Entrega-te a ti mesmo e sinta o Divino que habita no teu interior...

So Ham, Dan…

Acalma-te! Respire profundamente, feche os teus olhos, sinta a vida pulsar em ti e nunca duvides da minha presença. Eu estou em tudo e não sou nada. Ouve, aquieta todo o teu ser e apenas escuta, pois eu sou o barulho da relva roçada quando tocada pelos teus pés e as labaredas da lareira quente no inverno.

Desacelera a tua respiração e cessa o teu pensamento até que consigas perceber a minha presença. Eu sou a neblina que vem por trás das montanhas durante as manhãs de Outono e o delicioso sabor do café na tua boca, sou a chuva das meias estações e a brisa refrescante do Verão.

Eu sou o perfume dos eucaliptos que inebriam os teus sentidos e o balançar suave dos pinheiros que dançam ritmicamente com o vento, despertando em ti aquele encantamento com a minha existência e presença.

Sou a raiz do carvalho velho, chamado Dandine, a dança dos sobreiros, o estalo das pinhas, as azeitonas das oliveiras e as amoras silvestres que adoçam a tua boca, mas que nascem entre os espinhos das Silvas.

Eu sou a Clementina deliciosa do quintal, o pêssego cheiroso e saboroso, e as belas flores do jardim.
So Ham, menina!

Eu sou o sorriso terno de quem doa e, mesmo com as mãos calejadas da lida, gentilmente oferece tomates, batatas, cebolas, couves e amor.

Sou e estou no olhar manso e cativante daquela idosa na estrada que, sem querer nada, partilhou contigo a vida e os frutos.

Eu sou a segurança que sentiste ao encarar os olhos dela, sou a bondade daquele sorriso e a pureza de todos os corações. Sou a chuva mansa no telhado, o céu cinza e carregado, e o cheiro gostoso da terra molhada.

Eu também sou as doces lembranças que este aroma traz, memórias do teu tempo de menina, aquelas que te fascinam; sou a tua alma quando sentes paz.

So Ham,
Eu sou o pó da terra seca que encarde os pés, os aguaceiros formados com o excesso de chuva que divertem ao fazer “ploft”, “ploft”. Sou a relva orvalhada das manhãs, o doce perfume nos fins de tarde, as belíssimas montanhas com os cata-ventos e o fumo perfumado das lareiras.

Sou o crocitar dos corvos, o piar das corujas, o cantar dos pequenos passarinhos, a raposinha apressada, as lesmas e o grilo no pé de limão.

Eu sou o sol que nasce lá atrás das grutas de Mira de Aire no outono e nas outras estações parece começar em outra direção; sou a grande lua cheia que, de tão bela, prende-te na varanda, e ao apreciar os meus encantos, ficas como uma adolescente apaixonada e totalmente sem “noção.”

Eu sou o tudo e o nada, minha doce criança; estou em todos os lugares e não pertenço a nenhum deles...

Sou o silêncio que buscas quando corres assustada em direção à mata; sou o teu respirar aliviado e a certeza de sentir-te amada. Sou a inspiração, o talento das tuas mãos, o baú velho e o vazio da mente cansada.

Eu sou o tapete de Yoga estendido e o teu corpo em postura de adoração; sou o teu coração que sente a calma quando praticas de forma intensa e entregas totalmente sem o uso da razão.

Sou a gratidão dos alunos, o alívio das dores e o relaxar gostoso que revigora o ser com a prática diária.

Eu sou o bater da tigela durante a meditação, o incenso aceso e o concentrar dentro de ti em oração; eu não estou em nenhum templo, jamais poderás me encontrar em instituições feitas de barro e ferro.

Eu estou aqui, vivo em ti! Tu és parte de mim, uma centelha divina de tudo que sou; silencia e me sinta: eu Sou o Divino que te habita, a voz mansa do teu interior que com ternura sempre te diz, “acalma-te, minha princesa, eu não me afastarei de ti".

So Ham, Dan.
Gratidão eterna.