Recentemente eu estive em Belém do Pará de férias com o meu marido e meus dois filhos. Era o mês de julho e tiramos uma semana de descanso. Eu sou apaixonada pelo Brasil em tudo o que o país proporciona, seja pelas paisagens ou pela comida e desconfio que esteja com o objetivo silencioso de dar um check nas belezas do meu próprio país.

O nosso roteiro incluía ficar uns dois dias na capital, Belém, depois pegar um vôo para Santarém. Em Santarém pegaríamos um transporte para Alter do Chão, um distrito, pois teríamos um roteiro abarrotado de natureza amazônica durante quatro dias. Depois disso, seria o retorno: transporte de Alter do Chão para Santarém, vôo de Santarém para Belém, um dia em Belém e então Belém para São Paulo. E aí, lidar com a rotina. Tudo correu dessa forma.

Oi, Belém! Tudo bem? Você me conquistou demais…

A cidade de Belém está caótica pois estão organizando a COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima) que acontecerá na cidade no mês de novembro. Muitos projetos foram e estão sendo colocados em prática, portanto parques entre outros foram levantados. Empreendimentos lindos, que realmente enchem os olhos. Isso traz aquela desordem de “desarrumar para arrumar”, mas nada que atrapalhasse nossas idas e vindas pela cidade.

No primeiro dia fomos ver o pôr do sol na Estação das Docas, um complexo instalado em galpões de ferro ingleses do século 19 restaurados à margem da Baía do Guajará. Lá pudemos degustar de cervejas artesanais com deliciosas iscas de peixe frescas e petiscos próprios da região e depois desfrutarmos de um sorvete artesanal de frutas típicas da Amazônia.

No dia seguinte visitamos o Mercado Ver-o-Peso, um complexo comercial que concentra todas as mercadorias que chegam de todos os lugares do Estado. Você encontra produtos da floresta e do rio e se perde pelos aromas e sabores, além de querer trazer para casa um pouco de tudo do que vê ali. Percorremos por pontos importantes da Cidade Velha até o Complexo Feliz Lusitânia.

Nossa parada para o almoço foi em um restaurante com o típico açaí. Para quem não sabe, aqui em São Paulo comemos o açaí que vem da Amazônia, porém como polpa congelada e consumimos como sobremesa adicionando coberturas como leite em pó, confeitos, frutas picadas etc. No Pará, o açaí é consumido natural somente adicionando farofa como parte da refeição diária e junto com a proteína da refeição.

Fechamos o dia com o passeio no Mangal das Garças, um parque na margem do rio Guamá de aproximadamente 40.000 m2 totalmente revitalizado e que concentra o Farol de Belém, um Borboletário, o Museu Amazônico e o Mirante do Rio. Além de abrigar diversas espécies além das garças. E, por fim, passamos na Basílica de Nazaré, onde acontece o Círio de Nazaré, uma grande festa religiosa e cultural que reúne fiéis todos os anos e dura cerca de duas semanas em outubro.

Uma curiosidade é que em Belém sempre chove por volta das 14h30. Isso acontece devido à sua localização ser próxima à linha do Equador e ao Oceano Atlântico e o calor do dia associado com a alta umidade faz com que aconteça uma condensação de vapor d'água e a formação de nuvens muito carregadas provocando chuvas pesadas, porém não tão longas.

Alter do Chão prometeu tudo e entregou mais um pouco!

Depois de dias incríveis em Belém, repletos de curiosidades e fatos históricos, seguimos rumo a Alter do Chão. Eu acho que não saberei colocar em palavras o que vi lá, pois a natureza é soberana e majestosa em um nível que preenche nossa alma e nossos olhos e, por mais que tentemos captar com a melhor das câmeras fotográficas, jamais conseguiremos. Imagine colocar em um texto todo esse sentimento?

Começamos por um passeio chamado Floresta Encantada. Um passeio de canoa na área de igapó, uma floresta que está inundada pelas águas do Lago Verde. Com isso, a água fica refletida com as imagens das árvores criando uma cena espelhada. A sensação se aproxima de como se você estivesse entrando em um quadro e você pode escolher pela duração de trinta minutos ou uma hora e ser agraciado de no final ter a parada para um mergulho.

Uma trilha de mais de 10km na Floresta Amazônica entre as enormes sumaúmas, seringueiras, açaízeiros, andirobas, mognos e cedros com direito a observarmos bichos-preguiças e macaquinhos. Isso só se você acessar a Comunidade Jamaraquá, localizada na Floresta Nacional de Tapajós e no meio da trilha, se refrescar dando um mergulho nas águas claras e geladas do igarapé (riacho que nasce na mata e deságua no rio).

Conhecemos a Comunidade Coroca, localizada na beira do rio Arapiuns. Uma comunidade ribeirinha dedicada à preservação das tartarugas da Amazônia e na produção artesanal de mel. Há uma loja de artesanato de folha do tucumanzeiro e há diversos produtos, desde porta-copos até bolsas e cestos. Produtos lindíssimos e muito bem feitos.

Todos os dias pegávamos lancha para nos deslocarmos do hotel até o passeio que estava marcado para o dia, via rio Tapajós e o fim do passeio se dava com um pôr do sol magnífico antes de retornar para o hotel. O rio Tapajós é enorme a ponto de não vermos o outro lado da margem e muitas vezes acharmos que estamos em alto-mar. O que me fez refletir diversas vezes é que em todos os momentos, em meio aquela natureza exuberante: eu, meus filhos e meu marido estávamos totalmente em silêncio, contemplando aquela natureza que de certa forma conversava conosco. Ou nos fazia realmente ficarmos calados, apenas se mostrando para nós.

Os pontos altos da viagem

Houve alguns passeios que, a meu ver, foram os pontos altos da viagem e que eu não citei durante o meu relato pois achei que mereciam destaque. Um é em Belém, o Theatro da Paz, fundado em fevereiro de 1878, durante o período em que os Barões da Borracha comandavam a cidade. Belém durante anos foi considerada a Capital da Borracha.

É uma construção imponente e a visita é conduzida por um guia com um grupo pequeno. A inspiração para a construção do teatro vem do Teatro Scala de Milão e foi projetado pelo militar José Tibúrcio de Magalhães. Mais tarde, houve a necessidade de algumas reformas e então o responsável pela decoração interna foi o pintor e decorador italiano Domenico De Angelis. O Theatro da Paz é repleto de referências amazônicas, indígenas e gregas, além de representar uma pirâmide da sociedade da época dentro do teatro. Até hoje acontecem apresentações neste teatro. É uma verdadeira obra-prima.

Outro ponto alto foi fazer uma degustação de vitória-régia. Sim, a planta aquática. Eu jamais imaginei que desse para comer. Mas fomos até a casa de palafita de uma senhora, que estou apaixonada nela até agora, um amor de pessoa, e ela nos serviu porções de diversas maneiras: tanto doce quanto salgado. Spoiler: uma delícia!

Por último, mas não menos importante, por indicação da dona do hotel que estávamos, participamos de um evento chamado PIRARIMBÓ. Esse nome é a junção das palavras Piracaia (peixe assado na praia) e Carimbó (ritmo paraense que é composto por tambor e maraca - espécie de chocalho, com a voz marcante do cantor e a dança das mulheres que nos hipnotiza com o movimento das suas saias coloridas). A dança do Carimbó tem como referência os movimentos da natureza.

Tudo acontece em uma ilha que fica a cerca de dez minutos de lancha do centro de Alter do Chão com o início programado para as 20h. Chegando na ilha, fomos recepcionados pelo grupo Katuá de Carimbó e durante todo o evento, nos foi passado um pouco da cultura como os mitos amazônicos, nos ensinaram a dançar Carimbó e uma pausa estratégica para o jantar farto e saboroso.

Foi tão mágico e me senti tão privilegiada de ter a oportunidade de estar naquele lugar que eu não vi o tempo passar. Mergulhei nas histórias, nos sabores, nos ritmos, nas cores e nos aromas. Vivi com intensidade!

Uma explicação

Para quem não conhece, a Joelma citada no subtítulo é uma cantora, dançarina, coreógrafa, compositora e empresária paraense. Conhecida por divulgar a cultura do seu Estado através da sua música e da sua dança, emplacou como grande sucesso a música “Voando pro Pará” onde cita os grandes pontos turísticos de Belém num ritmo muito envolvente. O Tacacá citado na música, é um prato típico feito com tucupi (caldo extraído da mandioca e passa por um processo de fermentação e cozimento), jambu (planta que causa sensação de dormência), goma de tapioca e camarão seco.