Prazer, aqui quem vos fala é a Mayra. Brasileira e paulistana. Nasci aos dezenove dias de um janeiro quente do ano de 1983, segundo a minha mãe. Aos 6 anos de idade quis uma companheira e implorei por uma irmã, escrevi uma carta elaborada e fui atendida. Hoje entendo que fui induzida, já que a gravidez da minha irmã já estava em andamento. O que uma mãe não faz, não é mesmo?
Minha família é pequena e do interior de São Paulo, mas meus pais vieram para a cidade grande com o objetivo de terem mais oportunidades. Meu pai abriu seu escritório de Contabilidade após muitos percalços e minha mãe, professora, decidiu cuidar da família. Meus pais nos proporcionaram tudo o que estava ao alcance deles. Uma ótima educação, moradia e saúde.
Prestes a completar 18 anos e entrar na faculdade, eu precisava decidir um rumo para a minha vida. Parece que temos que seguir um certo script para a vida adulta: com certa idade temos que estar formados, com certa idade temos que estar casados, com certa idade temos que ter atingido certo sucesso profissional e por aí vai. E parece que o meu destino estava mais do que apresentado, eu me formaria em Ciências Contábeis e daria sucessão ao escritório do meu pai. E assim o fiz.
Cursei os quatro anos da faculdade de Ciências Contábeis e, durante o curso, fiz grandes amizades, conheci o meu parceiro de vida e aprendi como lidar com a vida adulta. Comecei a trabalhar no escritório do meu pai e construí a minha carreira lá dentro do escritório. Porém demorei a entender que não era feliz ali.
Ao terminar a faculdade decidi fazer um intercâmbio no Canadá mesmo com toda a minha timidez, o que foi ótimo pois pude conhecer outras de mim. Em 2008, me casei e em 2010 tive meu primeiro filho. Já nessa primeira licença maternidade algo dentro de mim dizia para não voltar ao escritório, mas não dei força a essa voz. Naquele tempo, não existia redes sociais para me fazer companhia então experimentei a solidão do maternar em cada mamada e entre cada soneca do meu filho.
Foi nessa solidão que dei chance para os livros me fazerem companhia. Eu que tinha uma mãe que era uma leitora voraz e que ostentava uma biblioteca em casa, foi só na vida adulta na loucura que uma mãe de primeira viagem vive que fui olhar com atenção para um livro pela primeira vez. Claro, na escola fiz as leituras obrigatórias, mas não com o olhar de leitora como tenho hoje.
Quando o meu segundo filho chegou, em 2013, eu já estava tão imersa no mundo dos livros que já tinha aprendido o que funcionava para mim como hábito de leitura, já participava de clube de leitura e de assinatura de livros. Foi quando aquela voz lá de trás que me dizia para não voltar ao escritório de contabilidade começou a ganhar força e comecei a escutá-la. Não voltei para o trabalho de contadora e meu marido, ao ver todo o meu encantamento com os livros, me encorajou a fazer uma segunda graduação.
Foi um longo processo até eu entender que eu podia fazer uma segunda graduação, pois eu não estava seguindo o script necessário da vida ideal. Afinal, com essa idade eu já deveria ter atingido um certo patamar profissional e agora eu me deparava com uma rescisão contratual e uma possível mudança de carreira. E eu disse sim, depois de anos amadurecendo que eu podia recalcular a minha rota.
Em 2021, decidi começar a cursar Letras muito mais para mergulhar no universo da literatura do que para aprender regras gramaticais. Eu consegui estagiar em duas instituições de ensino de renome aqui no Estado de São Paulo mas sempre quis atuar onde houvesse literatura, onde se fala sobre literatura.
Eu acabei de me formar em Letras e tenho planos de fazer Mestrado e Doutorado. Amo viajar, assisto muitos filmes e séries, sou movida pela música, adoro visitar um museu e meu objetivo aqui na MEER é compartilhar o meu olhar sobre tudo isso com os leitores, além de mostrar que é possível recalcular sua rota a qualquer momento e que a literatura é transformadora.