O olho vê somente o que a mente está preparada para compreender.

(Henri Bergson)

Há quem diga somos limitados e ainda mais achamos que a vida seja um amontoado de lutas onde matamos um “leão” todos os dias. Muito complicado e difícil compreender as manifestações de nossos problemas. Não é mesmo? Ainda mais agora que estamos vivenciando uma pandemia do Covid-19. Reconhecemos que temos dificuldades, que há momentos em nossas vidas para trabalharmos a paciência e a generosidade, mas temos em nós uma força interior para o bem e para busca do equilíbrio, da plenitude e da verdade.

Bem, mas tudo isso ocorre porque nossa mente é finita? Para Nicolau de Cusa, um grande pensador medieval, afirmava que a nossa mente é finita devido a ignorância que temos do infinito.

Para alcançarmos a verdade de alguma coisa o caminho mais utilizado é relacionarmos algo que temos por verdadeiro com algo que temos incerto de ser verdadeiro. Esse método funciona para as coisas finitas que podem ser de fácil ou difícil entendimento. Mesmo se alguma coisa finita é de difícil compreensão, é possível conhecê-la, ainda que não no presente, mas no futuro. O mesmo não acontece com algo que for infinito, pois do infinito não temos com fazermos relações, não temos como conhecer a sua dimensão. Não pode haver simetria entre o finito e o infinito. A mente humana é finita e ignora o conhecimento do infinito. Reconhecer essa incapacidade é a Douta Ignorância, uma das principais teorias filosóficas de Nicolau de Cusa.

(Veja aqui)

Muito interessante, lembrei-me do escritor Irlandês Oscar Wilde quando ele diz que os olhos são inúteis se a mente é cega. Isso demonstra que a nossa mente é maior do que o cérebro. Para escritora russa Helena Blavatsky diz que

Porque a mente é como um espelho; ela acumula pó enquanto reflete. Ela necessita a brisa suave da sabedoria da Alma para afastar o pó das nossas ilusões. Tenta, ó iniciante, unir tua Mente e tua Alma. Evita a ignorância, e evita do mesmo modo a ilusão. Volta o teu rosto para longe dos enganos do mundo; desconfia dos teus sentidos; eles são falsos. Mas, dentro do teu corpo - o santuário das tuas sensações - procura, no Impessoal, pelo “Homem Eterno”; e, depois de localizá-lo, olha para o teu interior.

(Trecho do Livro "A Voz do Silêncio" de Helena Blavatsky)

Acreditamos que precisamos da filosofia para compreendermos os símbolos e o eterno. Damos mais atenção a tudo que é material e esquecemos do inteligível. E por que isso acontece?

Vivemos preocupados com nossas necessidades e alimentamos os nossos desejos, e sem nenhuma preocupação colocamos em segundo plano o espiritual.

Então, qual testamento queremos deixar para a humanidade?

Poderemos lembrar sobre Os versos de Ouro de Pitágoras que traz várias condutas e caminho para o sentido da vida. Os filósofos nos mostram com lucidez o valor do simbólico na condução e condição da vida humana.

Então, seria a mente humana uma espécie de antena entre o céu e a terra? A expansão da consciência é revelada pela nossa maneira de enxergar o mundo e de codificar os símbolos existentes na terra. Hermes Trismegisto diz que "todo o mundo fenomenal ou do universo é simplesmente uma Criação Mental do Todo".

Recordo-me de uma aula que tive com o professor Roberto Benjamin, que na época era Presidente da Comissão Pernambucana de Folclore, onde questionávamos sobre as crenças. Como pode a pessoa estudar tanto, ser tão intelectual, decorar as citações dos autores e não conseguir entender que algumas crenças foram criadas para a manutenção de uma “certa ordem” social? Também trago a inquietação de como pode algumas pessoas levarem nas costas um guarda roupa de lembranças, como se o passado não saísse de seu pensamento, como suas escolhas fossem guardadas em gavetas? Já existem outras pessoas que trazem o futuro, não andam com malas, mas vivem em outro planeta. Como diz o proverbio, nem tanto ao mar, nem tanto ao céu. São pessoas que tem o futuro.

Talvez a mente necessite da compreensão do tempo para amadurecer. Para escritora espiritualista Zibia Gasparetto em seu livro intitulado Pare de Sofrer ditado por Silveira Sampaio:

Amadurecer significa o domínio do pensamento, é poder compreender a vida harmonizando-se com ela, usufruindo benefícios e felicidade completa.

Pois é, quando não sabemos esperar o tempo, o amadurecimento ocorre por utilizamos mais o cérebro do que a mente. Certa vez, quando morava no Recife, no décimo andar, onde da varanda avistávamos pequenos pontos do mar, que oscilavam entre outros edifícios e dava para ver alguma parte desse lindo oceano. Eu tinha acabado de assistir o documentário - Quem somos nós?1 Sobre religião, ciência e física quântica.

Refleti sobre o mundo e sua codificação. Resolvi perguntar a todos que me visitavam, se conseguiam ver o mar da minha varanda. Todos diziam que viam fragmentos do mar do Recife, do bairro Marco Zero. Um dia perguntei a Rosita que não sabia ler se ela conseguia ver o mar da varanda do apartamento. Ele disse que não via mar nenhum. Mostrei de todas as formas, mas ela dizia que não via de jeito nenhum. Então pensei a partir da expansão da mente, expandimos a nossa visão. Quando codificamos os símbolos nossa mente ganha outra dimensão para enxergar o mundo. Precisamos aprender a codificar o mundo, entender a ponte entre o céu e a terra. Valorizar a imaginação.

Afirma o filósofo francês Gaston Bachelard: Imaginar é subir um tom na realidade.

Para tanto, a mente é finita quando não conseguimos expandi-la. Necessitaremos de tempo para tal traquejo. Tive uma chefe que diante de uma atividade me perguntou com veemência: Você veio aqui para repetir o que todo mundo faz?

Pense numa pergunta interessante, fui para casa pensando, não estou criando estou repetindo. Os chefes são necessários para o nosso crescimento mental. Desde então resolvi fazer de novo, uma novidade. Não é fácil reiventar, mas é preciso.

Muitas vezes somos guiados pelos outros, não temos coragem de fazer o que a gente pensa. E por isso, muitas vezes ficamos na inércia. E assim, nossa mente enrijece. Por isso, nossos gestos envelhecem primeiro do que nosso pensamento.

Algumas pessoas possuem mentes infinitas, como o cantor, violonista e compositor carioca Nelson Cavaquinho que maravilhosamente compôs, A flor e o Espinho:

A Flor e o Espinho

Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor.

Eu só errei quando juntei minha'alma à sua
O sol não pode viver perto da lua.

Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu sou espinho
Espinho não machuca a flor.

Eu só errei quando juntei minh'alma à sua
O sol não pode viver perto da lua.

É no espelho que eu vejo a minha mágoa
A minha dor e os meus olhos rasos d'água
Eu na sua vida já fui uma flor
Hoje sou espinho em seu amor.

Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor
Hoje pra você eu…

(Nelson Cavaquinho)

Assim, a mente não precisa de diploma para ser infinita, muito menos de muito dinheiro. Uma mente infinita, não deve guardar o passado nem temer o futuro. Deve estar atenta às leis e aos símbolos. A mente infinita está voltada paro o uno. Cria condições para que todos tenham seu espaço para amadurecer.

Posso até está enganada, mas não é fácil expandir a mente num mundo de hoje, mas não custa tentarmos. Confesso que esquecer o passado sem perder a essência da nossa história e sem temer o futuro é uma tarefa diária.

Nota

1 Sinopse: Amanda (Marlee Matlin) inicia uma experiência no estilo Alice no País das Maravilhas modificando totalmente a monotonia de seu cotidiano. Os tópicos discutidos em Quem Somos Nós? incluem neurologia, mecânica quântica, psicologia, epistemologia, ontologia, metafísica, pensamento mágico e espiritualidade. Muitos físicos quânticos dizem que ainda tem muito o que revelar sobre a Física Quântica. Há muitas possibilidades reais que não podem ser ignoradas pela ciência tradicional que normalmente costuma ignorar o que é considerado irracional.