Fevereiro de 1917, milhares de mulheres andando pelas ruas de Moscou carregando panfletos e entoando gritos para requisitar direitos aos seus iguais. Naquela época, as mulheres que trabalhavam nas fábricas ganhavam bem menos que os homens, trabalhavam as mesmas horas e ainda tinham que fazer sua dupla jornada em casa, cuidando dos filhos. A manifestação, organizada inteiramente por mulheres, ganhou diversos adeptos, fazendo um movimento se tornar algo inesperado, um potencial ato revolucionário.

Desde 1905, a Rússia vivia em extensos movimentos políticos, com a primeira tentativa de tomada do poder czarista e o massacre do domingo sangrento. Seguindo esses episódios, o czar Nicolau II criou a Duma, um corpo político legislativo que poderia votar também nas leis impostas pelo imperador, mas a Duma tinha total poder por parte do Rei, que o podia desconsiderá-la e a dissolver quando houvesse vontade.

As tensões entre a população russa e o estado aumentavam consideravelmente todos os anos subsequentes, e os personagens políticos importantes, como Trótski e Lênin, estavam no exílio esperando o momento certo para organizar a revolução.

Em fevereiro de 1917, o plano articulado e sonhado por décadas foi concretizado. Agora, imagine a fascinação por ver uma revolução à sua frente e descobrir que você, operário e provavelmente soldado do exército russo, agora pode sonhar com uma Rússia soviética e longe do czarismo. Um sonho inimaginável, não? Pois ele se concretizou, só que não da maneira correta.

A tomada do poder pelos sovietes só veio na outra Revolução, realizada em outubro e que destituiu o poder do governo provisório, este que tomou o poder em fevereiro.

Lênin e Trótski foram os principais organizadores desse movimento político, o simbolismo de “todo o poder aos sovietes” agora estava realmente concretizado e concluído. O grupo que assumiu o poder na Rússia tinha diversos objetivos e planos, dentre eles:

  • A propriedade privada não existia mais na Rússia, todas as terras pertenciam ao povo e deviam ser divididas entre toda a população.
  • O poder (soviéticos) agora teria pleno domínio da administração do governo, realizando políticas em prol de benefícios sociais.
  • A saída da 1ª guerra mundial e o estabelecimento de uma unidade de governo forte e desenvolvido, alinhado às tecnologias.

As propostas de estabelecimento para uma nova Rússia tiveram adeptos, e o sonho de Lênin, que inicialmente acreditava estar distante e projetado para as próximas gerações, agora poderia ser sonhado em seu presente.

O estabelecimento do governo soviético no poder não foi fácil e nem simplório. Logo após 1917, em janeiro de 1918, o início de uma Guerra Civil agravou a situação econômica e política, fazendo-os realmente mostrar o poder do seu governo ou deixá-lo ruir.

O horizonte do sonho, do plano construído em nossa imaginação, não contém os pesares, e na prática, as ações que tentaram arruinar o ideal socialista foram inúmeras, desde países como Alemanha, Inglaterra e França, ou até mesmo russos que não aceitaram a entrada dos sovietes no poder da forma como foi, como Kerensky na Guerra Civil de 1918.

O ano de 1918 não foi o que imaginava Lênin, mas ainda assim estava em seu ânimo o movimento revolucionário. Pois, imagine, um estadista político que nem acreditava no sonho da revolução, agora estava vivenciando uma possibilidade de uma Rússia soviética e, futuramente, talvez um mundo soviético.

As extensas guerras civis que assolaram a Rússia mobilizaram uma extensa crise na região posteriormente, devido à falta de recursos financeiros e à crise econômica devido à primeira guerra mundial.

A perda precoce de Lênin em 1924 não atrapalhou a continuidade do plano soviético, fazendo assim uma troca da liderança desde que sua saúde se agravou. A liderança do governo soviético foi passada para Stálin, após extensa disputa com Trótski.

Os primeiros anos não foram fáceis, mas a Rússia já colhia bons frutos de sua escolha, com uma constituição que dava voz agora a grupos antes oprimidos pela sociedade, como as mulheres e os mujiques (camponeses). As mulheres ganharam um destaque primordial, dando acesso a garantias trabalhistas e possibilidade maior de estudos e de condição de definição de suas próprias vidas.

Mas, para além disso, a Rússia se concentrava em uma sociedade que buscava evoluir industrialmente, socialmente e culturalmente, estabelecendo uma constituição tanto de seu poder quanto para o seu próprio povo. Apesar das extensivas ações autoritárias dadas por Stálin (sempre necessário falar), o líder da Rússia desenvolveu a sociedade guerra industrialmente e abriu o país para realmente uma disputa econômica de importância com os outros países europeus.

Portanto, para finalizar, devemos pensar a criação da União Soviética e sua revolução como um dos maiores acontecimentos políticos do século XX, devido à sua importância política, cultural e social que ainda são marcantes e permanecem no ideal de diversas pessoas nos dias de hoje.

O plano de Lênin foi estabelecido e quase concretizado, o sonho de um mundo socialista atravessou por diversas mãos ao longo de décadas, passou pelas mãos de Stálin, que modelou consideravelmente a Rússia e a modernizou. Mas, passou por mãos de pessoas despreparadas e que também se entregaram ao sistema capitalista e neoliberal, como Gorbachev e sua ideia da Perestroika russa.

O plano soviético caiu por terra, mas como acreditou, planificou e estruturou Lênin um dia, talvez não possa ser hoje, nem amanhã, mas possivelmente um dia talvez se concretize.

Um devaneio importante nessa dialética e breve história russa é: “A utopia é o horizonte no qual nós nos direcionamos o tempo todo”.