Esta é uma época de mudança e como diria Camões, tomando sempre novas qualidades; neste caso, uma cultura mais orientada para a pluralidade e para a globalidade. Relativamente ao domínio político-religioso, esboça-se uma comunidade multiconfessional e ecuménica, que vai emergindo gradualmente. Assim sendo, a uma mudança histórica de paradigma, corresponderá a emergência de novos valores que vão abranger a vida quotidiana.

Evidente que esta mudança de paradigma vai implicar uma transformação dos valores, por exemplo as referências éticas são indispensáveis a uma ciência responsável. Deste modo, o que deve existir é uma transformação com: imaginação, sensibilidade, emotividade, afecto e humanidade. Para isso, a perspectiva a adquirir deverá ser a holística, uma perspectiva globalizante dos seres humanos para que as utopias se tornem viáveis, como referiu Paulo Valada. No âmbito deste novo paradigma de mudança, de uma espécie de 2º Renascimento, visto que ultimamente, se repararem, ouve-se: re-surgir; re-nascer; re-construir; re-começar; re-aprender; re- visitar, e para que este prefixo seja viável é necessário re- interpretar; fazer uma busca hermenêutica da multiplicidade de concepções de vida heterogéneas; de padrões de comportamento; de sistemas económicos e modelos sociais. A própria Ética poderá tornar-se uma hermenêutica da própria moral; uma interpretação dos costumes, crenças e formas de vida e comportamentos sociais.

A relação harmónica entre o Ser e o Ter passa inevitavelmente pela aplicação da riqueza, que deverá ter como base ideias comuns, estímulos, motivação e sobretudo comunicação.

A sociedade do séc. XXI, com o excesso de seduções consumistas, informações clubistas e partidárias, esquece-se das relações dialógicas que são a base social. Todavia, ter êxito no diálogo implica estar convicto, acreditar nas palavras que estão a ser ditas, implica uma ética de convicção e de responsabilidade, em que toda a humanidade acredite: “um mercado mundial exige um ethos mundial” (Kung, 1990: 72).

Tudo isto implica respeito mútuo e uma autonomia moral, dependentes de um esforço, no sentido do auto-conhecimento, de uma auto e hetero-avaliação, de uma consciência educada, um caminho socratiano “conhece-te a ti próprio e conhecerás o universo e os deuses”, e um caminho confuciano , oriental em que o silêncio é a principal voz donde mensagens sábias podem surgir.

Nesta encruzilhada, o nascente cruza o poente e uma nova luz pode surgir no horizonte; talvez um sol em meia lua! Um plural unificado ao jeito de Fernando Pessoa e uma alteridade conjugada, que permita comparar vivências e normas de conduta; rituais e símbolos que nos orientam desde o berço até à morte.

Mas que Orientes nos orientam, nos bussolam no Ocidente?

1º Debrucemo-nos sobre o Médio Oriente. Olhemos para um dos grandes pontos de viragem na história da sensibilidade humana- para uma enorme mudança de valores. A pergunta que surge é “Aquilo aconteceu realmente?” (Cahill, 2000: 115). Os Israelitas, ao tornarem-se o primeiro povo a viver psicologicamente no tempo real, tornaram-se também o primeiro povo a valorizar o Novo e a receber a Surpresa de braços abertos. Ao fazê-lo, os Judeus subverteram radicalmente todas as outras visões do mundo da Antiguidade.

Note-se que o Passado traz-nos até ao Presente, à primeira parte da nossa Jornada: a dos nossos antepassados. Não se cria apenas literatura, mas relata-se uma história pessoal que ajudou a fazer de nós aquilo que somos (o mito judaico cristão).

Este grande e avassalador movimento, torna, pela 1ª vez, a História real para a consciência humana—o futuro depende daquilo que fazemos no presente—Temos de levar o Eu a sério porque cada momento é único e não - repetível. Esta é a consciência Ocidental. A voz, a luz que nos guia.

Isto vai ser muito importante, na medida em que a educação e a cultura devem ter como última finalidade para o séc. XXI um desenvolvimento centrado no ser humano.

Assim, vejamos como, 2º ponto, o Oriente, em termos de tradição Confucionista, deixou um legado que nos pode ajudar a desenvolver potencialidades (Confúcio, 1992). Confúcio dá particular atenção à educação. Realça mesmo a capacidade da educação para melhorar a sociedade e ensinar a cidadania. O seu ideal político consistia em “governar o estado pelo exercício das virtudes morais”, cujo desenvolvimento competia à educação. Segundo o filósofo, ela é tão necessária quanto o exército para a defesa do país—Aí está uma ideia bastante pertinente nos dias de hoje, em que vemos que a educação e a cultura são os veículos promotores de identidade e coesão nacional. O confucionismo visa o desenvolvimento do indivíduo enquanto ser social, membro de uma família e do conjunto da sociedade. Mas a questão ética é importante e a moral humanista igualmente; o equilíbrio entre os valores e a praxis do quotidiano deve ser um alvo a atingir.

Suscitando uma transformação positiva dos valores culturais em que o individuo tem que ter forçosamente um papel interveniente, activo e metamórfico, germes condutores de uma política ocidental.

Daí: valores universais; uma ética global mas o reconhecimento dos direitos do Homem e sua articulação com as tradições culturais, contextos nacionais e regionais.

Daí: compreensão e tolerância em relação às diferenças e pluralismo culturais.