de Leopoldina, é possível que o processo de independência tivesse sido mais lento ou até mesmo inexistente.
Outra mulher notável que desempenhou um papel importante no processo foi Maria Quitéria de Jesus. Nascida em uma família humilde na Bahia, localizada na região nordeste do Brasil, Maria Quitéria se destacou por sua coragem e determinação. Em 1822, disfarçada de homem com as roupas do cunhado e utilizando o nome de soldado Medeiros, alistou-se no Exército Brasileiro para lutar contra as tropas portuguesas que ainda resistiam na Bahia. Sua habilidade em combate e seu espírito indomável chamaram a atenção de seus superiores, e Maria Quitéria rapidamente se tornou uma figura respeitada entre seus colegas.
Teve sua identidade descoberta por conta de seu pai, que procurou o exército e os informou que era mulher, mas, como era reconhecida por seus esforços, disciplina e facilidade com as armas, seu major não permitiu que fosse desligada do Exército. Após a revelação, adicionou ao seu uniforme saia e adereços. Maria Quitéria participou de várias batalhas e foi reconhecida pelo Imperador Dom Pedro I, que a condecorou com a Ordem Imperial do Cruzeiro.
Embora sua história seja celebrada na Bahia, ela é pouco conhecida no restante do Brasil. Maria Quitéria é um exemplo perfeito de como as mulheres, mesmo enfrentando barreiras sociais e culturais, desempenharam papéis ativos e importantes na luta pela independência.
Outra figura, embora menos conhecida, é a de Joana Angélica, uma madre baiana que se tornou mártir da independência brasileira. Durante a invasão das tropas portuguesas ao Convento da Lapa, em Salvador, na Bahia, Joana Angélica sacrificou sua vida para proteger as novatas do convento. Ela se colocou na porta de entrada, enfrentando os soldados que acreditavam que o convento era rota de fuga de soldados brasileiros, e se recusou a deixá-los entrar. Joana Angélica foi morta por um tiro de baioneta. Seu ato de coragem se tornou um símbolo de resistência e inspirou muitos a continuar a luta contra o domínio português na Bahia. Sua morte estimulou a população local, intensificando a resistência contra as forças coloniais portuguesas.
As contribuições dessas mulheres para a independência do Brasil são um testemunho de sua força, coragem e determinação. Elas desafiaram as normas sociais e políticas de sua época, muitas vezes arriscando suas vidas para lutar por um Brasil livre e independente. Embora a história oficial tenha tradicionalmente focado nas figuras masculinas, é crucial reconhecer e celebrar o papel dessas mulheres, cujas ações foram fundamentais para a construção do Brasil como nação. O reconhecimento de suas histórias não apenas honra suas memórias, mas também serve de inspiração para as gerações futuras, mostrando que a luta pela liberdade e pela igualdade é uma responsabilidade compartilhada por todos, independentemente de gênero.