“A consciência é meu guia.
A paz é meu abrigo.
A experiência é minha escola.
O obstáculo é minha lição.”
(Chico Xavier)

O conhecimento se adquire nos bancos universitários e está acessível a quem quer que consiga ingressar em uma universidade. Já a sabedoria é para poucos e se adquire com a vida. Para tanto não é exigido qualquer diploma, apenas alguns atributos da alma. Perspicácia. Acuracidade na visão. Respeito ao semelhante. Vontade de superar os próprios limites. Busca do sentido da vida. Compromisso com a verdade. Rompimento do pacto com prazeres fugazes... Entre outros. Nesse sentido, as palavras de Chico Xavier, sem dúvida um sábio e uma grande alma, são argutas e nos oferecem vasto subsídio para reflexão.

Sobre as agruras com que nos deparamos em nossa existência, na maioria das vezes procuramos atribuir-lhes causas e justificativas exteriores a nós. Em geral, a “culpa” é de nossos pais, do regime político, da expropriação de menos-valia do capital, da condição de exploração do mais forte pelo mais fraco, das desigualdades sociais ou simplesmente da própria sorte. Sem dúvida, são fatores estes que exercem influência sobre nossa vida, mas que a partir do momento que assumimos o papel de adulto e nos apropriamos de nossa existência, ficam os mesmos relegados a um grau de importância secundária. A consciência passa a ser então o nosso guia, o fiel da balança, o grande balizador que, diante das circunstâncias, nos auxilia a ponderar prós e contras e a avaliar qual a melhor atitude a ser tomada. Estreitamente ligada à consciência está nossa capacidade de escolha e livre arbítrio. Desde que nos tornamos “donos” da própria vida, passamos a olhar o mundo e as coisas sob uma nova dimensão e fica muito difícil continuar responsabilizando terceiros por nossa infelicidade.

O mundo, a sociedade com suas contradições, passam a ser então um grande “laboratório”, um campo de provas à nossa disposição, que nos oferece a possibilidade de realização se estamos dispostos a testar nossos limites e nossa capacidade de ação. “Como vou intervir no mundo de forma a realizar meus desejos e satisfazer minhas necessidades?” Esta é uma questão crucial e um grande desafio. Muitas vezes agimos às cegas, e vamos fazendo tentativas por ensaio e erro. Até que descobrimos que se lançamos mão de uma estratégia (isto parece óbvio), nossa intervenção no mundo tem maior probabilidade de acerto e sucesso. Na medida em que vamos aprimorando nosso plano para que a intervenção seja mais precisa, vamos ao mesmo tempo nos auto-afirmando e encontrando nosso lugar no mundo, que não é nem melhor nem pior que o de nosso semelhante.

A experiência é minha escola”. Para aprender com a experiência é necessário, antes de tudo, “baixar a crista” e admitir que não estamos prontos e acabados e que há muito por aprender. Um ego muito grande ocupa por demais espaço e impede a visão das coisas como elas realmente são. Para o bom desempenho da tarefa se faz necessário afinar os sentidos - apurar a audição, sentir o cheiro das coisas, olhar o cenário com olhos de águia, sentir o que o outro sente - e ainda, ser capaz de ler nas entrelinhas, pois há sempre um texto e um subtexto a ser decodificados. No que isto me ajuda a crescer? No que isto me torna melhor ou pior? No que estou contribuindo para o crescimento de meu semelhante? São perguntas constantes a ser feitas. Somente então estamos prontos para “passar de ano”.

O obstáculo é minha lição”. Sim, uma grande verdade. O aspecto em que se faz necessária a lapidação de nosso espírito nos é apresentado na condição de obstáculo a ser superado. Não nos preocupemos. As circunstâncias da vida se encarregam disso. Assim, enquanto suamos a camisa no furor do desempenho da tarefa, silenciosa e paulatinamente vai se processando a alquimia do ser.

Na grande escola da vida a lição de se tornar um adulto, e como tal apresentar respostas consistentes e coerentes diante dos desafios da vida, talvez seja a mais difícil de todas. Assim, é comum encontrar pessoas que já estão avançadas na contagem cronológica de seus anos, mas que continuam tendo um comportamento pueril.

Supostamente, o maior obstáculo à primazia da ação pela via da consciência seja o desafio de abrir mão de confortos ilusórios e prazeres fugazes, e o mais difícil deles seja justamente abandonar a preguiça. A lei da inércia é de fato muito atraente para o ser humano, pois o menor esforço é sempre o meio mais fácil de chegar-se ao destino das coisas.

E para aqueles que conseguiram perfazer o caminho estreito e vencer a aspereza dos obstáculos da vida, cabe-lhes finalmente usufruir do “abrigo da paz”, embora fatigados. Uma qualidade de conforto e ganho até então desconhecidos.

O merecido repouso, abrigo de poucos.