Em 2013, Ella Marija Lana Yellich-O´Connor conquistou uma geração de adolescentes quando surgiu como Lorde no cenário musical. No ano em que deu luz ao seu hit Royals, lançou também o marcante álbum Pure Heroine. Em 10 anos de carreira, Lorde criou uma conexão que perdura até hoje com seus fãs.

Foi impressionante como, aos 16 anos de idade, Lorde lançou um álbum que teve um grande impacto na indústria musical. Seu estilo minimalista e atmosférico fez com que Ella recebesse aclamação massiva da crítica. Eventualmente, a cantora se consolidou como um prodígio da música pop. Com um vocal muito sutil e peculiar, Pure Heroine é um álbum reflexivo que aborda temas como tédio adolescente, alienação social, relações e amadurecimento.

Lorde foi essencial para muitos adolescentes, pois seu estilo gótico, cabelo bagunçado, jeito peculiar de dançar demonstraram que a artista não queria ser glamurosa para se encaixar, só queria fazer música e cantar sobre suas verdades e visão do mundo.

Em uma era onde artistas da música pop nasciam fabricadas para ser um produto de gravadora, a artista surge para falar com uma geração de jovens que não se sentiam representados. Lorde demonstrou que é possível fazer sucesso comercial e crítico sem ferir sua integridade artística. Sua autenticidade e fidelidade à própria arte a rendeu dois Grammys.

Falando como fã, lembro de ter visto Lorde na televisão cantando A World Alone, música que ainda não conhecia. Até então, conhecia poucas músicas da cantora, porém, os primeiros segundos de guitarra me fizeram sentir algo indescritível. Aquilo me despertou a curiosidade de ouvir todo o Pure Heroine, e logo após, eu soube porque pessoas, como o próprio David Bowie, diziam que Lorde é o futuro da música.

Na música Ribs, música que eu mais ouvi aos 18 anos, Lorde enfatiza seu medo de envelhecer, e como muitos adolescentes, não saber o que vai vir pela frente parece ser muito assustador, mas é preciso seguir a linha natural da vida e é preciso nos depararmos com algumas situações assustadoras, como nossos sentimentos, medo de fracassar e até mesmo um coração partido, já que isso era o que esperava Lorde no álbum em seguida. Em algum momento, a cantora passaria pela experiência de um amor juvenil que não deu certo. Em 2017, a artista nos entregou Melodrama, que assim como o gênero literário, é dramático e emocionalmente intenso.

O álbum Melodrama é uma manifestação sobre a vida amorosa de uma jovem. O álbum apresenta todas as fases da paixão, como a euforia do início da relação, o coração partido após término, a solidão e a cura depois da autodescoberta. Além disso, Melodrama é como uma grande festa em uma noite de altos e baixos, é a juventude à flor da pele. Se tem uma palavra para definir o segundo álbum de Ella, essa palavra é poética.

Retratando dores, emoções, romance, paixão e aventuras da juventude, Melodrama consolidou Lorde de vez como uma das maiores artistas da década. O álbum teve bastante influência da cantora Robyn, que é uma referência do eletro pop e música eletrônica. Após o fim dessa era, Lorde desapareceu completamente e passou a se comunicar com seus fãs através de cartas (newsletter).

Após quatro anos de reclusão das mídias sociais e até mesmo do restante do mundo, Lorde volta com o seu terceiro álbum, o diferente e refrescante Solar Power, que demonstra mais um pouco de sua versatilidade. A cantora iniciou a era com a faixa que possui o mesmo nome do álbum.

Com uma sonoridade de música praiana inspirada pelo folk, Lorde traz a atenção do seu público para temas importantes como a influência das redes sociais, consumismo, superficialidade, validação externa e busca por autenticidade e autoconhecimento. Solar Power marca uma nova fase na vida de Lorde, pois para o público, o álbum é sobre a emancipação de quem Lorde era antes. Ela está finalmente livre das amarras das redes sociais, de um coração machucado e de qualquer outra coisa que a fizesse se sentir presa. Ela aparentava estar em um outro patamar da sua jornada do autoconhecimento. É como Ella diz em sua música: Você pode me alcançar? Não! Não pode. Lorde é enigmática, misteriosa e uma incógnita. Às vezes, acredito que, até pelo próprio nome artístico, a artista seja uma entidade musicista.

Hoje em dia Lorde ainda escreve cartas para os seus fãs. Além das músicas, essa é a forma que a cantora encontrou de falar conosco. Se eu pudesse, escreveria uma carta ou música agradecendo pela companhia nesses 10 anos. A juventude não teria sido a mesma sem Ella.