Qualidade de vida é diferente para cada pessoa e vai depender da percepção de cada indivíduo.

Muito se fala em qualidade de vida, e isso é algo que todo mundo quer alcançar. Mas, quando paramos para olhar e pensar em seu verdadeiro significado, pode representar várias coisas e para cada pessoa ser diferente. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), qualidade de vida é a percepção do indivíduo de sua inserção na vida, no contexto da cultura e sistemas de valores nos quais ela vive em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupação. Ou seja, engloba uma série de fatores do nosso cotidiano que vão desde a parte mental, até os relacionamentos sociais.

Parei para refletir sobre este assunto durante uma conversa com um amigo que se mudou para Europa. Ele me contava que hoje, para ele, a ideia de pensar em ficar mais de 30 minutos dentro de um transporte público é algo impensável, e que quando isso aconteceu, não se sentiu confortável, porque hoje, para ele, qualidade de vida é estar perto dos lugares, não perder tempo no transporte público e, sempre que possível, viajar para um novo lugar, se tratando da Europa, um novo país. Diante deste ponto inicial, lembrei de outra conversa que tive com uma menina que conheci durante a viagem. Ela falou que ao se mudar para Europa, não tinha mais a necessidade de dedicar o tempo dela simplesmente para trabalhar, ela sabia balancear entre vida pessoal e trabalho e que, diferente de quando morava no Brasil, que teria que trabalhar por meses para conseguir realizar uma grande viagem, agora ela consegue fazer isso com algumas semanas de trabalho.

Ao ter essas trocas, algo me fez refletir: o que é qualidade de vida para mim? Essa era uma pergunta que nunca tinha me feito, mas, olhando agora, consigo perceber que foi algo que se transformou ao decorrer da minha vida. No começo, queria um trabalho bom, em que me sentisse bem e tivesse autonomia e, com ele, conseguisse me bancar, comprar ou ir para onde tivesse interesse e ainda poder ajudar e realizar os sonhos daqueles que sempre fizeram muito por mim. Alguns desses pensamentos ainda seguem vivos na minha mente, porém, com itens a mais, porque acredito que já tenha alcançado essas primeiras ideias. Foi então que me dei conta de mais uma coisa. Mesmo tendo atingido meus objetivos pioneiros, esses tempos comecei a me sentir mais cansada e não estava entendendo o motivo, até que me dei conta que era porque meu trabalho voltou a ser quatro dias presenciais para um dia de home office.

Essa realidade não era mais algo presente na minha vida, e comecei a sentir o quanto me cansa e me faz perder coisas importantes, como passar tempo com minha família, ter tempo para estudar e fazer um curso e disposição para novas coisas. Ir para o presencial é algo que gosto, porque tem troca com pessoal do trabalho, mas voltar a fazer disso uma rotina, é exaustivo, porque, no meu caso - e em conversa com outras pessoas que passam pela mesma situação - chegamos a conclusão que passamos aproximadamente 12 horas do nosso dia na rua, o que, consequentemente, faz com que, ao chegar em casa, a gente não tenha mais energia para pensar em investir em algo a mais do que trabalhar.

Essa volta também afetou outro ponto que estava sendo crucial para mim, poder viajar e fazer home office de qualquer parte do mundo, afinal, no meu caso, só preciso de um computador e uma boa conexão com a internet. Isso me dava disposição, porque podia aproveitar a manhã neste novo local e a noite também. Parecia que o tempo rendia mais e a gente vivia, sabendo e conseguindo equilibrar vida pessoal e profissional. Diante dessa volta a realidade de presencial, ouvi pessoas falando em se demitir, porque não é isso que querem da vida. O home office deixou um gosto e visão diferente em todos que a desfrutaram, alguns tiveram boas experiências, enquanto para outros, não foi tão bom assim.

Contudo, algo que não podemos negar é que o trabalho remoto fez tão bem e surtiu tanto efeito, que hoje já é complicado imaginar ficar preso dentro de um escritório a maior parte do tempo e dos dias da semana. Acredito que seja por essa razão que as pessoas, principalmente aquelas que podem, estão priorizando mais a vida pessoal do que a profissional, porque é preciso viver e precisamos saber escolher nossas prioridades e o que vale mais a pena. No mundo pós-pandemia, a gente já viu algumas mudanças surgindo no mercado de trabalho, como a semana de quatro dias, para que os funcionários consigam ter mais tempo para descansar e aproveitar a vida e não ficar apenas focado apenas em trabalhar.

Com essa alteração, além deles aproveitarem mais a vida fora do escritório, o objetivo também é que eles possam render mais, uma vez que um funcionário descansado é muito melhor do que aqueles que estão sobrecarregados e exaustos com o trabalho. Diante de tudo o que vivemos nos últimos dias e nas mais diferentes situações que nos deparamos, principalmente em relação ao trabalho, fica o questionamento: o trabalho 100% presencial ainda é necessário e precisa voltar a ser uma realidade? Ou equilíbrio com o home office precisa ser efetivo, desde que seja uma realidade na profissão?