Contardo Calligaris e a obra O Sentido da Vida

A algumas semanas atrás eu estava escrevendo minha biografia, que foi solicitada para este site, na casa de uma amiga (aquela amiga que foi no cinema comigo, lembram-se dela?), bom, estávamos na casa dela e em um determinado momento ela me diz toda animada:

Daqui uns dias você tá igual ao Calligaris, publicando livros, foi assim que ele começou, escrevendo uma coluna semanal para um jornal.

Essa fala me intrigou, e me perguntei, de onde esse homem tirava assunto pra escrever toda semana? Segui com este questionamento. Dias depois uma colega lacaniana aqui da cidade que moro, e que também sigo em uma rede social, posta um livro que ela havia comprado intitulado "O sentido da vida"¹ escrito pelo Contardo Calligaris. No post ela dizia que o livro foi entregue pelo autor para a editora pouco tempo antes de sua morte, na hora pensei, preciso ler!

E é sobre este livro que eu vou falar hoje! Fiquei tão empolgada com a leitura, que terminei o livro em dois dias, é claro que não é um livro grande, e além disso, é de uma escrita leve, de leitura fácil, mesmo nos momentos em que aborda situações mais pesadas.

O Sentido da Vida é um livro que apresenta algumas passagens da vida do autor, como lembranças, questionamentos, histórias de família nunca explicadas e o principal, o relacionamento de pai e filho, no caso de Contardo Calligaris com seu pai.

A relação de família, principalmente a relação destes homens desta família, é tão forte na obra que Max Calligaris é quem escreve o prefácio do livro. Max é filho de Calligaris e diz em seu prefácio¹: “[...] afinal, talvez os filhos sejam as melhores pessoas para darem continuidade a vida dos pais.” Achei significativa esta frase que está em uma das primeiras páginas do livro, pois é isso que o autor faz ao longo da obra ao contar as histórias vividas com este pai.

No livro ele também fala sobre o facismo e a segunda guerra mundial, e os perigos a que sua família ficou submetida nestes anos, Calligaris ainda não era nascido, então estes relatos são baseados em histórias que ele ouviu de seus familiares. Mas o que mais me marcou na obra foram as histórias de pai e filho, destes homens tão diferentes. As palavras deste pai ressoam no autor até a sua morte, os ensinamentos e questionamentos que ele levou durante toda sua vida ficaram para mim como o tema central do livro, tanto que o ensinamento do sentido da vida vem do pai do escritor.

De forma simples estas lembranças vão preenchendo as páginas do livro de uma maneira encantadora, encantadora por serem passagens reais, Calligaris fala do real do seu relacionamento com o pai, e gente, quem é que não se incomoda com algumas falas do pai? Ou da mãe que seja, mas sempre nos incomodamos e nos questionamos sobre estas falas, e é isso que é encantador para mim, poder ver o real da vida nestas memórias.

Calligaris vai marcando o quão importante é viver, por meio destas lembranças de suas conversas com seu pai, enfatizando que se permitir viver todos os momentos de uma vida, sejam eles bons ou ruins, fazem parte da vida, fazem parte do estar vivo, então porque não vivê-las?

O uso excessivo da medicalização e das telas, é criticada por Calligaris por impedirem que os sujeitos, que nós, vivamos por completo as experiências pertinentes a uma vida. Para o autor, não tem sentido uma vida em que não se viva intensamente todos os momentos, sejam eles felizes ou tristes, já que só se vive uma vez.

“[...] Uma vida em que você se autoriza a viver intensamente. Autoriza-se a viver com toda a intensidade que todos os momentos da nossa vida merecem"¹. Porque no fim das contas o que importa mesmo é viver.