Lu Nan, mais do que fotógrafo, é um artista de excelência.

A sua dimensão e cultura humanista, s conceitos estéticos que presidiram à preparação dos seus trabalhos, a sensibilidade e respeito com que captou a tremenda realidade apresentada na sua obra, provam-no cabalmente.

A obra de Lu Nan é a projeção moderna (também já datada no tempo) de uma trilogia clássica simbolicamente representada na Divina Comédia de Dante Alighieri. Cada uma das suas partes são, igualmente, projeções exemplares do que pode ser, na Terra, o Inferno, o Purgatório e o Paraíso.

A única diferença é que as fotografias que compõem as três partes da Trilogia de Lu Nan – uma retratando a vida dos hospitais de doenças mentais (realizada entre 1989 e 1990), a outra acompanhando as comunidades católicas nas zonas rurais e mais recônditas da China (1992 a 1996) e a terceira que o levou a acompanhar a vida quotidiana do Tibete (1996 a 2004) – não são parte de uma qualquer fantasia nem contêm as alegorias desse poema imortal do famoso poeta florentino.

O trabalho que Lu Nan realizou ao longo de 15 anos – e que parcialmente é mostrado nesta exposição – é de um realismo por vezes doloroso, que impressiona, que marca os nossos olhos e fica registado por muito tempo nas nossas memórias. É a China de uma época talvez já diferente da atual, como bem poderia ser a realidade de muitos outros países e lugares por esse mundo fora.

Esta exposição é um tributo ao trabalho de Lu Nan e um sinal de imenso respeito pelo Homem que soube, com elevação e coerência, preparar, executar e concluir um projeto de uma enorme dimensão, quase épica, que não está ao alcance de qualquer um.