Até outro dia, na minha lista de lugares a visitar, a Rússia era um dos destinos que estavam no topo da mesma. Sonhava em conhecer o Kremlin em Moscou, a bucólica São Petersburgo e quem sabe, em alguma ocasião ter a oportunidade de fazer a rota Transiberiana.

Até outro dia, também, na Copa de 2018, a Rússia recebia turistas do mundo todo, clima de alegria e descontração, pessoas comemorando e em festa por suas ruas. A imprensa mundial ali reunida para fazer a cobertura de um dos eventos esportivos mais importantes do mundo.

Contudo, de um dia para o outro, o cenário mudou drasticamente, em fevereiro de 2022, quando a Rússia atacou o território ucraniano. Um conflito que deixou o mundo sem palavras. Em pleno século XXI, mais um cenário de guerra descortina-se. De lá para cá, já se contabilizou milhares de mortos. Dados divulgados em agosto de 2023 apontavam mais de 70 mil mortos e 120 mil feridos do lado ucraniano e algo em torno de 120 mil mortos e 180 mil feridos do lado russo.

Mais de 1 ano e meio de guerra entre Rússia e Ucrânia e apesar de todo clamor de inúmeras pessoas e entidades ao redor do globo, não há indícios de que a paz retorne tão cedo.

Não bastasse o cenário de guerra, tragédia e calamidade nestes 2 territórios, recentemente o mundo tem acompanhado mais um conflito que tem tirado a vida de centenas de pessoas e levado horror e destruição à população. Desde que o Hamas atacou Israel no início de outubro, há pouco mais de 3 meses.

A partir deste ataque, Israel em sua necessidade de defesa atacou a Faixa de Gaza, buscando eliminar membros do Hamas. O território Palestino passou então a ser alvo das defensivas israelenses e de sua busca em acabar com o Movimento da Resistência Islâmica. O conflito cresceu. Em menos de 30 dias já se estimava mais de 10 mil mortos no total.

Aponta-se que crimes de guerra estão sendo cometidos neste conflito, sendo o fator mais comum para identificar crimes de guerra as ações que afetam pessoas que deveriam ser protegidas (como no caso dos civis que estão sendo mortos e feridos) ou ações que comprometam a capacidade de organizações humanitárias realizarem seu trabalho.

Recentemente, num almoço de família, conversa vai, conversa vem e eis que os ânimos começam a se exaltar. A discussão naquele momento se dava em torno de quem tinha razão no conflito entre Israel e Palestina. Dados históricos sendo levantados de um lado, direito de defesa do outro, capacidade ofensiva de ambos, financiamento do conflito e por aí vai.

No caminho de volta para casa, meu filho de 9 anos que havia escutado a conversa ao longe me perguntou: “Mãe, quem está ganhando a Guerra?”. Engoli seco e respondi de forma branda: Ninguém filho, na Guerra não existe ganhadores, todos perdem.

Triste perceber que o mundo melhor que sempre sonhamos em deixar aos nossos filhos, vem se tornando um campo de batalha. Um lugar hostil, no qual temos que avaliar com cautela até onde ir, buscando um raio de relativa segurança.

Triste ver que mesmo com os séculos de história nos mostrando as barbaridades e calamidades da Guerra, governos e grupos extremistas continuem a buscar este caminho para resolver suas questões. Deixando em segundo plano as perdas e sofrimento humano envolvido no processo.

Avançamos tanto em algumas áreas e quase nada em outras. A busca desenfreada por territórios, dinheiro e acima de tudo poder nos torna bárbaros capazes de qualquer coisa.

Além destes 2 conflitos, o mundo passa também por outros, não tão evidenciados pela mídia. Entre eles a guerra civil Síria, que começou em 2011 e já deixou mais de 400 mil mortos e 200 mil desparecidos, a guerra no Iêmen que após 11 anos contabiliza mais de 230 mil mortos, sendo mais da metade deles por desnutrição e falta de serviços públicos e infraestrutura, a guerra da Etiópia que iniciou em 2020, onde estima-se que mais de 9 milhões de pessoas necessitem de algum tipo de ajuda humanitária e onde há relatos de chacina de civis e estupros em massa, os conflitos da República Democrática do Congo que além de conflitos internos está em vias de iniciar uma guerra com Ruanda, a guerra civil em Mianmar que conta com mais de 2.900 mortos pela repressão militar e 18 mil presos, e também a crise política no Haiti que após o assassinato do presidente Jovenel Moise, morto em 2021, foi tomado por grupos armados que passaram a controlar mais de 60% da capital, Porto Príncipe, local onde cerca de 4,7 milhões de pessoas enfrentam fome aguda.

Lembrando também da guerra do Afeganistão, também chamada de Guerra do Terror desencadeada após os ataques de 11 de setembro aos Estados Unidos, o que gerou a ofensiva americana, primeiramente em busca de Osama Bin Laden e após buscando eliminar o grupo extremista Talibã. A mesma durou mais de 20 anos e apesar das tropas americanas terem deixado o país em 2021, estima-se que o Afeganistão enfrentará possivelmente uma das mais graves crises humanitárias que já se viu, por conta das sanções e isolamento impostos por grande parte do mundo.

Nesta conjuntura, a paz mundial já cantada nos versos de John Lennon, parece algo cada vez mais utópico. Em cada guerra, conflito e batalha ao redor do mundo, homens, mulheres, idosos e crianças sofrem miseravelmente. Nestes cenários os únicos ganhadores são a dor, a tragédia e a destruição.

Imagine all the people
Imagine todas as pessoas
Livin’ life in peace
Vivendo em paz
You
Você

You may say I’m a dreamer
Você pode dizer que sou um sonhador
But I’m not the only one
Mas eu não sou o único
I hope someday you’ll join us
Eu espero que algum dis você se junte a nós
And the world will be as one
E o mundo será como um só

Imagine no possessions
Imagine que não existam posses
I wonder if you can
Eu me pergunto se você consegue
No need for greed or hunger
Sem necessidade de ganância ou fome
A brotherwood of man
Uma irmandade dos homens

Imagine all the people
Imagine todas as pessoas
Sharing all the world
Compartilhando o mundo inteiro
You
Você

You may say I’m a dreamer
Você pode dizer que sou um sonhador
But I’m not the only one
Mas eu não sou o único.

Letra de Imagine, de John Lennon, lançada em 1971.