Imagens. Uma invasão de imagens a toda a hora. Há quem diga romanticamente que as fotografias são canções silenciosas. Mas que silêncios calam? Que gritos mudos abafam ? Álbuns e álbuns de História perpassam todos os dias no écran televisivo chamando a atenção para álbuns de histórias de vidas privadas, cuja memória ainda tem sangue e revolta e angústia agarradas a si. O riso e as lágrimas, mas sobretudo as perguntas sem resposta, encontram-se nessas fotografias. Elas revelam os silêncios das perdas, da saudade, de um fado que acasalou com o pesadelo da morte antecipada ou do desaparecimento sem rasto.

Desde espaços simbólicos de tortura a caras cujos rostos não têm vergonha de afirmar que estão inocentes porque apenas se limitaram a cumprir uma missão ... há de tudo! Imagens indignas de seres que se autodenominam de humanos. Infelizmente os nossos olhos vêem as fotos, os espectáculos de terror, de dor, da tortura mas raramente assistem a imagens de punição. A justiça é arrancada dos nossos olhos. Não a vemos. O peso da cegueira é enorme. Há grades nos olhos de quem devia fazer Direito.

Mesmo por linhas tortas, há que escrever “ Direito”!

Não tenhamos medo de pôr o dedo no ar e manifestar a nossa presença ao vivo. Mais do que imagens sem resposta nós somos testemunhos vivos, responsáveis pelos contextos em que vivemos . Contextos reais de carne e osso, que não podem nem devem ter como intermediários videoconferências ou outras coisas que tais. O confronto entre acusação e defesa no palco dos tribunais é real, não é ficção cinematográfica. Já temos novelas que cheguem! Não façamos da justiça mais uma!

Para que um dia a Lei liberte e não prenda! Para que um dia possamos finalmente olhar as pessoas nos olhos e responder a perguntas como estas:

A quem devo perdoar ?

O que é que devo perdoar ?

Para que a culpa não morra mais uma vez solteira! Para que o princípio da responsabilidade acasale com a ética e com a convicção e a moral se despeça de ditados populares como este:

“Olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço!”.

Será que a cineterapia ajuda neste caso?

Será por este facto fenomenal que na maioria dos casos as obras dos Homens não acasalam com as suas vidas privadas? As fadas e os fados são casais imperfeitos?

Alguns realizadores utilizam a função metafórica do “ver como” que, para além de imaginativa, é uma experiência de pensamento que conduz o expectador ao grande laboratório do imaginário onde explorações do reino do bem e do mal são levadas a cabo! Somos, por isso, através de um caso particular, implicados por uma linguagem que nos fala de um modo universal; uma universalidade que se manifesta concretamente, visto ser um traço comum entre um “eu” como pessoa particular e uma outra situação, ou pessoa particular.

A auto-interpretação e a auto-avaliação fazem parte do meaning-making process.

Existirá, então, uma imaginação ética, moral, que responderá ao nosso sofrimento, aos nossos desejos reprimidos, dilemas, medos, culpas, impulsos e que nos é veiculada através de uma ética-estética narrativa- visual, chamada cinema?