No meu tempo — tenho 26 anos — eu fui ter meu primeiro celular com 12 anos. Ainda lembro do Nokia da minha mãe, só usava o telefone para jogar o jogo da cobrinha (aquele que lembra o Pac-Man, só que a cobra vai se enrolando nela mesma).

Voltando: a verdade que o celular era interessante para ligação, combinar capinhas — a minha era roxa, minha família tinha outras cores —- jogar e tirar fotos. Se eu esquecesse ele em casa não tinha tanto problema, principalmente se eu estivesse acompanhada, havia muitas coisas para fazer e se distrair.

Ainda lembro que trocávamos celular com tanta facilidade, pois um adquiria um novo e passava para o outro como uma herança para manter o pessoal de casa conectado.

O computador nem se fala então! Minha tia pediu para os sobrinhos lerem o Menino do dedo verde de Maurice Druon e produzirem um resumo. Como eu já tinha computador, usei o word que travava — lembro que tive que reescrever porque perdia o documento nessas travas repentinas. Lembro ainda que era aquela internet discada que fazia barulho como trem chegando e às vezes a internet demorava a vir. Sobre o resumo, teve prima que escreveu no papel.

Meus primos e eu brincávamos de peteca, fingíamos que éramos dançarinos da Lady Gaga, do Justin Bieber… Fazíamos desenhos de anime, jogávamos queimada e vôlei no quintal, para a tristeza do vizinho quando a bola caia no quintal dele.

Eu escrevo muito nostálgica sobre a minha infância porque ela foi muito boa. E se você acha que vou trazer o vilão da tecnologia, ledo engano.

À medida que o computador e celulares foram se aperfeiçoando, percebi que fomos nos adaptando a ela. Parou de travar tanto, ficaram mais velozes e assim entregamos as coisas com mais velocidade — digasse de passagem que meu TCC foi salvo pelo drive, e escrever na nuvem colaborou para que todos escrevessem junto (achei sensacional a experiência no ensino médio) e o TCC saiu com êxito.

Os celulares mudaram nossa relação de uma forma assim bem atípica. Eles passaram a ter agenda, redes sociais, tudo em um só lugar e as pessoas que estão com a gente fisicamente parecem ainda mais absortas no seu próprio mundo digital. Com a rapidez para pedir alimento, encontrar relacionamentos românticos e atender nossas “necessidades” na palma da mão, ficamos muito mais imediatistas e ansiosos.

Afinal, se estamos acelerados, as soluções dos problemas devem vir depressa, certo?

Nem sempre. A verdade é que somos os mesmos seres de carne e osso com brinquedos velozes, tipo fórmula um.

Separar o digital do real é uma constante da vida contemporânea, já que elas se comunicam com tanta facilidade.

Graças a globalização, podemos falar com pessoas da outra ponta do mundo, e ainda assim, paradoxalmente, somos a geração mais solitária.

Bauman é super citado e não é à toa. Zygmunt Bauman é um filósofo que trouxe a pauta da modernidade líquida. Traz em questão a volatilidade das relações, das estruturas sociais da nossa sociedade.

Em outras palavras, tudo é muito instável: antes os relacionamentos duravam anos, hoje é bem fácil conhecer pessoas por um curto espaço de tempo — com a ideia de que haverá sempre algo melhor.

Inclusive isso chegou no trabalho. Demissões em massa, menor retenção de talentos, tudo demonstra essa fluidez da modernidade.

Mas até que parte isso é bom ou ruim?

Essas reflexões eu tirei com o conteúdo do professor Pedro Calabrez.

Bem, podemos destacar pontos positivos:

  • As pessoas têm mais oportunidades de se conhecerem e se conectarem com seu propósito;
  • Não havendo uma estrutura firme, a pessoa é totalmente responsável pelo seu destino;
  • Métodos mais avançados de aprendizado focados no indivíduo.

Negativos:

  • Falta de propósito generalizada;
  • Excessiva distração e comparação nas redes sociais;
  • Estresse e aceleração da rotina.

A verdade é que a aceleração é algo do digital. O ser humano precisa pausar, descansar e não ser refém de tantas informações.

Já que somos os responsáveis pela nossa jornada, estamos em um momento que precisamos mais do que nunca colocar limites para aquilo que iremos consumir.

Eu me vejo muitas vezes nesse dilema. O celular, antes aquele que eu esquecia com facilidade em casa, me incomoda não estar com ele para sair.

Vira e mexe me encontro usando ele como desculpa para adiar o tédio ou preencher meus pensamentos quando poderia refletir sobre as minhas decisões, meu presente ou futuro.

O celular não é indispensável, ele não é colado na nossa pele para gerar um vazio quando esquecemos ele em casa.

Sei mais do que nunca que preciso colocar limites no uso, pois eu quero viver uma vida mais plena e cheia de mim, e não daquilo que outros criadores de conteúdo querem compartilhar sobre a vida deles.